SP sem água, 1º a 9/11 – As pernas muito curtas da mentira

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Nova queda no nível das represas, em meio a chuvas, desmascara argumentos do governador e demonstra: causa essencial da crise é gestão criminosa do sistema de abastecimento

Por Camila Pavanelli de Lorenzi

08 e 09/11

– Se até outubro a manchete sobre a falta d’água mais repetida em todos os jornais paulistas foi alguma variante de “Nível do Cantareira continua a cair”, em novembro isto mudou: agora, a manchete que vemos todo dia nos jornais é “Nível do Cantareira continua a cair *apesar das chuvas*” (http://bit.ly/1EjjvVz) (http://bit.ly/1tSlXj7).

– Recordar é viver (1): um especialista já disse que só depois de um mês de muita chuva o sistema voltará a encher (http://bit.ly/1wnDalo).

– Recordar é viver (2): o sistema está demorando a encher justamente porque já avançamos sobre o volume morto, o que provocou o aumento da absorção de água pelo solo (vide link acima).

– Conclusão óbvia e nada brilhante mas que precisa ser dita: se o governo do estado, já no começo do ano, tivesse implementado medidas como racionamento, fim dos descontos para grandes consumidores, multas por consumo excessivo etc., hoje poderíamos a) ter preservado o volume morto dos reservatórios; b) ter manchetes “nível do Cantareira volta a subir”.

– Mas o que temos para hoje é: como convencer as pessoas de que é preciso continuar economizando água mesmo que esteja chovendo (http://glo.bo/10JYqGK)? Em outras palavras – de que adianta especialistas alertarem que “a estiagem vivenciada é só uma mostra do que virá pela frente” quando o governador de São Paulo afirma que “o período mais crítico da estiagem já passou e (…) a crise hídrica está com seus dias contados” (http://bit.ly/1EmTlmS)?

– Embora a crise esteja com os dias contados, só por via das dúvidas Alckmin se reunirá com Dilma amanhã para juntos buscarem “uma saída para a crise hídrica em São Paulo” (http://bit.ly/1uUwxd5). Oremos para que esta saída não seja o aeroporto.

07/11

– Adivinhem: não só não falta água em São Paulo agora (http://bit.ly/1ACEhCY) como também não faltará no ano que vem (http://bit.ly/1pyuitN) e inclusive não apenas jorrará água das nossas torneiras como também leite, mel e cerveja e vocês me desculpem mas não estou sabendo mais o que dizer sobre essas declarações diárias de que não-falta-e-não-faltará-água.

– Em compensação, eis uma reportagem sobre a qual há muito o que dizer e discutir: a BBC Brasil explica o que 6 cidades do mundo fizeram para garantir o abastecimento de água à população, e quais das estratégias utilizadas poderiam ou deveriam ser empregadas em São Paulo (http://bbc.in/1ACFXMQ). Spoiler: Nova York vem investindo desde 1990 na proteção de mananciais. E São Paulo? Como temos visto, a grande solução que está sendo considerada por nossas autoridades neste momento (foi proposta pelo governo de São Paulo e considerada viável pela ANA) é a transposição do Rio Paraíba do Sul (http://bit.ly/1teiveU). O problema disso, nas palavras da especialista em recursos hídricos Marussia Whatley, é que o plano de São Paulo é “[avançar] sobre outras fontes de água sem cuidar da água que tem disponível atualmente”. Ou seja. Passear na Quinta Avenida musical na Broadway cooper no Central Park selfie na Estátua da Liberdade – todo mundo qué. Preservar manancial que é bom – isso ninguém qué.

– Lembram-se de quando a presidente da Sabesp disse que ordens superiores impediram a empresa de convocar a população a economizar água? (http://bit.ly/1wl1O8O) Pois bem: hoje ela explicou que estava errada e as ordens superiores é que estavam certas, já que 80% dos clientes da Sabesp acabaram economizando afinal (http://bit.ly/1otZ6Lw). O interessante é que ela apresentou esse mea-culpa por escrito, recusando-se a falar a respeito.

– Mas não foi apenas sobre isso que Dilma Pena se recusou a falar. Ela também se recusou a afirmar que o plano da Sabesp vai dar certo: “não [tenho] como afirmar se as medidas (adotadas diante da seca) serão suficientes para evitar problemas no abastecimento de água caso o regime de chuvas persista da maneira anômala atualmente vivida” (http://bit.ly/1otZ6Lw).

– Vamos lá: a presidente da empresa de saneamento que atende 364 municípios paulistas (http://bit.ly/1ACQbgf) está dizendo que, se não chover, ela não garante nada. Reparem que não é um jornalista esquerdinha, um ecologista hippie ou uma blogueira em pânico quem está dizendo isso. É a presidente da Sabesp.

E esse foi o boletim de hoje. Podem entrar em pânico que no domingo tem o boletim do fim de semana.

06/11

– São Paulo irá aumentar a captação da represa Guarapiranga (http://bit.ly/10uOkcF). A parte da notícia que o governo quer que você leia é: “a captação do Guarapiranga [irá] ajudar a população que recebe água do Cantareira”. Já a parte da notícia que eu gostaria que você lesse é: “Com a manobra (…), a represa pode chegar no fim da estação chuvosa com baixa reserva para enfrentar a próxima temporada de seca.”

– Uma notícia de ontem que deixei passar: São Paulo irá tratar esgoto para consumo humano (http://bit.ly/1u0lXyS). A parte da notícia que o governo quer que você leia é: “Alternativa para reduzir a dependência do Sistema Cantareira, a medida vai resultar na produção de mais 3 mil litros de água por segundo, suficientes para abastecer 900 mil pessoas.” Já a parte da notícia que eu gostaria que você lesse é: “As duas estações deverão ficar prontas no fim do próximo ano.”

– Uma coisa, porém, é preciso dizer: a única crítica possível a essa iniciativa do governo estadual é que ela não tenha sido realizada ANTES – e que esteja sendo vendida agora como solução emergencial para a crise quando é uma obra de infraestrutura que há muito poderia (deveria) ter sido feita.

– Com relação à crítica “ai-credo-beber-esgoto-que-nojo”, podemos por favor ler a matéria e ver o que dizem os que entendem do assunto?  “Já adotada em outros países, a água de reúso para consumo é defendida por especialistas em recursos hídricos, uma vez que, após ser jogada no manancial, essa água passa novamente por tratamento antes de chegar à torneira. ‘Isso não é um problema, mas o esgoto precisa ter um nível alto de tratamento para ser jogado na Represa do Guarapiranga’, disse Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial de Água” (http://bit.ly/1u0lXyS).

– Ou seja: a obra permitirá o lançamento de esgoto *já tratado* no manancial, que então passará por um segundo tratamento. Aliás, vale ressaltar que atualmente, na vida-como-ela-é, esgoto *não tratado* é jogado cotidianamente no manancial (http://bit.ly/1u0lXyS).

– Outra especialista que apóia a iniciativa é Malu Ribeiro, da Rede Água SOS Mata Atlântica. Malu é autora do ótimo artigo “São Paulo pode parar por falta de água”, publicado em 21 de março deste ano (http://bit.ly/1EmS0MT).

– De resto, tudo como sempre: enquanto especialistas advertem que a seca deve continuar (http://bit.ly/1wEhGjr) e a crise no abastecimento pode piorar em 2015 (http://bit.ly/1uDnEEJ), Alckmin segue convicto de que o pior já passou (http://bit.ly/1EmTlmS).

– E numa cidade chamada Bebedouro, uma rádio oferece como prêmio mil litros d’água (http://bit.ly/1E9pnkd).

05/11

– Alegria de paulista dura pouco: voltou a cair o nível do Cantareira. E mais: o nível da Guarapiranga caiu bruscamente de novo (0,4% num só dia). Também, pudera: a represa agora abastece parte da população que costumava ser atendida pelo Cantareira (http://bit.ly/1qqpamt).

– Hoje foi um dia movimentado na CPI da água na Câmara dos Vereadores de São Paulo: depuseram o presidente da ANA e um ex-diretor da Sabesp, que defendeu a isenção de impostos para a empresa e afirmou que, de 2007 a 2010, “nenhuma outra empresa teve um crescimento tão forte em investimentos” no Brasil (http://bit.ly/1uy5vYh).

– Quanto ao depoimento do presidente da ANA, Vicente Andreu, o comunicado de imprensa da ANA acaba sendo mais informativo do que as matérias que saíram nos jornais. É apenas neste comunicado que podemos ler a explicação de Andreu sobre as competências dos órgãos estaduais e federais na gestão dos recursos hídricos: “Compete aos órgãos estaduais a regulação e gestão das águas subterrâneas e das águas superficiais com nascente e foz no estado; e compete ao órgão federal, as águas superficiais com fronteiras com outros países ou que cruzam mais de um estado. O Cantareira é híbrido e os reservatórios têm domínio alternados. Na renovação da outorga do Sistema Cantareira, em 2004, a ANA delegou a competência para o DAEE para unificar a regulação. Por isso, o órgão que tem a gestão completa do Sistema é o DAEE, mas, ao longo desses dez anos, toda a regulação foi feita de forma compartilhada com comunicados e resoluções conjuntas ANA-DAEE” (http://bit.ly/1s6KzRk).

– Esta matéria (http://bit.ly/1uy5vYh) deu mais destaque ao pedido de desculpas de Andreu pela frase: “É mais fácil o Palmeiras ser campeão que o plano da Sabesp dar certo” (http://bit.ly/1wof7Si). Não sei vocês, mas quando leio o título “ANA: comparação da Sabesp com o Palmeiras foi infeliz”, fico com a impressão de que Andreu admitiu que seu julgamento foi errôneo e que o plano da Sabesp, no fim das contas, não é de todo mau.

– Aí a gente lê o que Andreu efetivamente disse e surprise, surprise: ““Foi uma frase infeliz feita em um grupo de amigos. (…) Mas o primeiro estudo da Sabesp não era um estudo que oferecia qualquer consistência técnica. A crítica ao estudo eu mantenho, a frase não. Peço desculpas publicamente por ela” (http://bit.ly/1uy5vYh).

– Ou seja: a opinião do presidente da ANA sobre o plano da Sabesp NÃO MUDOU. Ele desculpou-se apenas pela – de fato, completamente ridícula – comparação com o Palmeiras, que só serve para desviar o foco do problema (“Hehehehe que piada o Palmeiras, hein? Meu time é bem melhor que o Palmeiras hihihi hohoho”).

– Além disso, Andreu afirmou que a transposição do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira – uma proposta do governo de SP – é possível e está prestes a ser viabilizada (http://bit.ly/1teiveU).

(- Perguntar não ofende: será que Aloysio Nunes, que há duas semanas chamou Andreu de vagabundo (http://bit.ly/1FzXYeS), mantém a mesma opinião agora que o presidente da ANA concordou com uma proposta de Alckmin? Dúvidas, dúvidas.)

– Li três matérias diferentes sobre a opinião favorável de Andreu à transposição do Paraíba do Sul: (http://bit.ly/1sgLhwd) (http://bit.ly/1teiveU) (http://bit.ly/1zx6oC5). Proponho aqui um exercício: procure os termos “ambiente” ou “ambiental” em cada uma delas.

– Aparentemente, o tema “impacto ambiental da transposição” sequer chegou a ser seriamente considerado na CPI (ou ao menos não o foi pela imprensa). A discussão parece ter girado em torno dos interesses de cada um dos estados envolvidos – SP, RJ e MG.

– E no entanto, o MPF entrou com uma ACP para impedir a transposição devido justamente aos prováveis prejuízos ambientais que a obra traria (http://bit.ly/1ohupJi).

– Em suma, os prejuízos ambientais que a obra pode acarretar parecem uma questão muito menos importante do que esta outra: qual estado vai ficar com mais água, ao fim e ao cabo.

– Claramente, esta crise até agora não nos ensinou nada.

04/11

O boletim de hoje traz mais perguntas do que respostas.

– Comecemos com uma boa notícia: nesses três primeiros dias de novembro, choveu quase tanto quanto no mês de outubro inteiro. Com isso, pela primeira vez desde 26/09, o nível do Sistema Cantareira não caiu. Em compensação, o Alto Tietê caiu de 8,8% para 8,7% e a Guarapiranga de 38,4% para 37,9% (http://bit.ly/1tFhHot). Dúvida: o que explica essa queda tão brusca – 0,5% em um só dia – na Guarapiranga?

– Para termos uma ideia do que esses números representam, é bom lembrar que, em 2000, houve racionamento de água na cidade de São Paulo. A Guarapiranga estava em 20,2% de sua capacidade, o Cantareira em 40,4% e o Alto Tietê em 60,9% (http://bit.ly/10rN0HF). A Sabesp decidiu que o racionamento só terminaria quando a Guarapiranga voltasse a 40% de sua capacidade (http://bit.ly/1yVTb2M) – mais, portanto, do que a represa tem atualmente. Eis como a Sabesp justificava a necessidade de racionamento até que a Guarapiranga estivesse novamente com 40% do seu volume operacional: “O percentual é estimado pela Sabesp tendo como base o nível da represa em anos anteriores e uma margem de segurança para a estação seca do ano que vem.” Dúvida: o que aconteceu com essa “margem de segurança para a estação seca” na crise atual?

– De setembro para outubro, caiu o número de domicílios que conseguiram reduzir em mais de 20% o consumo de água (http://bit.ly/1xZyO3u). Conforme o verão se aproxima, não são só as chuvas que (teoricamente) aumentam (muito teoricamente, aliás: choveu menos em outubro que em julho – http://bit.ly/1unr9yO); o consumo de água também costuma aumentar (http://glo.bo/1AcWIOu). Dúvida: o aumento das chuvas nos próximos meses será suficiente para contrabalançar o aumento no consumo?

– Como falta água nas torneiras, muitas pessoas no interior de São Paulo têm recorrido a bicas. Uma dessas bicas fica na beira de uma estrada em São Roque, em uma curva. Resultado: ontem, uma mulher morreu prensada por um carro enquanto pegava água da bica. É a oitava morte que ocorre no local este ano (http://bit.ly/1vEREKY). Dúvida: quantas mortes terão ocorrido no mesmo local no ano passado?

– Em Itu, há casas que não recebem água há mais de um mês (http://bit.ly/1uriKKM). Várias reportagens já foram feitas mostrando a saga diária dos ituanos em busca de água – esta de hoje é apenas a mais recente delas. No entanto, resta uma série de questões que não vi serem respondidas até agora.

– Antes de começar com as questões, acho importante considerar o argumento de que, como Itu é abastecida por uma empresa privada que venceu uma concorrência pública realizada pela Prefeitura (http://bit.ly/1txgy0L), o governo do estado nada tem a ver com o que acontece por lá.

– Ora, ocorre que as outorgas de uso dos recursos hídricos do estado são concedidas pelo DAEE, órgão estadual; a outorga é um “instrumento da Política Estadual de Recursos Hídricos” (http://bit.ly/1zv08uE). Em suma, Itu não é uma ilha nem fica em outro planeta (aliás, fica a meros 102 km da capital): não adianta fingir que os problemas da cidade não têm relação com o restante do estado só porque ela não é atendida pela empresa de abastecimento estatal.

– Um pouco sobre a história da gestão dos recursos hídricos de Itu, cidade com uma longa tradição de falta d’água (http://bit.ly/1usVWto):

– Não é de ontem (http://bit.ly/1vFtq34) que a população de Itu atribui a falta d’água à falta de chuvas, pedindo ajuda aos santos de sua devoção para que chova. No entanto, o estudo de um geógrafo ituano constatou que Itu não é mais árida que cidades vizinhas, e que o real problema da cidade é a falta de investimentos. “Rodrigues analisa que existiram obras de saneamento, mas foram muito distanciadas umas das outras, de modo que a demanda sempre cresceu mais rápido do que a oferta de água. Exemplo disso era a existência, à época da pesquisa (2006), de redes e filtros de água obsoletos e mais de 5 mil hidrômetros avariados. Esses e outros detalhes ocasionavam perdas de 55% da água tratada, sendo 43% relativos a perdas físicas” (http://bit.ly/1usVWto).

– Em 2007, a concessionária Águas de Itu assume os serviços de abastecimento da cidade. Em 2010, o prefeito “aposta todas as fichas na Águas de Itu e dá o problema de falta de água como um assunto do passado” (http://bit.ly/1usVWto).

– Em seu site, a empresa afirma que “Durante o período de concessão, que será de 30 anos, a Águas de Itu vai investir na recuperação, melhoria e ampliação dos sistemas de água e de esgoto no município” (http://bit.ly/1txgy0L).

Diante desse histórico, fico com algumas questões:

– Por que a Águas de Itu ganhou a concorrência pública – isto é, quais outras empresas concorreram e por que a Águas de Itu mostrou-se a mais preparada para assumir os serviços de saneamento da cidade? Que medidas a empresa se comprometeu a tomar e que obras se comprometeu a fazer para garantir o abastecimento na cidade quando venceu a concorrência? Quais dessas medidas e obras foram realizadas até agora? O que o DAEE, que é responsável não só pela concessão como também pela fiscalização da outorga, tem a dizer sobre a atuação da empresa?

– E mais: em que o decretamento de estado de calamidade pela prefeitura de Itu – recomendado pelo MP (http://bit.ly/1ut20Ch) – poderia beneficiar a cidade? Por fim – até quando a imprensa retratará o governo estadual como um agente externo disposto a “ajudar” a cidade (http://glo.bo/1tYw47d) em vez de caracterizá-lo como uma das autoridades diretamente implicadas na (e responsáveis pela) crise?

 

03/11

– Há cenários otimistas, há cenários pessimistas, e há o cenário completamente (su)real de agora: SP já começa a ter falta d’água e enchente ao mesmo tempo (http://abr.ai/1zsHPq1) (http://abr.ai/1Ghd8Gd).

– Este artigo que citei ontem (http://bit.ly/1wXGAeQ) afirma, sem citar fontes: “Com o atual ritmo de consumo e chuvas, a segunda cota do volume morto terminaria no dia 13 de janeiro”. Já este outro (http://bit.ly/1unr9yO), citando o professor Kachel,  afirma que o segundo volume morto acabaria no começo de março, mantido o cenário atual.

(Há bem pouco tempo atrás, lembro que ecologistas faziam a pergunta “que mundo queremos deixar para os nossos filhos?”. Eu não imaginava que, em novembro de 2014, eu estaria me perguntando “que mundo iremos deixar para nós mesmos em janeiro ou março de 2015?”)

– Mas vamos falar de coisa boa: não falta água em nenhuma escola de São Paulo! Pelo menos é o que diz o governador Geraldo Alckmin (http://bit.ly/10fFu24).

– Não falta água em nenhuma escola de São Paulo, mas falta água nestas trinta e quatro escolas da cidade de São Paulo: (http://bit.ly/1suoPlI).

– Não falta água em nenhuma escola de São Paulo, mas falta água nas escolas de Cristais Paulista, que fecharam devido à falta d’água e deixaram mais de dois mil alunos sem aula: (http://bit.ly/10fFHlX).

– Eu poderia citar outras matérias, mas gostaria de deixar o boletim de hoje um pouco mais curto para considerarmos com atenção o cenário atual:

– De um lado, temos um cientista afirmando que a segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira pode acabar já em março de 2015, e temos escolas fechando por falta d’água.

– De outro, temos uma empresa estatal de abastecimento que “acredita que a volta das chuvas (…) podem elevar o nível do Cantareira”, um governador que diz que “não temos falta de água em nenhuma escola” e uma imprensa que não tem capacidade de (ou interesse em) confrontar o governador com a realidade dos fatos.

01 e 02/11

– Este é o outubro mais seco em 12 anos para os sistemas Cantareira e Alto Tietê. No Cantareira, choveu 42,5mm – a média histórica para o período é de 130,8mm. No Alto Tietê, choveu 20,1mm – a média histórica é de 117,1mm (http://bit.ly/1wXGAeQ).

– Vale lembrar que a Sabesp trabalha com a previsão de chuvas dentro da média histórica nos próximos meses – com isso, o Sistema Cantareira chegaria a abril com 37% de sua capacidade. Este é apenas *um* dos cenários – o mais otimista de todos – com os quais a empresa trabalha. O mais pessimista deles é o que prevê chuvas em níveis semelhantes à da seca de 1953. O problema é que mesmo o pior cenário possível ainda é bastante otimista: segundo o professor de hidrologia José Roberto Kachel, “as vazões de outubro são 3,8 vezes menores do que as usadas no pior cenário do estudo apresentado pela Sabesp” (http://bit.ly/1unr9yO). Já a ANA, que trabalha com previsão de 70% da média histórica, afirma que em abril o Cantareira estaria em -5% – isto é, não teria recuperado sequer a totalidade do volume morto (http://bit.ly/1rsaIcS).

– Retomando o que aconteceu em outubro: fazendo uma regra de três simples, descobrimos que, no Cantareira, choveu 32,49% da média histórica; no Alto Tietê, 17,16%.

– Que ninguém tente me convencer, então, de que a Sabesp não está sendo absolutamente incompetente e irresponsável em prosseguir com esta previsão de “chuvas dentro da média histórica” para os próximos meses quando os números de outubro são 32,49% da média para o Cantareira e 17,16% para o Alto Tietê.

– A persistirem os níveis atuais de chuva e de consumo de água, a segunda cota do volume morto acaba em janeiro (http://bit.ly/1wXGAeQ).

– Mas não é só isso: a captação da segunda cota não está indo tão bem assim. A Sabesp “está com dificuldades de retirar água do volume morto da Jaguari-Jacareí porque o trecho próximo das bombas de captação virou um córrego raso. Na última sexta-feira, apenas três das 12 bombas estavam em operação. (…) Técnicos da área acreditam que, se todas funcionassem juntas, acabariam puxando o lodo do fundo da represa e seriam danificadas” (http://bit.ly/13weDRE).

– Existe vida após a segunda cota do volume morto? O que vem depois da segunda cota – a terceira? Para presidente da ANA, depois da segunda cota só há lodo (http://glo.bo/1w6eDUf).

– Para Alckmin, não vamos precisar da terceira cota – e não apenas isso como também não há nenhuma expectativa de racionamento (http://bit.ly/1vAPpbm).

– No estado onde não há nenhuma expectativa de racionamento, Itu, que está em racionamento desde fevereiro, sobrevive de caminhões-pipa e de ajuda humanitária (http://glo.bo/1GboYS5).

– No estado onde não há nenhuma expectativa racionamento, cidades estão decretando racionamento, cobrando multas por desperdício, fechando escolas (http://bit.ly/10fzuXy).

– ERRATA: o governo de São Paulo não pediu ajuda à Fundação Cacique Cobra Coral, no fim das contas (http://bit.ly/1o65Mzn). Com isso, o título de “Político Paulista a Firmar Parceria com Organização Sobrenatural” continua pertencendo exclusivamente ao ex-prefeito José Serra, como se vê na edição de 18/08/05 do Diário Oficial da Cidade (http://bit.ly/1rOcHs0).

– Apenas a título de comparação: um ano antes do convênio Prefeitura de SP-FCCC, em 2004, a Constituição uruguaia reconhecia a água como um direito humano básico e proibia a privatização dos recursos hídricos e dos serviços de água do país (http://bit.ly/1vAQ5xs).

E esse foi o boletim da semana. Pode entrar em pânico que amanhã tem mais.

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Um comentario para "SP sem água, 1º a 9/11 – As pernas muito curtas da mentira"

  1. Pedro disse:

    É bem verdade que a proteção das nascentes é muito importante, bem como a proteção dos rios.
    Porém a implantação do horário de verão acaba exacerbando o consumo de água, que já é grande em período de altas temperaturas.
    Solução permanente há. Com a palavra os especialistas.

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