Arte e conhecimento nas bordas da metrópole

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7º Encontro Estéticas da Periferia oferece, a partir de amanhã, uma semana de atividades artísticas e debates que têm como protagonistas 33 coletivos, de 17 territórios de São Paulo

Trinta anos de Racionais MC’s. Vinte anos do Samba na Laje. Vinte anos da literatura de Ferrés. As manifestações artísticas das periferias têm muito a comemorar em 2017, e vão fazer barulho a partir desta sexta-feira, 25 de agosto, com a abertura do Encontro Estéticas da Periferia no Auditório do Ibirapuera. Além desses artistas, o Encontro homenageia a Agenda Cultural da Periferia – um guia da arte urbana e periférica que completou 10 anos em maio passado, luta pela sobrevivência e marca a efervescência cultural das bordas da metrópole.

“O Encontro chega à sua sétima edição como um arco-íris em meio à tempestade. A arte que resiste e insiste em se manifestar apesar de tanta brutalidade”, afirmam os organizadores.

Idealizado pela ONG Ação Educativa, o Estéticas das Periferias mobiliza diversos espaços culturais em todas as áreas dos fundões da capital paulistana – de sul a norte – por uma semana. O experimentalismo artístico marca a programação, que é construída colaborativamente por 33 coletivos (entre eles Ação Educativa, Amigas do Samba, Batekoo, Bodega do Brasil, Capão Cidadão, Clariô, Coletivo Ocupa, Cia. Decálogo Jalc, Espaço Comunidade, Espaço Cita, Hip Hop Mulher, Imargem, Instituto Cultural Dandara, Instituto Pombas Urbanas – Cooperativa de Artistas, Levante Mulher, Museu do Futebol, Ocupação Hip Hop, Perifatividade, Periferia em Movimento, Poetas do Tietê/Cena Norte, São Mateus em Movimento, Slam da Guilhermina, Terreiro de Bamba, Umojá, UNAS) e conta este ano com mais de 100 atrações em toda a periferia e região central.

“Chegamos em 2017 fortalecendo a estratégia adotada no ano passado de organizar o evento por territórios – são 17 regiões articuladas cada uma por dois mobilizadores locais que, por sua vez, integram o grupo curatorial – radicalizando ainda mais a proposta de construção coletiva do encontro.”

Os territórios incluem Campo Limp/Capão Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Cidade Ademar, Grajaú, Heliópolis/Parque Bristol, São Mateus, Erm.Matarazzo/São Miguel Pta., Itaim Paulista, Guaianazes, Cidade Tiradentes, Vila Guilherme/Vila Maria, Jaçanã/Tremembé, Cachoeirinha, Brasilândia, Butantã/Taboão da Serra, Centro.

Abertura

Uma mesa redonda sobre cultura e política, A Urgência das Estéticas Divergentes contra a Ofensiva Conservadora Dominante, abre o evento trazendo ao público as falas da escritora e pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda; do ex-secretário da cultura do município de São Paulo Nabil Bonduki; da atriz e cofundadora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Roberta Estrela D’Alva; e de Allan da Rosa, escritor, pesquisador e arte-educador.

Às 20h, Criolo, Comunidade Samba da Vela e o grupo teatral Pombas Urbanas apresentam o espetáculo Lado a Lado: Leste a Sul, Uma Só Comunidade!, que integra música e teatro com fragmentos da peça Era Uma Vez Um Rei. A peça discute as relações de poder da sociedade atual e as composições expressam o cotidiano periférico da cidade.

“Apesar de toda a crise, chegamos mais fortalecidos. Aumentamos a capilaridade do evento nos extremos da cidade e estamos dando destaque ao Slam, uma das manifestações que vêm renovando a cena cultural das periferias.”

A ideia é promover o “bem viver”, sustentam os organizadores – “um conceito que valoriza a sustentabilidade ambiental, a sabedoria ancestral, a vida natural e coletiva, comércio justo/solidário e a justiça social na esfera cotidiana no microcosmo de sua rua, bairro, distrito, cidade, aldeia, quilombo, onde a vida acontece em pequena escala.”

“Queremos promover o bem viver nas bordas da metrópole e a cultura é fundamental nessa busca, pois ela promove vínculos de pertencimento, coletividade e bem comum.”

A programação completa está disponível no site www.esteticasdasperiferias.org.br

As periferias falam

Em 2012, o Seminário e Mostra Estética da Periferia realizado pela ONG Ação Educativa revelou-se de uma pluralidade tal que sugeriu um formato experimental. Reafirmando a diversidade e riqueza da produção artística das quebradas, o nome do evento mudou para Encontro Estéticas das Periferias, e passou a ser organizado por uma curadoria coletiva para expressar as diferentes vozes ali representadas. Estruturou-se em torno dos eixos curatoriais, que orientam a construção do programa: produção cultural de mulheres, direitos humanos, culturas negras, direito à cidade, meio ambiente, futebol e cultura.

Em 2013, o Estéticas das Periferias passou a reverenciar pessoas inspiradoras da cultura popular e periférica. Entre os artistas e coletivos culturais homenageados estão Naná Vasconcelos, Vó Susana e Dona Lurdes (2016), Tia Cida dos Terreiros Dona Odete da Vai-Vai, Pombas Urbanas e Raquel Trindade (2015), Abdias do Nascimento e Carolina Maria de Jesus (2014), MC Daleste e DJ Lá (2013).

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