#ocupaestudantes: “Nossa contrarreorganização é que organizou”

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Adolescentes que ocuparam escolas em São Paulo contam seu movimento. Como cozinharam, cuidaram e aprenderam — contra todos os jargões, repressão e expectativas 

Por Glória Maria Brito dos Santos, 16 anos, E.E. Etelvina Góes Marccuci, Paraisópolis

No ano de 1995 o governador de São Paulo Mário Covas do PSBD fez a primeira “reorganização” no sistema de educação do estado de São Paulo. Assim: demitiu 50 mil professores, fechou 8 mil salas e desativou 150 escolas. Em 1995 não houve comoção nenhuma .

Após 20 anos e com o mesmo partido no poder o governador, Geraldo Alckmin, impôs uma nova “reorganização”. Mas o resultado foi outro.

A desorganização da educação tucana gerou revolta nos estudantes da Grande São Paulo e resultou em ocupações de várias escolas. Foram as primeiras ocupações na história do nosso país. E assim começou a luta.

Salas superlotadas, aulas vagas, escolas sem laboratórios, sem cultura, sem conhecimento, escolas que nos ensinam a achar que qualquer providência absurda do governo deve ser considerada normal.

O ensino e a estrutura das nossas escolas públicas são precários a ponto de acabar o ano e o aluno não ter aprendido plenamente nada.

Nas escolas ocupadas foi diferente. Os estudantes mostraram total organização. Na limpeza, cozinha e na conservação ao patrimônio público. Além de aprenderem muito mais do que dentro de uma sala de aula. Organizaram as aulas, os saraus, diálogos sobre diversos assuntos, aulas doadas por professores de fora das escolas, entre outras atividades. Organizaram contra a “reorganização”

Também saíram às ruas , fecharam avenidas, soltaram o grito. “Não fechem minha escola”. “Se fecharem as escolas a cidade vai parar“. Estudantes corajosos, jovens com a alma forte que saíram de suas casas em busca de uma educação digna.

Mas houve muita opressão, agressão física e moral por parte das autoridades fardadas, autoridades que agiam com brutalidade jogando spray de pimenta no rosto dos manifestantes, usando cassetetes para agredir menores e professores.

Houve outro tipo de violência também. A de professores que ficaram na escola até o horário de irem embora, no dia da ocupação, chamando os alunos de vândalos de vagabundos. A da professora que se disse “massacrada” e nos chamou de “hitleres mirins” no Facebook. Como se nós fôssemos assassinos!!! Uma professora de História!!!

Até esse tipo de mentira usaram para prejudicar o nosso movimento. Não houve nenhum tipo de violência contra os professores e os funcionários. Houve é violência contra a gente. E ela aconteceu porque nós fomos em busca da educação de qualidade.

Houve também momentos muito bacanas. Um deles foi quando os pais ficaram do nosso lado, quando as pessoas foram nos ajudar, doando alimentos. A união da galera foi legal. Porque eles compreenderam o que a gente explicou e nos deram seu apoio. Esse foi o dia em que vencemos a batalha!!!!!

A população paga tantos tributos. Será que é demais pedir para estudar, aprender, ter conhecimento, ter a escola que merecemos? Não! Não é pedir demais. É mais que nosso direito ter escola e ensino digno. Se as escolas fecharem, onde vamos estudar? Na Fundação Casa?! Sim! Porque nosso governo, que diz representar e arcar com as necessidades da população, que diz que se “preocupa” com seu povo, fecha escolas e abre prisões.

O governo que não quer investir na educação, que não quer nenhuma geração pensando, estudando, criando um pensamento diferente do senso comum. O senso comum diz que as coisas não podem mudar, independente de nossa atitude. E sabemos agora que se a gente se unir, levantar do sofá e for pra rua, podemos mudar as coisas. Dessa vez soltamos a voz, juntamos forças e nos levantamos para derrubar esse governo! Porque esta é a Juventude Revolucionária! A luta pela educação é uma revolução!!!

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5 comentários para "#ocupaestudantes: “Nossa contrarreorganização é que organizou”"

  1. FERNANDO disse:

    Concordo, o que se deve ter é uma luta pela democracia! Não a favor de um partido ou outro! A democracia! Se não houverem razões para impeachment, o impeachment não deverá acontecer.

  2. FERNANDO disse:

    Tentaram desligitimar o protesto infatilizando as pessoas, como se a idade significasse ignorância ou vandalismo; mesmo que talvez seja esta a intenção com a destruição da educação. A intenção das pessoas darem risadas delas mesmas e das suas condições deploráveis alimentadas por um estado de excessão. Me parece que há no Brasil um processo de descreditamento do povo. Ou seja, tudo que ocorrer no Brasil não tem valor se não houver um apoio da classe dominante ou exteriorizada. O país vive com os olhos para as multinacionais, intelectuais e políticas exteriores. O que há por aqui não importa, ainda mais se vier de classes menos abastadas ou sucateadas pelo estado tomado pela elite. O povo também não ajuda, votando nos cadidatos mais pomposos e mais insesíveis quanto a eles mesmos. Esses candidatos acabam por utilizar a própria pompa para descreditar o povo sucateado dizendo: “Olhe pra mim, sou pomposo, tenho títulos da sociedade e este foi o maior motivo para votarem em mim; a inveja! Como podem acreditar que têm mais direitos do que eu? São apenas restos deseducados pelo sistema que criamos juntos, um sistema que privelegia aquilo que é pomposo e sucateia aquilo que não tem pompa e se depender de mim; nunca terá.”

  3. De Sandra Regina disse:

    Estou extasiada com a consciência de vocês ainda bem jovens. Vocês são merecedores de respeito, admiração e apoio incondional. São um grande exemplo para a classe oligárquica. Parabéns. Que demais estudantes mundo a fofa sigam seus exemplos. Que Deus esteja sempre com vocês. Parabéns. Sandra Rangel Pedagoga UFF

  4. Welbi, ‘suspendeu’ – deixou em suspenso -, não e a mesma coisa que acabou. Estão corretíssimos os estudantes.

  5. O governador Geraldo Alckmin já suspendeu a reorganização. Não tem mais cabimento manter os protestos e as invasões das escolas. Muito menos estes atos de vandalismo. Os que continuam são de movimentos partidários com objetivo de colocar a população contra o governador e de tentar tirar o foco dos escândalos do governo Dilma. Apeoesp, MTST, Ubes e Upes, entidades dirigidas pelo PT e PCdoB estão por trás disso.

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