Unesco: a Palestina presente

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Por ampla maioria, comunidade internacional celebra incorporação. Israel e os Estados Unidos, isolados, articulam reação provocadora e envolvem Irã

Durou pouco a “trégua” diplomática entre palestinos e israelenses, que culminou com a troca de um soldado israelense — mantido por mais de cinco anos em cativeiro na Faixa de Gaza (pelo Hamas) — por um grupo de aproximadamente mil prisioneiros palestinos, que se encontravam em cadeias de Israel, acusados de terrorismo e crimes políticos.

Em 31 de outubro, a Unesco (agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) decidiu pela adesão da Palestina como membro de pleno direito. A decisão foi celebrada pela comunidade internacional, coroando os esforços diplomáticos que vêm sendo empreendidos pela Autoridade Nacional Palestina para ver o Estado Palestino reconhecido pela ONU.

A despeito da forte oposição de Israel, dos Estados Unidos e do descrédito do próprio Hamas (partido que dirige os palestinos na Faixa de Gaza), a ANP persiste no intento de ver a Palestina reconhecida como Estado frente à Organização das Nações Unidas. Ignorando o veto prometido pelos Estados Unidos, planeja pleitear a adesão como membro em outras agências internacionais como parte de sua campanha pelo reconhecimento.

As reações americana e israelense foram imediatas. Evocando lei federal que “obrigaria” o país a cortar o financiamento a qualquer agência da ONU que incorporasse palestinos antes de um acordo de paz, os EUA suspenderam suas contribuições à Unesco, num calote avaliado em cerca de US$ 60 milhões. Israel, por sua vez, acelerou a construção de novas colônias de ocupação na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, além de declarar que congelará a transferência da receita proveniente de impostos para a Autoridade Palestina – que é fortemente dependente destes valores para subsistir.

Representantes dos dois países lamentaram a decisão da UNESCO – que teve 107 votos a favor, apenas 14 contra e 52 abstenções. Afirmam ser “prejudicial ao objetivo compartilhado de uma paz completa”. O discurso de indignação ressalta que a Unesco supostamente não teria legitimidade para admitir um Estado não reconhecido pela ONU como membro. Despreza o fato de que a aprovação por parte da ampla maioria dos países que ocupam posição na organização possa indicar legitimação, em uma ordem internacional que se pretende democrática.

Enquanto novos desdobramentos são aguardados, há uma escalada de tensões na região — inclusive com o envolvimento do Irã, sempre às voltas com suas ameaças à Israel. Especulações sobre o programa nuclear iraniano e sobre uma possível invasão ou ataque ao país de Mahmoud Ahmadinejad voltam a ocupar a mída internacional. A divulgação de um relatório inconclusivo, por parte da Agência Internacional de Energia Atômico, alimentou a controvérsia.

A França – que apoiou a iniciativa Palestina junto à ONU, em oposição às opiniões americana e israelense – alia-se aos EUA e Israel contra o Irã. Tenta forjar uma cumplicidade desmascarada em atos falhos, como durante a última reunião do G20, quando os presidentes Sarkozy e Obama foram flagrados fazendo comentários indiscretos sobre o primeiro-ministro israelense Netanyahu.

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4 comentários para "Unesco: a Palestina presente"

  1. Bea disse:

    “Enquanto novos desdobramentos são aguardados, há uma escalada de tensões na região — inclusive com o envolvimento do Irã, sempre às voltas com suas ameaças à Israel.”
    Quem está abertamente ameacando o Ira com “ataques preventivos” é Israel!

  2. Marco Antonio disse:

    A situação do povo palestino é uma aberração da lógica. Não é preciso conhecer o Direito Internacional para perceber que os direitos de cidadania e dignidade são negados aos palestinos. Povos e etnias de culturas mais atrasadas, na África, América e Ásia, têm esses direitos assegurados por força de iniciativas nacionais e internacionais de direitos humanos. Na Palestina, persistem todos os vícios sócio-políticos do início do século XX e da guerra fria.

  3. Orlando Marcelo Santos Gomes disse:

    Política internacional de Obama não poderia ser diferente dos seus antecessores quando nomeou a ex-primeira dama Hillary Clinton para comandar a pasta de relações exteriores. Travestida de democrata, Hillary com sua postura “duralex” tem muito mais identificação, tanto política como física, com a “Dama de Ferro” inglesa Margaret Thatcher.

  4. Professro Kico CEBRAPAZ-PR disse:

    Importante iniciativa da ANP na ONU.
    Situações como esta desmascaram ainda mais a cara travestida de OBAMA e de seus “cumplices” em tornar GAZA o maior “gueto do mundo”, e de continuar causando mortes e desconforto com o bloqueio criminoso a Cuba.
    Neste momento, para dar uma “ajudinha” nas eleições o ano que vem preparam uma possível “guerra” contra o IRÃ.
    Esperamos que os movimentos “OCUPEM” avancem rumo a uma proposta de justiça social e solidariedade entre as nações.

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