Europa em crise (III): entre o péssimo e o pior

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Reunidos até sexta-feira em novo encontro de cúpula, chefes de Estado parecem limitar-se a duas opções: grave retrocesso antidemocrático ou crise financeira devastadora

Esta manhã (8/12), poucas horas antes de começar em Bruxelas mais uma reunião dos governantes do Velho Continente, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um conjunto inesperado e dramático de medidas. O objetivo evidente é evitar o risco de uma grande falência financeira, que poderia levar ao naufrágio uma reunião já muito difícil. Nas últimas horas, esta ameaça cresceu de forma inédita (veja porque).

Este fato novo embaralha as perspectivas da cúpula da União Europeia (UE). Nos últimos dias, os governos e correntes mais conservadoras haviam começado a costurar um acordo, que pretendem ver sacramentado na reunião. Ele foi desenhado nesta segunda-feira (5/12), em Paris, numa reunião entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Significa obrigar as sociedades europeias a sacrifícios novos e inéditos, para ampliar os ganhos (e manter a “tranquilidade”) dos mercados financeiros. (Veja relatos aqui: 1, 2, 3)

As linhas principais do acordo são as seguintes:

a) Obriga-se os países-membros da UE a mudanças constitucionais. Eles deverão incluir em suas Cartas “cláusulas de ouro” que limitam o direito a definir seu próprio Orçamento. A UE definirá mecanismos que garantam a transferência de recursos aos credores da dívida. Os investimentos sociais, a manutenção do Estado de bem-estar social e dos serviços públicos tornam-se objetivos secundários e subordinados;

b) Assegura-se que os interesses dos credores privados serão inteiramente preservados, caso a UE estabeleça um plano de “resgate” de um país em dificuldades. É uma retrocesso inclusive em relação ao que houve recentemente na Grécia, onde se aplicou uma tímida redução dos ganhos dos credores;

c) Atendidas estas condições, os governos agirão para reforçar o Instrumento Europeu para Estabilização Fiscal (EFSF, em inglês). Ele poderia reunir até 1 trilhão de euros, o que seria suficiente para “isolar” os países sob ataque e impedir que a crise se propague.

Durante três dias, o pré-acordo de Merkel e Sarkozy foi recebido com júbilo pelos mercados. Os juros pagos pela Espanha e Itália cederam ligeiramente. Mas desde ontem à tarde, a situação voltou a turvar-se. Aparentemente, os aplicadores passaram a considerar que é insuficiente mudar a Constituição dos países endividados. A pressão sobre papéis italianos e espanhóis voltou aos antigos patamares e as bolsas de ações estão em forte queda, hoje. As medidas adotadas às pressas pelo BCE parecem indicar emergência: informação de que, se não adotadas, um fato muito grave era iminente.

De qualquer forma, a esta altura, a reunião dos governantes europeus parece ter apenas dois resultados possíveis: ou uma submissão ainda mais profunda dos 99% aos interesses do 1% mais rico; ou a preparação de um terremoto financeiro cujas proporções podem ser bem superiores às da quebra do Goldman Sachs, em setembro de 2008.

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Um comentario para "Europa em crise (III): entre o péssimo e o pior"

  1. JULIO SPÍNOLA disse:

    NÃO SERIA MAIS FÁCIL AOS PAISES SE UNIREM E BOTAR SOB BARRAS ESTES ESPECULADORES DO DINHEIRO FALSO?
    75 VEZES O PIB DO PLANETA “VALEM” SEUS PAPÉIS.
    Ou seja: conseguiram emitir 75 vezes mais dívidas(que nada compraram ou produziram) do que tudo que compramos e vendemos no planeta em um ano.
    Papéis inflacionados às alturas que nada valem como meio de troca pois, não pode se comprar no botequim da esquina ou no supermercado com uma cédula ou letra de cambio de um bilhão.
    Estas dívidas que nada valem foram usadas para garantir(alavancar) outras dívidas que também nada valem.
    A única garantia destes papéis é o consenso entre eles de que nada pode garantir tudo ou que papéis sem nenhum valor, que ninguém os resgatará, possam garantir alguma coisa.
    No caso de uma crise bancária como houve no Brasil de
    F HC, o governo tem como obrigação garantir o funcionamento da economia.
    Como fazê-lo? Simplesmente, socorrendo, após intervenção nos bancos para fins fiduciários ou de garantias, já que só os governos têm credibilidade para o fazer, as pequenas poupanças dos contribuintes e dos pequenos negócios já que estes manterão a microeconomia do botequim, do supermercado e ao final a macroeconomia funcionando, mesmo que de forma precária.
    Se os títulos destes jogadores do BANCO IMOBILIÁRIO SÊNIOR, (em alusão aos nosso brinquedo de infância) fingem-se de mega trilionários , “possuindo” uma riqueza 75 vezes maior do que a economia do próprio planeta.
    FOI LEGAL ESTA EMISSÃO DE DIVIDA? QUANDO ESTES SENHORES A EMITIRAM, NÃO JÁ SABIAM DE ANTEMÃO QUE SUAS GARANTIAS ERAM FALSAS?
    QUE PAGUEM SEU PREÇO DEPRECIATIVO, NÃO AS NAÇÕES!
    NÃO SERÁ MAIS FÁCIL UM CONSENSO PARA POR UNS MILHARES DE FALSÁRIOS A FERROS DO QUE CONVULSIONAR TODO O PLANETA?

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