Por que o petróleo não declinará tão naturalmente

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Novos estudos sugerem que para melhorar a matriz energética do planeta, não adianta torcer pela geologia: é preciso ação política

Ao longo da última década, uma chama de otimismo fácil difundiu-se entre parte dos movimentos ecológicos e por justiça social. Os dados disponíveis sugeriam que estávamos diante do chamado “pico do petróleo”. A produção do combustível havia estagnado e os preços subiam astronomicamente. Algumas previsões falavam que os estoques mundiais eram suficientes para apenas algumas décadas. A busca de energias limpas era quase uma fatalidade.

Dados recentes estão indicando que esta aposta é arriscada demais. Há semanas, o jornalista ambiental britânico George Monbiot lançou o alerta. Ele apoiou-se, num paper de Leonardo Maugeri, ex-executivo da indústria petroleira, publicado pela Universidade de Harvard, com base em farta pesquisa.

O que Maugeri demonstra, diz Monbiot, é que o chamado “pico do petróleo” nada tinha a ver com geologia, mas com economia. Durante décadas, e até por volta do ano 2000, os preços do barril estiveram muito deprimidos. Eles inibiam a exploração de jazidas localizadas em áreas pouco acessíveis — tanto no fundo dos oceanos, quanto em terra –ou de qualidade (e índice de aproveitamento) mais baixos.

Este quadro mudou, contudo, nos últimos anos. Tornou-se evidente que os preços irão se manter de forma duradoura em torno de 100 dólares por barril. E cotações a partir de U$ 70 tornam rentáveis investimentos para sondar e explorar reservas antes intocadas. É o caso, por exemplo, do pré-sal brasileiro, cuja exploração tornou-se viável graças a vastos investimentos da Petrobras em tecnologia de produção em águas ultra-profundas.

O estudo de Maugeri revela que há muitas áreas em condições semelhantes, em todo o mundo. Surgiu, em consequência, um boom de investimentos. Só em 2012, cerca de 600 bilhões de dólares — o equivalente a um quarto do PIB brasileiro — serão aplicados no setor. Este esforço permitirá que a produção mundial amplie-se em 49 milhões de barris  por dia, até 2020. Mesmo descontando as jazidas que se esgotarão ou entrarão em declínio, haverá uma aumento líquido de produção de 17,6 milhões de barris por dia (equivalente a quase oito vezes a produção brasileira atual).

O gráfico acima registra, segundo Maugeri, as perspectivas de extração, país por país. Exportadores tradicionais, como Irã, México, Reino Unido e Noruega, declinarão. Mas Iraque, Estados Unidos, Canadá, Brasil e Venezuela compensarão com folga seu papel.

A transição das economias baseadas em petróleo para outras, que empreguem energias limpas, continua sendo um objetivo perfeitamente possível, frisa Monbiot. Desde que as sociedades não esperem, da geologia, a ação que cabe a elas próprias.

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2 comentários para "Por que o petróleo não declinará tão naturalmente"

  1. Milton Gumaraes disse:

    O interessante nesta matéria é que nao faz referencia as descobertas recentes na Venezuela. A OPEP as considerou as maiores reservas do mundo.

  2. Essa é a minha discrepância com os ecologistas e suas ingenuidades: se o modelo de produção não mudar, a sustentabilidade que defendem não chegará nunca.

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