A União Europeia desperdiçará outra chance?

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Mercados já pressionam Itália, Espanha e até França. Fracassos seguidos dos dirigentes sugerem necessidade de outra política

Esta noite, os dirigentes europeus brincarão outra vez à beira do precipício. Marcado para Varsóvia, o enésimo encontro da zona do euro (e de toda a União Europeia) para buscar respostas à crise continua marcado por incertezas (veja cobertura do Financial Times). Economistas como Paul Krugmann, que recomendam há meses reverter a política de corte de direitos sociais e ataque aos serviços públicos já reduziram suas expectativas. Esperam que os governantes adotem, ao menos, medidas triviais para enfrentar o ataque dos mercados financeiros aos títulos públicos de diversos países – que pode provocar o colapso do euro e, possivelmente, um curto-circuito de consequências imprevisíveis nas finanças e economia mundial. Nem esta ação parece provável, lastima ele num artigo recente.

No texto, Krugman frisa: a crise da Grécia, que foi o estopim da crise, tornou-se mera nota-de-rodapé. Depois de meses de indecisão dos governos (e, em especial, do Banco Central Europeu), está gravemente ameaçada a saúde financeira da Espanha e Itália. A própria França não está segura. Os credores exigem taxas de juros cada vez mais altas para rolar as dívidas destes países. As receitas para enfrentar este ataque são conhecidas há muito, mas nem em torno delas há união.

Examinar os mecanismos que engendraram a crise europeia é um exercício fascinante (aqui, algo a respeito). Mas o que mais chama atenção, neste momento de dificuldades agudas, é a impotência política. Por pelo menos três décadas, após a devastação da II Guerra Mundial, as classes governantes do Ocidente adotam políticas que amenizaram as mazelas do capitalismo e amorteceram os conflitos sociais. Quando abriram mão deste requinte, a partir dos anos 1980, cuidaram, ao menos, de agir coordenadamente, em todos os momentos de turbulências financeiras.

O fato de não serem capazes de manter o mesmo padrão, na hora em que isso seria mais necessário, é sintoma de algo profundo – e diz respeito, diretamente, aos movimentos de rebeldia. As formas tradicionais de exercer hegemonia social parecem muito desgastadas. É possível que uma crise internacional muito profunda sobrevenha antes de que seja possível adotar alternativas em larga escala.

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