A obra e as artes do incansável Rafael Coutinho

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COUTINHO

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Mergulhado em projetos que promovem quadrinho brasileiro, artista — que é filho de Laerte — debate explosão das edições independentes, sufoco financeiro dos criadores e transformações no desenho e em seu fazer

Entrevista a Gabriela Leite e João Rabello

Um dos mais importantes quadrinistas e agitadores da cena atual de histórias em quadrinhos no país, Rafael Coutinho é generoso, modesto e bastante receptivo. Nos recebeu em seu ateliê, de arquitetura peculiar, em uma tranquila e arborizada rua no bairro do Butantã, em São Paulo. Coutinho discorreu sobre a penosa vida de “artista-empreendedor de si mesmo”, seus inúmeros projetos, o contexto atual dos quadrinhos, o público, as mudanças que enxergou nas produções ao longo dos anos, suas influências como quadrinista, seu processo criativo e a relação com seu pai, Laerte, considerada por muitos a maior quadrinista brasileira.

Rafael é criador e dono da editora Narval Comix, pela qual já publicou diversos quadrinistas nacionais e estrangeiros, com projetos gráficos ousados e caprichosos. A Narval é referência em quadrinhos alternativos que permitem liberdade criativa de artistas talentosos. Talvez pagando esse preço, a editora quase fechou algumas vezes.

Mas ele não se restringe aos livros impressos. O site A Nébula, por exemplo, foi um projeto encabeçado por ele em 2015, que vingou enquanto durou. Com patrocínio da Medium, rede social e plataforma de blogs que se fortaleceu este ano no Brasil, deu espaço para muitos quadrinistas publicarem suas histórias. A curadoria de artistas era vasta, de diversos lugares do Brasil, e eles desenharam desde temas cotidianos e pessoais até jornalismo, muitas vezes com forte posicionamento político. A Nébula, infelizmente, chegou ao seu fim após apenas seis meses, e Coutinho explica o porquê.

De dentro do turbilhão de trabalhos em que ele está envolvido, alguns sairão ainda esse ano. Em novembro, no Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), em Belo Horizonte, será lançado o mais novo deles: “O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2015”, coletânea que pretende trazer, anualmente, o melhor do que foi produzido no ano no gênero, no país. O projeto é inovador no Brasil e se inspira na publicação norte-americana “Best American Comics”. Além disso, Coutinho também lançará seu último livro, no FIQ, o terceiro volume de O Beijo Adolescente, série de graphic novels financiada pelo Catarse.

Abaixo, a entrevista completa, dividida por temas:

A editora Narval Comix

Como começou a Narval Comix, sua editora de quadrinhos?

A gente começou com a coleção Gazzara, que eram uns pôsteres de quadrinhos, e com a MIL que era uma coleção muda. Eram pequenas experiências. Eu queria publicar uma galera, esse foi o início. Fomos testando o quanto de tiragem a gente era capaz de ter, o quanto de funcionários a gente era capaz de ter, que tipo de contas a gente conseguia pagar com o fluxo de caixa, que frentes financeiras que a gente tinha em mãos, entender o que era trabalhar com livraria grande, livraria pequena, online, projetos especiais, quanto isso tomava do meu tempo e aí foi indo.

Coleção Franca, da Narval Comix

Coleção Franca, da Narval Comix

Testamos inúmeras coisas e projetos, crowdfunding, parcerias, desenhações coletivas, em dupla… Fizemos vários tipos de produtos e projetos. Foram seis anos de testes. Aí teve “O Beijo Adolescente” dentro da editora, eu dentro da editora como autor me editando, que foi às vezes muito confuso. Lançar o meu pai também dentro da editora foi toda uma maluquice. E também não viciar a editora na necessidade de me publicar e publicar meu pai porque são artistas que a gente conseguia vender melhor. Sempre tentando equilibrar.

Ela tem como objetivo dar espaço para quadrinistas autorais?

Ela não… Eu parei, assim… Em algum momento eu percebi que isso era falso. Era um texto que eu falava em entrevistas, de que eu estava dando espaço. Não é. Não sou assim tão altruísta. Eu tenho obviamente o desejo de estabelecer isso como uma empresa que funcione. Uma editora que se sustente e eventualmente dê lucro e que possa prosperar. E claro existe um desejo muito óbvio meu de viabilizar projetos que eu gosto muito, admiro muito e me tiram o sono porque eu acho maravilhosos. Uma coisa meio obsessiva. É essa luta de seguir esse desejo e estabelecer os parâmetros mínimos para uma empresa saudável existir.

Livros da Narval Comix na Feira Kraft, em Brasília, junho/2015

Livros da Narval Comix na Feira Kraft, em Brasília, junho/2015

Mas a Narval quase fechou…

Várias vezes! (risos) Acho que o pior foi começo do ano passado (2014).

Como foi?

Foi aquele ano da Copa, para a gente foi muito ruim. A gente concebeu muitos projetos com começo, meio e fim. Fechamos PDFs, falamos com os artistas, fizemos todos os cálculos e projetamos dentro de um ano de agenda. E foram três, quatro grandes projetos que caíram um depois do outro por conta da histeria que foi o ano da Copa. Os patrocinadores queriam muito e depois tiravam da mesa sem nenhum pudor.

Por acharem que não ia dar certo?

Achavam que sim e depois não achavam mais. E eu sei que a gente também nunca apostou em “Turma da Mônica”, não temos um material que é 100% vendável e certo de que vai ser um produto lucrativo. É bem refinado. É complicado, delicado. Não são livros fáceis.

 

A produção independente de quadrinhos

Você diria que para viver de quadrinhos você precisa fazer um trabalho comercial como a Turma da Mônica?

Não, cara, não acho isso. Sou a prova viva de que existem milhares de tons de cinza aí no meio dessa história e possibilidades. O que eu acho que não dá é para fazer uma coisa só. Não existe o quadrinista que só faz quadrinhos. Só se ele trabalhar para a gringa. No Brasil é isso que a gente vê: quadrinistas que dão workshops, oficinas, palestras, viajam para qualquer convite, topam as coisas mais malucas do mundo, estão sempre tentando fazer um produtinho, se autopublicar, publicar em editoras médias ou grandes, ou pequenas até.

A maior parte do tempo a maioria deles é ilustrador, designer, diagramador, faz tabela gráfica para jornal. Trabalham para jornal, para algum site fazendo pequenos frilas. Esse é o quadrinista moderno. Muito tempo divulgando seus pequenos sketches [rascunhos, em inglês] tentando manter o público interessado. Tentando se manter interessado no próprio projeto. Fazendo alguma HQ enorme que demora cinco, sete anos para ser concluída. Hoje em dia eu acho que tem uma galera com mais febre diminuindo esse tempo de duração de projetos de quadrinhos longos. Mas só por uma obsessão, por febre mesmo porque não vejo nada que tenha mudado drasticamente do ponto de vista de grana e estrutura.

Mas e as autopublicações, que você falou?

Elas são lindas, são maravilhosas, é um puta fenômeno. Mas são capricho, vocês sabem muito bem, né? É um tesão, é uma delícia participarmos.

Não tem mercado…

Duvido muito que vocês tenham pagado qualquer conta com a venda dos livros.

Não (risos).

Não rola. A galera paga as passagens (para feiras independentes), é gostoso, (paga) um tanto de gráfica. Dá a sensação de que o projeto está se pagando, mas não está se pagando nada. Você está gastando, gastando, gastando. Eu acho que o que tem e é legal é esse tesão. Vontade de produzir, imprimir, de viver (risos). Que está rolando na cena brasileira.

Por que você acha que está acontecendo isso?

Não sei, cara…

Mas mesmo nesse contexto digital, o impresso está crescendo. Por que?

Não sei explicar. Sei lá… Acho que tem uma coisa de curtir uma onda que está rolando, de se autopublicar e se tornar independente, né? A ideia de produzir o seu próprio projeto sem depender de ninguém. Muita gente jovem que começou no mercado de trabalho em empresa fazendo o jeito tradicional, empresa online, empresa do que seja, aos 25 está exausta, está consumida. Porque é esse jeito maluco que a gente vive mesmo, né?

E aí as pessoas querem muito desesperadamente produzir coisas novas ou próprias. Na rede social, é um negócio lindo. “Vai, faça” é o que basicamente ela (a rede social) fala, né? “Seja feliz, seja livre, produza algo seu! Vá!” e aí todo mundo vai (risos). Existe uma coisa tragicômica no pós-moderno que diariamente alimenta a ideia de que todos nós somos especiais e que a gente deve produzir algo especial, nosso. Quase como uma ferramenta de construção de identidade mesmo, né? Não seja mais um na massa, faça o teu.

E é bonito, acho que todo mundo tem que produzir, fazer se quiser fazer. Mas é de mentira, a gente continua sendo massa de manipulação (risos). Consumidores frenéticos. Mas as revistas estão aí, são provas de que coisas lindas acontecem.

De quando você começou a fazer quadrinhos até hoje, que mudanças você enxerga?

Nossa, mudou tudo, meu. Mudou tudo. Desde o conteúdo que mudou muito até a forma com que ele é produzido, né? Não tinha o boom do online.

Você começou há quanto tempo?

Comecei no final dos anos 90. Tinha internet, mas não tinha Facebook. Tinha o início de um dos blogs, eu lembro de a gente fazer blog do Sociedade Radioativa [fanzine coletiva que Rafael fez na faculdade]. Todo mundo falando dos blogs… Era o início dos blogueiros, gente famosa no mundo da comunicação.

Mas mudou tudo. O jeito como se colore, se imprime, produz. Fazer um fanzine hoje em dia é uma coisa completamente diferente. O custo do material na gráfica, o jeito como os grupos se organizam e se dissolvem. Naquela época tinha uma coisa física de ir encontrar no bar a galera do fanzine, fazer as reuniões. Hoje em dia tem gente que produziu três, quatro fanzines no Brasil todo e nunca se viu, nunca nem se encontrou. É legal pra caralho isso.

E os assuntos publicados?

Também mudou tudo, né? Acho que é quase impossível a gente resumir os assuntos, porque é muito plural. Na época tinha uns modismos, umas tendências ligadas a uma retrospectiva tardia de um quadrinho oitentista, uma coisa meio boca do lixo, a celebração da desgraça. Assim, uma certa fossa nutrida pelo fim dos anos noventa, pós-grunge. Pelo menos em São Paulo tinha muita ligação com as bandas punk, banda de rock e tal.

Hoje, cara, explodiu. Tem uma coisa também que é uma resposta a essa facilidade de informação, fluxo de informação. Tem muito quadrinho ligado assuntos muito particulares, pequenos, fragmentários. Ou uma afirmação, ou uma negação ou uma resposta a tudo. O quadrinho-meme, assim. De uma certa forma, também um movimento de produção de quadrinho muito ligada à vida individual das pessoas, isolada, pequenos contextos, e refletindo o mundo através de seu próprio prisma, assim. De um jeito muito fragmentado, mesmo. Seria muito inocente da minha parte generalizar dessa forma, é muito mais do que isso. O quadrinho mundial é isso, é impossível de …

E o quadrinho brasileiro?

Também eu acho que a gente vive um período muito produtivo, muito grande, muito expansivo. Tem gente tentando fazer uma coisa aventuresca, heroica, mas também de um jeito diferente do que já foi feito. Tem o pessoal dos super-heróis, tem o movimento feminista dentro dos quadrinhos que é muito forte, tem essa afirmação do formato de graphic novel [romance em quadrinhos] no país, então histórias um pouco mais longas… E aí você começa a ver também uma aproximação das séries de TV dentro da formação da psique do roteirista brasileiro. Muita gente tentando emular ou tentar se aproximar a esse universo de series de TV…

E ai tem a galera dos anos 80. Tem os experimentais, que são lindos também. Tem toda a cena de Brasília que é um capítulo à parte… Eu adoro a produção de lá e como cada um dos grupos dos anos 90 e 2000 influenciou a geração nova. É muito evidente o quanto a Samba foi importante na cena brasiliense. O quanto a Picabu foi importante no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Também como foram importante revistas como a Quase, em Vitória, pessoal de humor, a Tarja Preta… Uns movimentos retrô, de quadrinho dos anos 60 e 70 surgindo no Brasil de um jeito muito maluco também. Os quadrinistas designers, que são muito estéticos…

E onde você se encaixa nisso?

Cara, não sei… Eu não sei onde estou. Acho que em algum lugar ali no meio…

Experimentação?

Eu não sei, às vezes eu acho que experimentação, às vezes eu acho que é simplesmente uma coisa meio aventuresca, pop… Acho que todos esses [artistas] também cansam muito de seus próprios produtos, das historias em si, trocam muito de um lugar pro outro, querem tentar uma história romântica, querem tentar uma história autobiográfica, fazer uma outra coisa… Todo mundo aprendendo, também, bastante.

Teve o período de auto-publicação muito intensa no país, pequenas editoras, todo mundo querendo se auto-publicar. Parecia que ia ser uma saída, os “Catarses” [plataforma de financiamento colaborativo], essas coisas todas… Acho que a gente também vive uma certa ressaca. Muito embora muitos projetos estejam acontecendo, ficou claro, acho que pra uma grande maioria, que é mais caro do que parece ser, é muito mais trabalhoso do que parece ser, ficar indo em feira tem um limite também de energia e de custo… Tem muita gente que viajou e produziu muito independente e sumiu um pouco da cena…

Não foi uma saída, então…

Foi, é que é isso, o mercado tá se reciclando e visivelmente crescendo, tem muita gente entrando. Jovens quadrinistas produzindo, então… O Catarse, por exemplo, continua crescendo. Os Kickantes [outra plataforma de financiamento colaborativo] da vida continuam crescendo.

E o público, como você enxerga? Você descreveu um contexto muito plural de produção, que cresceu, surgiu, e agora pouco você tava dizendo como o quadrinista não consegue se financiar, ele precisa trabalhar com várias coisas, não tem um público que compre o trabalho dele pra que ele pague as contas com aquele quadrinho, mas ao mesmo tempo, tem um monte de gente produzindo diversos tipos de quadrinho. Como você vê o público de lá até agora, se ele cresceu, que público é esse, e se você vê alguma perspectiva de publico que possa mudar esse mercado…

Eu acho que ele também se fragmentou, como tudo nesse período louco se fragmentou. O consumo é fragmentado, o interesse do público também é. O cara que consome quadrinho não necessariamente gosta de tudo de quadrinho. Gosta de coisas específicas. Talvez até de um cara só. Então o teu público que te segue online também não necessariamente é o que compra as coisas que você imprime.

Tem uma dificuldade aí de adequação e de definição mesmo desse grupo, chamado “consumidor de quadrinhos”. Ele é velho, jovem, meia idade, trintão, vem de um bafo dos anos 80 e 90… Teve um período em que achamos que estávamos consumindo mais quadrinhos porque o público dos anos 80 está ficando mais velho e agora tem poder aquisitivo, mas também isso se provou pouco perene. O público também para de comprar durante um período, compra outras coisas…

A sensação que eu tenho é que é um público grande mas fragmentado. E que em momentos específicos nos dá o claro indicativo de que é muito volumoso, em eventos como a Comic Con Experience, a FIQ, uma ou outra feira tipo a Feira Plana, ou em Brasília, nesses encontros de galera classe média alta, poder aquisitivo OK, bem formada… Que se junta a um povo classe média baixa, que se junta a essa popularização do universo geek de consumo, e aí a gente vai vendo esse público amorfo mudando e se adaptando.

Feira Plana, no MIS, em São Paulo, março/2015

Feira Plana, no MIS, em São Paulo, março/2015

Mas isso é uma época, é agora, é tipo há dez minutos. Muda amanhã. E vai mudando, porque o capitalismo é uma doideira, mano [risos]. Porque as pessoas querem consumir sempre o novo e algo novo, então… Aí muda com a Amazon entrando no Brasil. São muitas frentes muito grandes. A gente teria que fazer uma análise muito amplificada para entender o que é o público, o leitor do futuro. Eu acho que o digital vai se estabelecer um pouco mais, o consumo de plataforma digital vai ser maior, mas também não acho que seja uma coisa que vai aniquilar de forma nenhuma o papel. Nada do tipo. Eu tenho a sensação de que, de uma forma geral, o quadrinho trabalha com esse numero 1000. Posso estar errado, mas 1000 exemplares, 1000 seguidores, mil, mil, mil. Mil dinheiros também (risos).

Acho que nos próximos anos o que vai acontecer é cada vez mais a gente tentar descobrir e desenvolver ferramentas de fidelização desse pequeno grupo. Quase como um pequeno mecenato, mesmo, que é um simulacro do que é o Catarse, do que é o Patron, essas plataformas de financiamento coletivo. Mas é a ideia de que um artista pode ser financiado por um grupo pequeno pra produzir o que ele quiser. Se ele não tiver grandes ambições malucas e insanas de ficar milionário.

 

Rafael Coutinho como quadrinista

Quais quadrinistas brasileiros você admira?

Eu admiro muito o Diego Gerlach e o Pedro Franz, são grandes amigos que tenho uma relação muito próxima e me identifico, e têm mexido muito com meu trabalho. A gente vive uma geração tão boa… Bruno Maron, é um cara que eu sou absolutamente paga pau, [Ricardo] Coimbra eu acho muito bom, o [André] Dahmer eu acho um gênio da raça. O Arnaldo Branco… O Mateus Santolouco, um cara que eu acho incrível, o Amilcar Pinna, são quadrinistas que trabalham pro mercado norte-americano que não tem a ver muito com meu trabalho, mas que toda hora eu vejo e acho muito incrível. Acho muito lindo o trabalho da Laura Lannes, embora ela não publique muito. O Pedro Cobiaco, tão legal de acompanhar o processo dele, de descoberta do traço, vocês estão acompanhando? Ilha do tesouro? Vale muito a pena, é muita doideira. A Gabi lovelove6, acho animal. O Gabriel Góes também não publica muito, mas acho um gênio da raça também. Tem uma galera muito boa.

Gosto muito do meu pai, ainda, admiro muito ele. As coisas que ele faz me tiram do eixo, assim: puta como que ele pensou isso? Tá muito maduro e tá voando, acho que é a melhor fase dele.

Laerte e Rafael Coutinho

Laerte e Rafael Coutinho

Como ela[1] te influenciou?

“Como ele não me influenciou?” deveria ser a pergunta. É impossível de responder isso… em pouco tempo. [risos]

Que diferenças você vê entre a geração dela e a sua?

É isso aí que a gente falou. Tudo mudou, a vida mudou. Toda a vida na terra mudou. Não dá nem pra comparar, é outra realidade, mesmo, outro planeta. Outra relação, o consumo mudou, tudo mudou. É muito tempo. E era ditadura, agora é crise na Europa, China em crise… Não tem nem como comparar, assim.

Como você começou a fazer quadrinhos? Fazia desde criança?

Eu brincava. Eu brincava, só. Não era muito obsessivo em fazer histórias uma atrás da outra, não. Gostava de desenhar, e tinha essa relação com meu pai. Acho que desde cedo eu desenvolvi um desenho que impressionava meus colegas, e virou uma ferramenta de fazer amigos. Mas eu vi os meus cadernos de desenho hoje em dia e eram bem… De diversão, ficava pirando em robôs, coisa de videogame da época. Curtia os anos oitenta no Brasil, então achava legal ficar fazendo uns personagenzinhos meio sacanas. Mangás, o início do mangá no Brasil, eu queria fazer uma coisa meio mangá. Aí teve uma época que eu curtia rap e tal, fazia uns manos com umas roupas largonas… Aí desenho de menino tarado, umas mulheres gostosas… Mas eu tinha esse desenho de garoto, não era nada super impressionante, não. Era tecnicamente bom, acho, eu tinha essa base em casa. Mas acho que eu comecei a levar mais a sério só na faculdade.

Você fez faculdade de que?

Fiz artes plásticas na Unesp. Foi lá pelo segundo ou terceiro ano que eu comecei a ver uma galera fazendo fanzine e achei que podia tentar. Sociedade Radioativa, chamava.

Era só seu ou era em grupo?

Não, tinha um monte de gente que tá na ativa até hoje. O Caeto, o Ulisses Garcez, o Daniel Gisé, aí tinha um pessoal de banda, tinha uns poetas, tinha um pessoal de texto… O Rafael Moralez publicou ali, o Alexandre Teles. O João Riveros. Era assim, tinha muito macho (risos). Muito machista a revista.

Mas foi legal, eles já existiam há uns quatro anos, eu entrei e aí rolou mais uns quatro. Eu acho que a revista existiu uns oito, dez anos. E ali eu testei as primeiras histórias, fiz uma história longa ali, de umas quarenta páginas, seriada. Testei umas médias, curtas, materiais diferentes, pincel, caneta… Um período de tentar descobrir meu traço.

E como se dá seu processo criativo?

Ele é totalmente fragmentado e esquisitíssimo. Hoje em dia ele parte de uma coisa muito disciplinada de uma organização do meu cronograma. Porque virou essa montanha russa, essa quantidade muito grande de projetos. Tem muita coisa toda hora precisando de atenção constante. Então meu dia é muito fragmentado. Sentar e desenhar tranquilamente, isso são dias, horários, períodos muito chaves, que eu preciso organizar com muita antecedência.

Em que momentos você tem as ideias?

Elas geralmente são em função dos projetos. Eu tenho muita ideia caminhando. De casa pro trabalho, do trabalho pra casa… Mas não paro em nenhum momento, em nenhum momento eu paro. Eu fico pensando o tempo inteiro, fico achando soluções pra pequenas histórias, pros meus projetos. Durante o dia, em casa, brincando com meu filho… Às vezes eu tô brincando mas eu tô pensando, estou olhando além dele. Aí eu percebo e me sinto mal, e tento voltar. Mas acho que é a realidade de todo mundo que cria, assim, metade da cabeça fica flutuando nesse lugar. É o tempo inteiro.

Mas para realizar eu sigo um cronograma bem… Sentar para fazer roteiro, sentar para desenhar… Faço os esboços, pesquisa online de fotos, de referências que eu preciso. Faço muito por etapa, preciso muito me organizar para não ficar perdido, mesmo. Angustiado. Saber quanto tempo vai durar o projeto minimamente, mesmo que eu vá enlouquecer e perder todos os prazos sempre, e constantemente recalcular ele dentro da minha vida. Só assim que eu consigo realizar e terminar isso. Projetos não concluídos me deixam muito louco. Não consigo conviver muito bem com eles.

Agora que terminou “O Beijo Adolescente”, você está fazendo algum outro livro?

Tem o “Mensur” que eu entreguei no começo do ano, mas eu ainda quero fazer pequenos acertos, tem ainda umas vinte páginas que eu quero fazer de extra. Mas é pouca coisa, na verdade. Ele já está com 200 páginas, está pronto. Daria pra ir para a gráfica, mas como faz muito tempo, tem quase cinco anos, eu queria mexer em todos os textos. Agora, deixando o “Beijo” de lado, é isso. Terminar o “Mensur” e fechar o ano.

E tem alguns outros projetos grandes, a gente finalmente formalizou e finalizou a “Baiacu”, que é um projeto grande do meu pai e do Angeli que eu me envolvi. É uma revista-livro de quadrinhos, são quatro por ano e todas elas são fruto de uma residência artística de quadrinistas. Um projeto gigante de ano. A gente conseguiu aprovar na [Lei] Rouanet, então agora estamos procurando captação. Mas é um projeto grande, pra ano que vem, que a gente precisa começar a correr firme agora. Primeira vez nesses últimos dois anos, tocando o Baiacu meio de ladinho, que a gente vai de fato pegar ela com força.

 

O Fabuloso Quadrinho Brasileiro

E como anda o “Fabuloso Quadrinhos Brasileiro de 2015”?

O “Fabuloso” está rolando, estamos na fase de diagramação. A gente fechou os artistas, avisou todo mundo. Foi um processo seletivo. Passava para o público, o público mandava, passava pela mão desse nosso editor convidado, que é o Erico Assis.

Conta um pouco o que é esse projeto.

A ideia era fazer um compilado nos termos do “Best American Comics”. Algo que fosse do nosso jeitinho, como a gente gostaria que fosse, tendo um produto do quadrinho brasileiro e todos os desdobramentos peculiares que ele propõe, diferente do norte-americano. A gente não tem essa tradição americana, nem esse interesse de fazer histórias indie e meio autobiográficas bem fechadas, num humor, num registro de humor judeu-americano de idiossincrasias pequenas e esse retrato dessa vida cotidiana. Acabou virando a tônica do quadrinho indie norte-americano, canadense.

O “Best American Comics” é uma atrás da outra, meio nesse jeito. É lindo porque são várias vidas plurais, malucas, cada artista de um jeito, e tal. Mas virou essa vibe Fantagraphics [editora norte-americana] de se fazer história. Uma tradição, uma escola. A gente não tem isso, [o compilado] tem que se adaptar à nossa real, à nossa produção.

E foi lindo, a gente recebeu 259 projetos. E coisas muito boas apareceram ali que a gente não conhecia, que eu não conhecia.

E quantos foram selecionados?

Foram selecionados 33 artistas, ao todo serão 298 páginas, em 19 cadernos. A ideia é tentar fazer uma coisa anual, que represente da melhor forma possível, mais justa possível, o que melhor foi produzido desse cenário. E tentar variar também o perfil dos editores. Existe, claro, um perfil nosso, meu, da Clarice [Reichstul, também editora do livro], do que a gente gosta de ler e acompanha. Não vai ter muito quadrinho de super-herói. Talvez nenhum. Mas vai ter o “Capitão América e Seus Amigos”, que é maravilhoso.

O Beijo Adolescente

E “O Beijo Adolescente 3”, está pronto?

Cara, tá na gráfica. Tem que ficar pronto em duas semanas para eu levar para Brasília. Agora, terminando, é gostoso, né? É uma sensação de “até que não foi tão difícil assim”. Mas foi, muito. Muito extenuante, difícil. Foi bem mais complicado do que eu imaginava. Ficou mais difícil, mesmo, tecnicamente. Meu desenho mudou também, acho que eu fiquei um pouco mais noiado e exigente e mais detalhista… A cor também ficou bem mais complexa, o “Beijo 2” já tinha subido, aí a Julia Balthazar entrou, veio trabalhando aqui na Narval, e ela é uma baita colorista, então a gente também definiu um lugar alto e ela manteve numa altura muito frenética, então tá incrível. Em termos de cor tá maravilhoso.

Mas foi isso, eu comecei o “Beijo” naquele período em que a Narval estava pior. Que a gente quase fechou. Então foi um projeto que sofreu muito em função disso. Foi o período em que eu estava com o filhote pequeno e foi o período em que eu, pessoalmente, fiquei com pouco trabalho. E tive que fazer muitas concessões para esses projetos andarem, projetos que não davam grana. A Narval, as publicações da Narval, esses projetos vários que a gente não conseguiu concluir aqui dentro… 2014 foi um ano muito difícil e o “Beijo” sofreu muito. Eu tive que parar ele várias vezes e isso é muito cansativo. Tive que garantir grana para abrir uma janela de uma ou duas semanas, para voltar um pouquinho, parar de novo e conseguir grana, pra parar um pouquinho…

"O Beijo Adolescente 3", de Rafael Coutinho

“O Beijo Adolescente 3”, de Rafael Coutinho

Foi financiado pelo Catarse, certo?

Foi, mas é isso, toda a grana que eu recebi, que era meu cachê do Catarse eu tive que usar sobrevivendo, fazendo a empresa sobreviver. Foi aquele período de dois, três meses no começo do ano. Então foi complicado, quase pedi arrego várias vezes. Ficou um estigma, virou um fantasma lá em casa, falar do Beijo…

Aí junto com o “Mensur” [próximo livro de Rafael], começou a virar uma bola de neve, que era um projeto que eu estava devendo há muito tempo, mais ainda, três anos. Que eu comecei a ser muito pressionado para entregar.

Trecho de "O Beijo Adolescente 3"

Trecho de “O Beijo Adolescente 3”

E ele é para adolescentes?

Então, não. Era, mas não é. Não é, eu não soube fazer para adolescente, e meu público visivelmente é mais velho e compra o papo adolescente. Os mais velhos são adolescentes hoje em dia, então tá tudo certo. Mas eu não tive essa entrada, não consegui achar essa porta de entrada no mundo do consumo adolescente, né, que é um consumo muito específico. Popularizar um quadrinho para adolescentes é quase insano. Uma meta impossível. E nem acho que deva acontecer dessa forma, assim, você faz a coisa, mira num conteúdo que você está a fim de fazer, era um papo que me interessava, e eu não tratei de um jeito adolescente, não facilitei o texto para adolescentes curtirem. Continuei escrevendo porque eu curtia.

Mas você acha que ele foi mudando?

Eu acho que um pouco. Talvez, o primeiro era um pouco mais adolescente, talvez, mais simples. E tinha, eu acho, que um desejo de fazer ele um pouco mais leve, não tão pesado. Porque era para o [portal] IG, então drogas, sexo, essas coisas, não entrava muito. Bem de leve. Porque existia essa possibilidade do IG gongar. Nem era uma coisa real. E depois, logo que saí do IG, eu soltei completamente. Quero soltar mais ainda. Porque é o que a história pede, eu gosto, não tem nada me segurando nesse sentido. Não preciso facilitar para nenhum adolescente. Até porque pelo amor de deus, os adolescentes são muito mais maliciosos do que todos nós juntos.

Mesmo assim vendeu bem?

Vendeu bem, a gente reimprimiu o 1. O 2 a gente ainda não reimprimiu porque ficamos muito mal de grana, e estamos esperando sair o 3. O 3 foi isso, eu redefini o prazo de entrega oito vezes, assim. Sempre achando que ia dar, e tinha que parar de novo.

 

A Nébula

Agora vamos para outro projeto grande seu, que foi a Nébula. Como começou?

Esse foi quase um projeto desses de encomenda. Caiu um pouco no meu colo. O Medium estava querendo fazer algo similar ao “The Nib”, que aconteceu nos Estados Unidos. O “The Nib” tinha sido comprado pelo Medium. Era um blog antes, um site de um cara chamado Matt Bors. O “The Nib” estava dando resultados interessantes para o Medium e eles queriam fazer algo similar uma vez que o Medium no Brasil tinha sido inaugurado fazia um tempo e estava dando bons resultados. E mais tarde eu entendi que eram manobras e articulações da plataforma para tentar popularizar o site.

Aqui no Brasil, né?

Aqui no Brasil e lá também. Então eles estão indo em formadores de opinião e gente que cria conteúdo para popularizar. Isso era uma etapa e acho que essa etapa se concluiu, a entrada no Medium começou a aumentar e aí eles passaram para uma outra etapa que é não pagar por conteúdo mais.

Mas você não sabia que ia ser assim?

Não, não sabia.

Que você achou?

Eu acho merda na verdade. Sinceramente. Acho ruim. Não merda… O Medium não tem nenhuma obrigação de me dizer nada disso. Eu tentei fazer com que o contrato fosse maior desde o começo e não consegui. Eles queriam realmente uma coisa menor. E aí conversando com o editor daqui a gente entendeu. Ele acreditava muito e eu acho que eu quis muito acreditar que isso seria longevo. E… não foi. Acho merda porque acho que a gente está dentro desse jogo que é o artista-empreededor ou arte-empreendimento, que se joga hoje com tanta naturalidade, como se fosse uma coisa quase que óbvia, né? Na forma com que a gente assimila e entende arte hoje em dia.

Acho que o quadrinho tá saindo muito mal. Ou não está querendo fazer as concessões necessárias, o que pode ser uma coisa até boa, ou não tá aprendendo os mecanismos com tanta rapidez quanto outras expressões artísticas, ou simplesmente está sem rumo ainda, ainda não se encontrou dentro desse contexto atual. Mas o fato é que a gente é muito usado como ferramenta de manobra mesmo. A gente é esse facilitador. Esses dias estava conversando com uns amigos que são “facilitadores gráficos”, que é um negócio que tá se popularizando hoje em dia, que são desenhistas contratados por empresas para explicar graficamente uma palestra ou um workshop de uma empresa grande… Eles vão para um hotel fazenda com toda a equipe da Nokia, tipo 500 pessoas para apresentar institucionalmente um conteúdo.

Me veio essa ideia de que todos nós viramos facilitadores gráficos na verdade. E que o quadrinho no Brasil tem virado essa ferramenta de facilitação gráfica. Seja para publicidade, então a gente é usado como storyboardista, ou como ilustrador de conteúdo para revista e para site. A gente vive nesse lugar estranho que é um meio do caminho entre estabelecer a nossa independência e nossa poética como artista e ao mesmo tempo desesperadamente precisar desses convites para pagar as nossas contas. É um meio ainda muito carente.

Mas você não acha que isso acontece com outros tipos de artistas?

Eu não sei, acho que todos padecem de algum tipo de carência. Acho que existe esse problema mesmo. Espera-se que nós sejamos esses empreendedores de nós mesmos, do nosso próprio conteúdo. E eu acho que existe uma dificuldade muito grande se empreender. Porque não necessariamente é um conteúdo “empreendível” (risos), às vezes ele é só subjetivo e plástico e poético. 90% dos meus amigos artistas não são empreendedores. Eles saem exaustos de um processo de imersão nas suas próprias poéticas para ainda ter que atualizar blog, fazer interface com o público e marketing pessoal.

Você acha que essa é uma questão do Brasil hoje?

Não, pelo contrário. Esses dias eu li um texto muito bom da Jessica Abel, uma baita quadrinista reconhecida mundialmente. Ela estava falando que vive essa mesma condição. Ela é americana, casada com outro cara muito bom chamado Matt Madden. Eles são editores da “Best American Comics”.

Mas não acho que seja uma coisa só do quadrinistas. Pintores padecem de um mal similar, atores. É que cada um vive uma condição, uma realidade. Quadrinho hoje em dia é muito online. Muito, muito online. E aí acho que a gente é muito preso a essa condição, por exemplo, aos presets do Facebook. Então a ideia de um público, do quanto você alcança com o seu trabalho, a própria venda dos seus livros, está muito atrelada a quantidade de seguidores que você tem e de views.

Mas você acha que a Nébula mudava isso de algum jeito?

Não, a Nébula foi um retrato muito claro e óbvio disso. A gente era um termômetro quase que imediato do quanto cara divulgou no Facebook. Era um conteúdo de graça que as pessoas só tinham que clicar e ler e no entanto muitos dos artistas tiveram apenas 300, 500 views. Então para mim ficou muito evidente que a gente vive em função dessas limitações novas do Facebook, e além disso existe um certo cansaço do meio nesse empreendedorismo, ficar fazendo rede social. O cara tem que ficar se divulgando constantemente senão ele é esquecido…

Sobre a Nébula, entendi que foi um projeto temporário, de manobra. Mas enquanto durou…

Eu só queria dizer que foi muito bom. Foi ótimo. Foi excelente.

Eu tive a impressão que a Nébula, os artistas tinham liberdade total em criar seus próprios trabalhos.

Total. Foi muito legal. A parceria com o Leandro Demori foi incrível, um cara sensacional mesmo, virou um grande amigo. Eu admiro ele muito. O pessoal do Medium foi muito profissional. Eles poderiam ter me avisado? Poderiam. “Ó, a gente vai cortar daqui a 6 meses”. Essa é a parte chata. Não gostei, não gosto, nunca vou gostar de ser usado dessa forma, sem que as coisas fiquem transparentes. Mas talvez a própria empresa não soubesse. Os diretores imediatos talvez não soubessem dessa mudança mundial. Foi uma mudança mundial e meio súbita. Mas acho difícil, acho que a galera sabia e era uma etapa. Eles queriam testar e aumentar views e entrar no Brasil.

Trecho de "Relatos da Greve em Curitiba", de Guilherme Caldas, sobre a greve de professores paranaenses que sofreu forte repressão da polícia, em maio de 2015. Leia inteira aqui

Trecho de “Relatos da Greve em Curitiba”, de Guilherme Caldas, sobre a greve de professores paranaenses que sofreu forte repressão da polícia, em maio de 2015. Leia inteira aqui

Mas é isso: é triste, mas também é muito bonito de ver que com muito pouco se produz as maiores pérolas dos últimos tempos. Eu vi na minha frente quadrinistas florescerem, fazerem seus melhores trabalhos na Nébula, sabe? Coisas que me emocionaram muito. E ver eles se posicionarem, se engajaram politicamente contra isso, a favor daquilo. Gente que eu admiro muito, que eu pude trabalhar pela primeira vez, que eu pude contratar e pagar uma coisa mínima que fosse para fazer um conteúdo livre e que também podia ser reutilizado quando ele quisesse. Então nesse sentido foi ótimo, foi muito bom.

Como era a curadoria?

Putz, eu parti do meu desejo de trabalhar com gente que eu gostava e admirava. Todo mês eu tentava fechar um grupo que fosse composto de jovens que não tinham publicado muito mas que eu achava muito bons, caras da minha idade que eu gosto muito e já se estabeleceram como artistas conhecidos com trabalho maduro e um ou outro medalhão, projeto especial um pouco mais custoso também. Tinha um argentino em Berlim fazendo uma HQ para a Nébula… Foi meio assim.

[1] Na entrevista, Outras Palavras referiu-se a Laerte sempre como “ela”. Seu filho tratou-o por “ele”. A edição preferiu manter a diversidade destas formas de tratamento

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