Cotas sociais e raciais: votação retomada esta tarde

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Sessão do STF suspensa após voto do relator. Estudante negra relata humilhações que sofreu no início das políticas afirmativas, quando preconceito era mais forte

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Uma das centenas de manifestantes que compareceram ontem diante do Supremo Tribunal Federal (STF), para acompanhar o julgamento das quotas raciais tinha uma história reveladora para contar. A gaúcha Márcia Morais foi uma das primeiras estudantes beneficiadas pela nova política. Ela relatou à Agência Brasil que ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2006, graças a decisão de reservar 20% das vagas para afrodescendentes. Foi humilhada de cara.

Alguém pichou, no campus da UFRGS, a frase: “Voltem pra senzala”. Pouco depois, quando candidatou-se a um intercâmbio no Instituto de Estudos Políticos de Paris (a Sciences Po), Márcia foi desestimulada por um professor, que questionou sua capacidade intelectual para frequentar a universidade. Ela não desistiu. Aprovada na Sciences Po, defende hoje dois mestrados. Organizou no instituto a primeira Semana da Consciência Negra. Fez questão de manifestar-se ontem.

Muito comuns na mídia, há cinco anos, manifestações preconceituosas como a do docente da UFRGS agora são raras. Os jornais recuaram, temendo isolar-se. Quase não noticiaram o início, ontem, da reunião em que os ministros do STF julgarão pedido de um partido (o DEM), da federação das escolas particulares e de um estudante, que consideram as cotas inconstitucionais.

Entre os manifestantes, a rejeição destes recursos — ou seja, a declaração definitiva de que a Constituição permite políticas de promoção da igualdade — é considerada certa. O primeiro voto confirmou esta expectativa. Foi proferido pelo ministro que relata a matéria, Ricardo Lewandowski. Em seguida, a sessão foi suspensa, para recomeçar às 14h desta quinta (26/4). Que acompanhá-la ao vivo terá, muito provavelmente, a oportunidade de acompanhar um fato histórico, pequena parte da luta para que a sociedade brasileira liberte-se da relação Casa Grande X Senzala, que a oprime há cinco séculos.

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