Para um estudo não-convencional das artes plásticas

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Livro propõe ir além das especializações técnicas e examinar produção artística da humanidade no contexto das estruturas sociais e sua mudança

Por Jeosafá Gonçalves

E se o ensino de arte nas escolas não for apenas uma atividade cosmética, de menor importância no âmbito do currículo e das práticas docentes? As Artes Plásticas na Formação do Professor, primeiro livro de Mazé Leite, parte desta pergunta provocadora. Ao longo de 306 páginas, a obra sugere um roteiro para que, assim como História, Geografia, Literatura ou Teatro, o estudo da pintura, desenho, gravura, fotografia e outras artes visuais avance muito além das especializações técnicas que empobrecem a visão do ser humano e das sociedades como um todo.

A autora, artista plástica e pesquisadora de história da arte, faz um recorte necessário. A História da Arte abrange um período vasto, que vem desde os primeiros desenhos e inscrições rupestres em cavernas e em pedras, há mais de 20 mil anos. Ao longo da história da humanidade, a arte vem ocupando um papel fundamental em sua vida social e individual.

Mazé Leite levantou algumas ideias sobre períodos tão diversos que vão da Grécia antiga ao barroco holandês, das figuras da Commedia dell’Arte italiana ao carnaval de rua. No capítulo 1, por exemplo, ela vasculha os tempos remotos em que os homens garatujaram seus sonhos, medos e deslumbramentos nas paredes das cavernas. Porém, sem perder de vista que esse homem é um personagem mutante, comparecem em suas análises elementos de sociologia, considerações sobre as estruturas sociais pelas quais os indivíduos lutaram ou contra as quais se insurgiram.

No segundo capítulo, a autora apresenta ao leitor as possibilidades de acesso ao patrimônio imaterial da humanidade, que pode estar reunido em museus, mas também distribuído pela paisagem urbana (que o digam a cidade italiana de Florença, verdadeiro museu a céu aberto, e, no Brasil, as cidades históricas mineiras).

No terceiro capítulo, a autora reflete sobre métodos e técnicas empregadas pelos artistas para expressar emoções e sentimentos, a partir de diversos formatos de texto. Aqui, não se está no domínio exclusivo das artes plásticas, mas na dimensão dela que faz fronteira não com os saberes do especialista, mas com o do observador, do leitor de obras visuais.

Porém, todos sabem quanto os artistas desenvolvem verdadeiros idiomas próprios para comunicar-se. Por isso, Mazé Leite, no quarto capítulo, visita importantes artistas plásticos europeus, americanos – inclusive brasileiros – e orientais. Dos clássicos aos contemporâneos, o leitor tem em mãos aspectos biográficos, estéticos e mesmo filosóficos mobilizados por esses artistas para expressar seu tempo ou negá-lo.

Em todos os capítulos do livro, história e sociedade se encontram, oferecendo, além de boa leitura, possibilidades para trabalho do professor em sala de aula ou fora dela. Nas análises, apoiadas em forte bibliografia de pesquisa registrada ao fim do volume, há abundante manancial de informações, reflexões e opiniões, a partir das quais o leitor poderá formular as suas próprias.

Referência:

As artes plásticas na formação do professor – uma perspectiva interdisciplinar. De Mazé Leite. Editora Plêiade. São Paulo. 306 páginas. R$ 44

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