Crise global nas bolsas: não culpem Shangai

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Mídia vê na queda do crescimento chinês a causa dos novos terremotos nos mercados financeiros. Mas Banco Mundial reconhece: quem está muito mal é o sistema 

As bolsas de valores estão vivendo, nesta quinta-feira, mais um sobressalto global. A tempestade começou no Oriente, onde o sol nasce primeiro. Em Shangai, o pregão terminou apenas 14 minutos depois de aberto, porque uma queda de 7% nas cotações acionou os circuitos que interrompem os negócios, para evitar pânico e “efeito-manada”.

A maré atingiu em seguida a Europa: até o momento, quedas de 2,6% em Londres, 2,6% em Frankfurt e 3,5% em Paris. Prevê-se recuo semelhante em Nova York, quando as negociações forem abertas. Os principais portais do mundo estão repletos de fotos que mostram operadores de biotipo oriental com semblante em desespero, e de manchetes que atribuem as turbulências à China. É uma visão ingênua ou interesseira.

Ao longa da semana, emergiram de fato indicadores segundo os quais o crescimento da China desacelerará, em 2016. Mas é preciso compreender a dimensão do movimento. O PIB chinês continuará crescendo em torno de 7%, este ano – algo extraordinário, para uma economia que é a primeira ou segunda maior do mundo, a depender do critério utilizado. Só o acréscimo de produção da China, este ano, equivale a todo o PIB da Espanha, ou a metade do brasileiro.

Mas a redução é de fato expressiva, dada a dependência que uma economia global estagnada há anos mantém, em relação à China. Bastou o anúncio de um crescimento menor para que, hoje, os preços do petróleo caíssem ao menor patamar desde 2004 e os minérios seguissem a trilha ladeira abaixo. Começaram a surgir dúvidas sobre a própria sobrevivência financeira das grandes mineradoras, entre elas a Vale.

O tremor prosseguirá? Como agirão as autoridades chinesas, nos próximos meses? Buscar a resposta é um grande desafio intelectual e político, para 2016. Um segundo fator para as quedas frequentes que as bolsa de Shangai tem sofrido é a desvalorização da moeda nacional, o renminbi. Hoje, em Pequim, as autoridades econômicas anunciaram uma nova queda: agora cada dólar vale 6,5646 yuans, um recorde de seis anos.

As avaliações sobre este movimento são ainda inconclusivas. Alguns analistas creem que pode ser um movimento consciente para baratear os produtos chineses nos mercados internacionais e retomar as exportações. Outros ponderam, porém, que uma baixa prolongada do reinmimbi pode estimular a fuga de capitais, em direção a moedas mais valorizadas, numa bola de neve que as autoridades podem ser incapazes de controlar, ao final.

Pode haver ainda um terceiro fator. Num esforço para controlar os mercados financeiros e evitar especulação, o governo chinês decidiu antecipar a entrada em vigor de dispositivo que proíbe grandes acionistas das empresas do país a vender mais de 1% de suas ações. Essa medida foi vista como hostil ao “livre” funcionamento dos mercados.

Num sinal a mais de que é tolo culpar a China pelas novas turbulências, o Banco Mundial divulgou ontem um novo relatório sobre a situação da economia global. O documento evoca o que alguns têm chamado de possível “tempestade perfeita”. Trata-se da combinação entre depressão do valor dos produtos primários; risco de tempestades financeiras envolvendo grandes instituições; e recessão ou queda de crescimento, nos países do BRICS.

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2 comentários para "Crise global nas bolsas: não culpem Shangai"

  1. GMattos disse:

    Ja é um progresso..
    Até ontem a culpa era de Dilma e do PT..
    Agora os gênios já perceberam que existe uma crise fora de nossas fronteiras.
    Nao deixa de ser um avanço!

  2. Julio Scheibel disse:

    Boa análise, mas gostaria de saber um pouco mais por exemplo :
    1- Esse 1% seria aplicado apenas a acionistas chineses ou seria um controle de capitais internacionais?
    2- Como seriam afetados os grandes blocos econômicos – Sabendo -se, por exemplo que a China sustenta a dívida externa americana – Ela poderia querer usar esse dinheiro para investir em seu mercado? Quais as consequências para os USA.
    3- Zona do euro – Alemanha tem a China como maior parceira comercial, como ficaria se o yuan sofresse flutuações para baixo para aumentar a competitividade chinesa?
    4- Qual o impacto das reações americanas para se defender de uma fuga da China de sustentar seu deficit zona?
    5- Impacto nos demais BRICS e resto do mundo?
    Saudações
    Julio

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