Entre sensacionalismo e ética: produzindo imagens de guerra

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Fotojornalista premiado, o brasileiro André Liohn sustenta: vale a pena colocar-se em risco — para mobilizar os atores certos, não para agradar os donos de jornal

Por Camila Alvarenga

O fotojornalista André Liohn esteve na guerra civil da Somália e da Líbia, na Primavera Árabe e no terremoto do Haiti. Em 2011, foi preso na Síria. Paulista de Botucatu, ganhou o prêmio Robert Capa de 2011 por sua cobertura da guerra civil na Líbia.

O que levaria um profissional a arriscar a vida para trabalhar em áreas de guerra e zonas de conflito? O motivo de colocar-se em risco, para ele, é informar e mobilizar os atores certos, aqueles que podem buscar solução para os conflitos. E, para não cair no sensacionalismo e garantir cobertura de qualidade, é imprescindível ética e discernimento.

Não basta, contudo, estar numa zona de conflito. Para conseguir uma boa foto é preciso entrar na linha de fogo, “chegar mais perto”, como dizia o grande fotógrafo de guerra Robert Capa. Para André, a decisão de colocar-se em risco vai além de uma escolha pessoal. “Não posso tomar essa decisão baseado simplesmente na minha vontade e percepção. É preciso ver qual é a função disso”.

Sempre que possível, fotografava os hospitais, raramente poupados durante os enfrentamentos. Ficou marcado pela destruição causada pelo terremoto no Haiti, ao encontrar-se diante de médicos que debatiam como amputar a perna de uma menina de 2 ou 3 anos, num hospital improvisado. “Eu não sabia que tipo de fotografia poderia fazer daquela criança. Minha fotografia podia tirar a dignidade dela”, disse. “Por isso, muitas vezes não vale a pena publicar a foto, mas dá-la a alguém que possa fazer algo.”

Entram aí o discernimento e a ética. No entanto, a ética pode ser encoberta por interesses. “É ético eu ser tão intrusivo [para conseguir uma foto]? Como e por que estou sendo intrusivo? É preciso ter métodos que te orientem e reconhecer os seus limites”, afirma. “A ética não é um pedaço de concreto. É preciso moldar a ética dentro dos contextos”. Sobre a emoção, ou falta de emoção, ao fotografar – o que, com certeza, altera o resultado – ele diz: “Se eu for ficar pensando numa emoção, viro protagonista. Mas é óbvio que se eu não sinto emoção, não adianta”.

Desde 10 de setembro, André Liohn assina em Brasília, no Museu Nacional da República, a exposição “Assistência à saúde em perigo: Líbia e Somália”. “Não sou fotógrafo, não me interessa a fotografia de arte. O que me interessa são assuntos relevantes. A fotografia, para mim, é uma ferramenta”, afirma.

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Um comentario para "Entre sensacionalismo e ética: produzindo imagens de guerra"

  1. Jéssica Santos disse:

    O André Liohn arrasa, ele é muito competente. Um dos melhores fotógrafos da atualidade e É BRASILEIRO!!!

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