Futebol: "názi não joga em nosso time"

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“Melhor cair para a segunda divisão!”. Como a torcida de um pequeno clube de Madri rejeitou atacante ucraniano envolvido com as milícias fascistas de seu país

Por Nuno Ramos de Almeida

O clube desportivo de um conhecido bairro operário de Madrid contratou um craque ucraniano. Os adeptos e trabalhadores do clube insurgiram-se, motivo? Acusam Roman Zozulya de ser nazi e no Rayo Vallecano não há lugar para ele

O jogador Roman Zozulya foi emprestado pelo Betis de Sevilha ao Rayo Vallecano. É atacante e da seleção nacional da Ucrânia. À partida parecia um excelente negócio para um modesto clube de Madrid. Mas no bairro operário da capital espanhola a opinião é diferente. Passam de mão em mão fotografias do jogador com uma camiseta nacionalista ucrãniana e diz-se que ele apoia os contingentes armados da extrema-direita nazi na Ucrânia.
Javier Ferrero, presidente da claque Planeta Raysta e vice-presidente da plataforma Associação Desportiva Rayo Vallecano (ADRV), que inclui a quase totalidade dos gupos de torcedores que apoiam o clube é peremptório: “Sou sócio do Rayo desde que nasci, mas prefiro cair à segunda divisão do que ver Zozulaya jogar com a nossa camiseta”. A mesma opinião, expressa ao El País, o presidente das torcidas do clube, conhecido por Gelo entre os adeptos, “hoje na internet há uma radiografia completa das pessoas. Ao conhecer uma contratação que queriam fazer, avisamos a diretoria que este jogador não encaixa com os valores que o nosso clube sempre defendeu, que são a solidariedade e a ajuda às pessoas mais desfavorecidas.Trazer um futobolista que se ufanava de pertencer a um grupo nazi da Ucrânia, choca com os nossos princípios”.
As principais torcidas do clube acusam o jogador de ter colocado no Twitter fotografias de Stefan Bandera, nacionalista ucraniano assassinado pelos serviços secretos soviéticos em 1959 e que durante a Segunda Guerra Mundial colaborou com os nazis. Gelo também afirma que o jogador posou em fotografias com o batalhão Azov (destacamento militar názi ucraniano) e com símbolos de partidos de extrema-direita como o Pravy Sektor. Tudo características que são odiadas pelos adeptos do clube do mais famoso bairro operário de Madrid. Não é por acaso que a principal torcida, os Bukaneros, é conhecida pelos seus confrontos com agrupamentos de extrema-direita no futebol espanhol, tendo morrido adeptos seus nesses confrontos.Como Jimmy morto por neonázis do Atlético de Madrid em novembro de 2014.
Roman Zozula em pose com milícia

Roman Zozula em pose com milícia názi

O Rayo Vallecano é conhecido pelas suas campanhas políticas e sociais que envolvem clube, jogadores e adeptos: são frequentes as jornadas anti-racistas, os dias contra a homofobia e a coleta de alimentos para auxiliar as famílias mais probres e os desempregados.O presidente do clube, o empresário Martín Presa, que tem 98% das ações, não nega este ADN social, mas defende a contratação do jogador afirmando que o caracteriza o Vallecas é ser um clube “tolerante”, em que todos podem jogar futebol, “independentemente da ideologia, religião, raça ou cor de pele”. O mesmo entendimento não têm as centenas de adeptos que no último jogo da equipe exibiram cartazes que diziam: “Valleca não é lugar para nazis / Nem para ti, Presa / Vão-se embora”.

O jogador enviou uma carta à comunicação social e aos sócios do clube desmentindo ser nazi. Acusa um jornalista de ter confundido a camiseta que tinha com o escudo da Ucrânia, com o símbolo de um partido nazi. “Cheguei ao aeroporto de Sevilha com uma camiseta com o escudo do meu país e uns versos do poeta Taras Shevchenko, estudado em todas as escolas da União Soviética”. O jogador não nega ter estado com grupos armados, mas dá uma outra versão: “Não estou vinculado a nenhum grupo názi. Realizei uma importante tarefa de colaborar com o exército para proteger o meu país, ajudando também as crianças desfavorecidas. Tudo isto em tempos muito difíceis de guerra. Acho que este trabalho coincide plenamente com os valores sociais que defende o Rayo Vallecano e os seus adeptos incondicionais”.

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4 comentários para "Futebol: "názi não joga em nosso time""

  1. janete disse:

    muito bom o artigo

  2. Jorge disse:

    Besteira!
    Não foi a Europa que ajudou, não foi o povo europeu que ajudou. Foram os governos dos países da Europa, e em geral totalmente pressionados pelos EUA/OTAN. E nem foram todos os governos que apoiaram/ajudaram. Existe quem resiste a apoiar a tentativa de Golpe (planejada e levada a cabo pelos EUA) na Ucrânia.
    Por exemplo, a Alemanha, desde o começo do Golpe ucraniano, apesar de ser fortemente acossada pelos EUA, não apoiou ostensivamente e, pelo contrário, se empenhou desde o começo a tentar uma solução diplomática além de não concordar com o isolamento da Rússia enfiado goela abaixo pelos EUA aos europeus.
    Europeu, no geral, tende a pensar um pouco mais (e melhor) que o brasileiro, e não apoiar golpistas e/ou nazi fascistas, mesmo também gostando muito de futebol!

  3. Jorge Victor disse:

    Como é que europeus vão expulsar um jogador de futebol que afirma ter feito algo que toda a Europa fez? ajudar grupos neonazistas a derrubar o governo da Ucrânia.

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