Nas ruas, multidões desafiam "consenso" neoliberal

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Em Curitiba (foto), 60 mil pessoas; em Belo Horizonte, 100 mil; em Recife e Salvador, dezenas de milhares

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Com forte apoio, greves e protestos contra desmonte da Previdência revelam: agenda de retrocessos pode ser interrompida. E que tal submetê-la, após as eleições, a referendo popular?

Por Antonio Martins

O grande teste virá a partir do meio da tarde, para quando estão convocadas manifestações em dezenas de cidades. Mas das primeiras horas da jornada nacional de greves e protestos contra o desmonte da Previdência e a contra-reforma trabalhista já emergiu uma enorme novidade política. O suposto “consenso” em que o governo Temer dizia se apoiar para promover sua agenda de retrocessos está quebrado. No primeiro momento em que a população pôde compreender e debater um itens desta agenda, ela mostrou-se claramente contrária. Além disso, surgiram sinais de que a própria maioria parlamentar do governo – folgadíssima, em condições normais – pode ser frágil e ineficaz, quando submetida a pressão popular.

Dois fatos destacam-se, nas primeiras horas da jornada. Primeiro, o descontentamento de algumas categorias de trabalhadores – professores, condutores de ônibus e metroviários, em especial – foi suficientemente profundo para desencadear paralisações de enorme repercussão nacional. Todos os telejornais desta manhã foram obrigados a transmitir a seus telespectadores é frase emblemática: “Hoje é dia nacional de luta contra a ‘reforma’ da Previdência”. Pode ter soado estranho: até ontem, esta mesma “reforma” não era um fato “natural”, uma opção contra a qual a sociedade não tinha o que fazer ou dizer? Significa, então, que não estamos condenados à condição de plateia passiva? Podemos nos comportar como cidadãos?

Além da mobilização orgânica de alguns, sobressaiu a oposição difusa de muitos. Pela primeira vez em muitos anos, a TV não pôde apresentar um paralisação dos transportes públicos como um mero “transtorno”. Talvez, pesquisas internas tenham demonstrado que fazê-lo seria tiro no pé. Mas certamente porque emergiram aqui e ali, apesar dos filtros da edição, declarações de populares que expressam revolta. “Estou há horas esperando [na fila do ônibus]. Mas também, que absurdo, querem que a gente se aposente só aos 90 anos”, disse alguém de manhãzinha, ao “Bom dia, Brasil”. “Acho que atrapalhou bastante a vida mas tem que parar, reivindicar, discutir. Tomara que dê um bom resultado para nós”, acrescentou Helena Dias, empregada doméstica, horas mais tarde, a uma repórter da Globo que a entrevistou num terminal de ônibus.

Não há nada definitivo, ainda, para comemorar. Os protestos matutinos, em algumas cidades maciças (dezenas de milhares em Belo Horizonte, Salvador e Recife) precisam continuar à tarde. A força da coalizão que pressiona pelos retrocessos – governo, a mídia, grandes empresários – não se esgotará em uma jornada.

Mas a manhã de hoje traz um enorme alento. Não estamos condenados a continuar recuando. Há brechas; é preciso enxergá-las e saber tirar proveito delas. E deste primeiro sinal de oposição popular à agenda imposta ao país há onze meses, talvez seja possível extrair uma proposta política de grande relevância – inclusive nas eleições de 2018. Que tal reivindicar que o futuro governo submeta a referendo todas as decisões cruciais – PEC-55, “reforma” do ensino médio, desnacionalização do Pré-Sal etc etc etc – adotadas por um governo não eleito pelo povo?

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