Para tirar os primeiros venenos do seu prato

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Brasileiros ingerem 14 pesticidas ultra-tóxicos, proibidos em dezenas de países. Campanha quer vetá-los e chamar atenção para viabilidade da agroecologia

Por Bruna Bernacchio

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que mobiliza cerca de 70 grandes organizações, está divulgando nacionalmente um abaixo-assinado, que pode ser impresso ou assinado virtualmente, chamando atenção ao uso abusivo, no Brasil, de venenos usados nas lavouras. O alvo principal são 14 tipos de agrotóxicos, que têm em sua composição princípios ativos banidos em dezenas de países. Entre eles estão o Endosulfan (proibido em 45 países), Cihexatina (vedado na União Europeia, Austrália, Canadá, Estados Unidos, China, Japão, Líbia, Paquistão e Tailândia, entre outros), e Metamidofós (proibido, por exemplo, na União Europeia, China, Índia, e Indonésia), (veja lista completa e detalhada).

Nos últimos quatro anos, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e passou a ocupar a posição de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Enquanto no no mundo a média do uso desses produtos cresceu 93% entre 2000 e 2010 (substituindo, em muitos casos, o veneno químico pelo controle natural de pragas), no Brasil o percentual foi muito superior (190%).

Chamam atenção as pressões da indústria de agrotóxicos para evitar qualquer tipo de controle sobre seus produtos. Há anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu processo para rever a autorização para uso das 14 substâncias já banidas em dezenas de países. Destas, apenas quatro foram de fato proibidos – Acetato, Cihexatina, Metamidofós e Tricloform; e um (Endossulfam) deixará o prato dos brasileiros apenas em julho de 2013.

A demora deve-se à pressão de empresas que comercializam os agrotóxicos e dos grandes produtores rurais. O gerente- geral de toxicologia do órgão, Luis Claudio Meirelles, declarou ao jornal Brasil de Fato: “A reavaliação já enfrentou vários debates e inúmeras ações na Justiça. Inclusive, quando a gente decide pelo banimento do produto, tentam derrubar nossa decisão”.

A campanha contra os 14 venenos trabalha com três objetivos: informar a sociedade a respeito dos efeitos degradantes dos agrotóxicos ao meio ambiente, à saúde do trabalhador rural e à população; pressionar o governo para interromper a expansão do uso desses venenos; e pautar a necessidade de mudança do atual modelo agrícola (baseado na monocultura e em grandes propriedades) para uma agroecologia camponesa sustentável.

Um vasto dossiê científico embasa estas metas. Foi produzido pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e tem três partes: “Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, publicada em abril; “Agrotóxicos, Saúde e Sustentabilidade”, lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20 / Cúpula dos Povos), em junho; e “Agrotóxicos, Conhecimento e Cidadania”, que sairá em novembro, no X Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, em Porto Alegre (RS).

Segundo o dossiê, esses 14 componentes, assim como qualquer outro agrotóxico no mundo, podem ocasionar problemas no sistema nervoso, imunológico e reprodutivo, além de terem alto potencial cancerígeno. Alguns dos efeitos mais comuns são: cansaço, dores, alergias, morte celular levando a variadas síndromes, distúrbios neurológicos, respiratórios, cardíacos, pulmonares, diminuição da produção de anticorpos, alteração nos hormônios, deformação no feto, aborto, entre muitas outras doenças crônicas.

Dados da Anvisa atestam que, na última safra brasileira (segundo semestre de 2010 e primeiro de 2011), o mercado nacional de agrotóxicos movimentou 936 mil toneladas de produtos, sendo 246 mil importadas. São 7 bilhões de dólares, 80% dos quais concentrado em apenas seis grandes empresas transnacionais: Monsanto; Syngenta; Bayer; Dupont; DowAgrosciens e Basf.

São 852,8 milhões de litros de agrotóxicos para 71,1 milhões de hectares de área plantada (com alimentos e outros produtos, como os que vão se transformar em combustível) e a expansão não pára. No gráfico abaixo é possível visualizar, passou-se de 10,5 litros por hectare (l/ha) em 2002, para 12,0 l/ha em 2011. No prato do consumidor, isso significa uma média de 4,5 litros de veneno ingeridos no ano.

Estas e outras informações podem ser vistas no documentário “O Veneno está na mesa”, disponível gratuitamente no site da Campanha. O site da Articulação Nacional da Agroecologia é uma boa fonte para quem quer saber mais a respeito dessa que é a principal alternativa, em construção, ao modelo do agronegócio. Abaixo, as principais exigências específicas da Campanha:

– Exigir que o MDA e Banco Central determinem a que seja proibido a utilização dos Créditos oriundos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF para a aquisição de agrotóxicos, incentivando a aquisição/utilização de insumos orgânicos e a produção de alimentos saudáveis;

– Exigir da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – a reavaliação periódica de todos os agrotóxicos autorizados no país, além de aprofundar o processo de avaliação e fiscalização à contaminação de água para consumo público;

– Que os governos estaduais e assembleias legislativas proíbam a pulverização aérea (feita pela aviação agrícola) de agrotóxicos em seus estados;

– Que o Ministério da Saúde organize um novo padrão de registro, notificação e monitoramento no âmbito do Sistema Único de Saúde dos casos de contaminações, seja no manuseio de agrotóxico, seja na contaminação por água, meio ambiente ou alimentos, orientando a todos profissionais de saúde para esses procedimentos;

– Que haja fiscalização para que se cumpra o código do consumidor e todos os produtos alimentícios tragam no rótulo se foi usado agrotóxico na produção, dando opção ao consumidor de optar por produtos saudáveis;

– Aumentar a fiscalização das condições de trabalho dos trabalhadores expostos aos agrotóxicos, desde a fabricação na indústria química até a utilização na lavoura e o manuseio no transporte;

– Exigir que o Ministério Público Estadual e Federal, e organismos de fiscalização do meio ambiente, fiscalizem com maior rigor o uso de agrotóxicos e as contaminações decorrentes no meio ambiente, no lençol freático e nos cursos d’água.

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19 comentários para "Para tirar os primeiros venenos do seu prato"

  1. Sergio Gomes disse:

    Enumerem, os alimentos mais atingidos e as regiões que mais usam essas drogas. Só assim o povo pode boicotar e mudar as coisas. Dêem o primeiro passo!

  2. Bruna Bernacchio disse:

    obrigada pela republicação!

  3. Gabriela Nemirovsky disse:

    Infelizmente, os produtos organicos ainda sao tao caros que nao sao uma alternativa viavel para a maioria da populacao. Mas com o aquecimento global, esta na cara que cada vez mais usarao agrotoxicos para fazer as lavouras vingarem. E cada vez mais teremos produtos sem gosto/sem cor/sem aroma na mesa!

  4. Tereza Dalmaso disse:

    A saúde entra pela boca e no caso do Brasil, as doenças entram pela boca: alimentos, água e ar poluído. Nunca vai ter dinheiro , nem médicos, nem hospitais suficientes. Não adianta UPA, SAMU e outras invenções. É preciso alterar o modo de produzir e de viver. Mas enquanto estivermos reféns dos Lucros dos conglomerados, nada feito. De que adiantam tantas eleições, tantos eleitos, se pouco ou nada fazem em relação às nossas vidas? Precisamos de mais protagonismo direto, ações diretas e fortes e mais indignação na defesa da vida, menos tolerância, mais ações radicais.

  5. de que adianta investirem milhoes na saude, no(SUS) nos exames preventivos, se estamos sendo ingerindo veneno, drogas toxicas nos alimentos é absurdo Brasi

  6. fiona locke disse:

    Outro dia comi abacaxi normalmente e em seguida comecei a cuspir sangue. Minha lingua estava exudando sangue pelos poros. E eu sou uma pessoa saudavel, p…!

  7. Luiz Alves disse:

    Estes alimentos com veneno estão aumentando os casos de câncer e do mal de Alzeimer.
    Tanto é verdade que o INCA (instituto nacional do câncer) vai aumentar a área de atendimento com a reforma do prédio vizinho, que pertencia ao IASERJ.

  8. Enedite Gomes Sampaio disse:

    Lamentável! Aonde estão os órgãos fiscalizadores! A saúde nesse país não é levada a sério mesmo!

  9. É a nossa saúde em jogo.

  10. Com um olho no prato e o outro na indústria química.

  11. e ainda se fala em saude publica, ministerio da saude e organismos internacionais,,,,,, falacias e povo, consumidor que se dane – á a lei da selva aplicado no dito mundo covilizado

  12. Atila Jose disse:

    Em Goiás, as multinacionais de agrotóxicos já tomaram conta… plante seu proprio alimento, evite a soja, e seus derivados, todos transgênicos…

  13. Victor Medeiros disse:

    É curioso como a ANVISA tem umas proibições discutíveis, como a de tomar uma injeção na farmácia ou até a venda da melatonina, permitida em todos os paises do 1º mundo.
    E é suspeito como temos o envenenamento por agrotóxicos produzidos por transnacionais de grande poder econômico. Quem ganha com isso?

  14. Roberto Olliveira disse:

    É assim. que vaiu cuidar.Quem vai fiscalizar, estes produtos estão a venda em toda a fronteira, uruguai, Paraguai, Argentina. pode ser encomendado em muitas lojas, com entraga a domicilio.

  15. egle e siquera disse:

    Situação absurda. O veneno nosso de cada dia, nos dai hje.
    O pouco caso c a saúde da população é inacreditável! Tdo em função do lucro. Mas eles se enganam, pois se nós nos envenenamos, ninguém mais. N vão conseguir exportar p país nenhum. Nem verduras, nem frutas, nem carnes, nem nada..
    Abrs.

  16. Fausto Mota disse:

    "Manda lá para o Brasil, que lá, tudo pode."

  17. Marília Arantes disse:

    Veja que beleza…

  18. Eliane da Rocha disse:

    Até quando permitiremos dar nossas vidas em troca de grandes lucros?
    É inacreditável como o Brasíl aceita tudo!

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