São Paulo: um Corredor Cultural contra especulação imobiliária

Comemoração da reabertura do Cine Belas Artes, em janeiro. Uma das conquistas do movimento que idealizou o corredor cultural

Comemoração do anúncio de reabertura do Cine Belas Artes, em janeiro. Uma das conquistas do movimento que idealizou o Corredor Cultural

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Entra em debate hoje proposta para criar, no coração da cidade, área em que a força da grana já não possa destruir coisas belas

Por Gabriela Leite

São Paulo sofre, há décadas, intensa especulação imobiliária que põe em segundo plano os interesses de seus cidadãos e a Cultura. Mas uma brecha pode estar se abrindo neste sistema. Um novo projeto, idealizado pelo Movimento Belas Artes (MBA), procura criar um Corredor Cultural que vai da região da Luz, no centro da cidade, até o bairro do Paraíso, passando pela rua da Consolação e avenida Paulista. Teria cerca de 8 quilômetros, em área densamente habitada e servida por farta rede de transporte público. Em seu entorno, a prefeitura ofereceria benefícios e incentivos a equipamentos culturais, criando um grande polo de cinemas, teatros, centros culturais, galerias e restaurantes, no coração da cidade. Esta proposta está em discussão e pode ser incluída no Plano Diretor Estratégico, que tem como relator pelo vereador Nabil Bonduki. Uma audiência, na Câmara Municipal, nesta segunda-feira (17), abrirá o debate sobre a ideia. Foi convocada, além do MBA, pelos vereadores Nabil Bonduki (PT) e Ricardo Young (PPS).

O MBA surgiu em 2011, após o fechamento do emblemático Cine Belas Artes, um dos últimos cinemas de rua e dos poucos na cidade a exibir uma programação fora do circuito comercial. Seu público, indignado com o fim de tal patrimônio cultural da cidade, articulou-se para lutar por ele. Conseguiram: no início deste ano, a prefeitura de São Paulo anunciou a reabertura, com o apoio da Caixa Econômica Federal. Mas… por que não ir além?

Diálogo sobre Corredores Culturais - para divulgação

A ideia do Corredor Cultural surgiu durante as discussões do MBA sobre como garantir uma reabertura duradoura do cinema e enfrentar as pressões permanentes da especulação imobiliária contra os espaços culturais da cidade. Imaginou-se definir, por meio de políticas públicas, uma área que incentivasse a Cultura de forma permanente e que fosse viável do ponto de vista financeiro. O movimento acredita que este incentivo não é incompatível com a atividade econômica. Ao contrário: ele pode gerar empregos qualificados e converter a região num polo de turismo não-convencional.

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O percurso do Corredor, do centro até o final da avenida Paulista, é interessante de diversos pontos de vista. Por ele circulam, todos os dias, milhões de paulistanos. Já há cinemas de rua, teatros e galerias. Nele localizam-se alguns dos museus mais importantes da cidade, como a Pinacoteca do Estado e o MASP. É irrigado por quatro linhas de metrô e centenas de linhas de ônibus. Passa tanto por lugares extremamente valorizados (como a Avenida Paulista) quando por alguns extremamente degradados (a região da Luz).

As duas situações são problemáticas para manter equipamentos de cultura — e os incentivos buscam enfrentar e reverter este problema. Cinemas e teatros poderiam valorizar as regiões degradadas sem ser, em seguida, expulsos pela alta nos preços do aluguel. Além disso, a proposta é reproduzível. Um primeiro Corredor Cultural, bem no centro da cidade, pode servir como exemplo e estimular a criação de espaços semelhantes, em mais áreas de São Paulo — ou outras cidades. O projeto, ainda em discussão, pode iniciar um combate real à especulação imobiliária, evitando que dite as regras do que deve ser preservado e construído em São Paulo.

A audiência acontece hoje na Câmara Municipal de São Paulo (viaduto Jacareí, nº 100, 1º andar), às 18h30.

 

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