Para compreender a crise europeia (I)

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No acordo dos bancos centrais para evitar pânico financeiro, mais um sinal da hipocrisia por trás dos “planos de austeridade”

Depois de semanas de baixas e tensão permanente, as principais bolsas de valores do mundo viveram, ontem, uma euforia fugaz. Alguns dos principais bancos centrais do mundo (EUA, Europa, Japão, Inglaterra, Suíça e Canadá) anunciaram um acordo raro, que permitirá transferirem sem formalidades, entre si, imensos volumes de dinheiro.

A medida destina-se a afastar uma ameça que assombra a oligarquia financeira mundial: a quebra de um grande banco europeu poderia desencadear perdas em cadeia, provocando novas falências e espalhando pânico no sistema. A intervenção evitará o pesadelo por apenas alguns dias, como se verá adiante. Mas puxa o fio de uma meada. Torna possível examinar alguns aspectos da crise que permanecem ocultos, em grande medida por cumplicidade dos grandes grupos de mídia.

O primeiro: quando se trata de evitar que os bancos sofram perdas, o discurso em favor da “austeridade das contas públicas” é rapidamente esquecido. Ontem, em meio ao anúncio do acordo inter-BCs, revelou-se que o Banco Central Europeu (BCE) emprestou, só nas últimas semanas, 265,5 bilhões de euros às instituições financeiras. É mais do que o dobro do valor oferecido (€ 109 bi) para o “resgate” da Grécia.

Para receber os recursos, os gregos foram submetidos a redução de direitos sociais, desmonte dos serviços públicos, rebaixamento de salários e privatizações em massa. Os recursos são liberados em pequenas prestações de € 11 bilhões, para que seja possível verificar o cumprimento das exigências ou mesmo ampliá-las. Já os bancos e seus dirigentes estão dispensados tanto de sacrifícios quanto de oferecer certeza de pagamento. Também ontem, antecipou-se que, em 8 de dezembro, o BCE decidirá ampliar o prazo dos empréstimos e o leque de títulos que receberá dos bancos, como garantia. “Ou seja, aceitar títulos pior qualidade e maior risco”, admitiu hoje o jornal Valor Econômico.

Mesmo assim, os desequilíbrios do sistema financeiro o mantêm sob ameça. A medida de ontem era necessária porque, embora fartamente abastecidos de euros, alguns bancos europeus estão encontrando dificuldades também para saldar suas dívidas em dólares. Graças ao novo arranjo, receberão a moeda norte-americana das mãos prestimosas do BCE.

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