O Dragão pousa (de vez) na África

Os presidentes da África do Sul (Jacob Zuma) e China (Hu Jintao)

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Em meio à crise mundial, China oferece US$ 20 bi em créditos aos africanos, consolida-se como maior parceiro comercial do continente e esnoba europeus e norte-americanos

Por Hugo Albuquerque

O presidente chinês, Hu Jintao, é o anfitrião da 5ª Conferência Ministerial do Fórum para Cooperação China-África (FOCAC na sigla em inglês), que começou quarta-feira (18/7) em Beijing. Já ao receber seus convidados, produziu um gesto bombástico: anunciou a abertura de uma linha de crédito de 20 bilhões de dólares, pelos próximos três anos, para os países africanos.

Os chineses, que inventaram os fogos de artifício e a pirotecnia, não os usam em arroubos grandiosos e vazios — mas apenas para marcar algo de importância estratégica. Com este gesto, não foi diferente. A quantia anunciada gira em torno de 1% do Produto Interno Bruto africano. É de fundamental importância, seja pelas circunstâncias da economia mundial (sobretudo, um mercado internacional de crédito extremamente instável), quanto pelo contexto no qual ele está inserido, que é de um intercâmbio não só comercial como geoestratégico entre ambas as partes.

O exame da oferta de Hu Jintao sugere que a China não está interessada em mera exploração de recursos naturais — minérios e, sobretudo, petróleo — africanos. Sua iniciativa equivale a um certo keynesianismo militante e poderia ser comparada, vagamente, ao Plano Marshall. Beijing usará uma pequena parcela dos enormes recursos que estocou (reservas superiores a 3 trilhões de dólares, mais que todo o PIB africano) para construir infra-estrutura e disponibilizar crédito. Naturalmente, também espera abrir mercados para seus produtos, num continente onde há demanda reprimida de tudo e, em consequência, possibilidade de imensos negócios futuros

A parceria, além disso, tira proveito de uma oportunidade. Diversas regiões da África vivem, há cerca de dez anos, um espécie de renascimento econômico. Duas décadas de depois do fim da Guerra Fria, o continente volta a ter importância estratégica e a atrair atenção de norte-americanos, europeus e chineses.

Por que a China, agora? Porque ela sempre esteve ali, desde os tempos das guerras de descolonização, dentro do contexto da luta contra o imperialismo pela perspectiva dos países não-alinhados. Porque os líderes chineses não estão preocupados, em seu pragmatismo, em confrontar ou modificar as elites africanas, sua forma de pensar e agir. Finalmente, porque o modelo de integração proposto por Beijing é o único projeto realmente sólido até hoje apresentado aos africanos. Não à toa, todo o entusiasmo africano que beira o propagandístico.

O resultado prático é que a China já superou EUA e União Europeia como maior parceira comercial da Áfica, segundo informe da OCDE. A conferência em curso e as articulações do FOCAC são cruciais para a África do porvir, e também para China, em tudo o que isso pode significar.

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12 comentários para "O Dragão pousa (de vez) na África"

  1. Petrônio Alves Corrêa Filho disse:

    Não devemos ser ingênuos de pensar que a China é “boazinha”. É claro que, como qualquer outra potência, quer tirar proveito da situação degradante dos países africanos. Mesmo assim, devemos louvar a iniciativa de não tentar interferir no modo de vida dos africanos, como os EUA fazem pelo mundo afora, provocando o ódio de outros povos a eles. Daí o terrorismo. Parece-me que os chineses aprenderam a lição!

  2. Haham… tá bom. Leia-se no artigo "não confrontar as elites locais" como fornecer armas e verbas para genocídios tribais como o de Darfur.

  3. Pedro Jorge disse:

    "Quando a China acordar o mundo tremerá"

  4. Ai. Uma frase muito antiga, já havia circulando nos velhos tempos, Eu Fiz um negócio da China, eu acho desta vez O Imperador Dragão Chineis, Vai virar Império no Mundo todo.

  5. Anônimo disse:

    kkkkkkkkkk tem que ser muito ingenuo para acreditar nisso

  6. Manuel Costa disse:

    Aí estão eles, os bonzinhos chineses, com os seus olhinhos pequeninos e bicudos, sempre sorrindo, mas capazes das maiores canalhices que se possam imaginar. De qualquer modo, para os povos africanos está bom demais, pois assim sempre vão haver oportunidades para mais uns canalhas, ladrões e corruptos de líderes africanos para enriquecerem á custa do amigo chinês!! E de passinho em passinho vão eles conquistando o mundo que se lhe rende, esquecendo que para essa pujança econômica contribuí a exploração de mão de obra infantil, o trabalho em regime de escravidão dos trabalhadores etc. etc. etc. Para onde vai este mundo em que se perdeu a vergonha e a coragem para chamar as coisas pelos seus nomes. Não esqueçam nunca Tienamen para que não venham a ser surpreendidos um dia destes!!

  7. Há uma dívida histórica de todos os povos com a África…Viva o pragmatismo da China…

  8. helder disse:

    A própria matéria já diz tudo, “dragão”, ou o comunismo mudou ou ainda achamos que laranja madura na beira da estrada nos dias de hoje é benção.

  9. No meu entender de modesto leigo, a China chegou como um "bom vizinho" que quer, acima de seus interesses, propiciar desenvolvimento à África, e num futuro próximo, tê-la como parceira em seus negócios e com isso, claro, virão lucros certos e seguros, sem contudo mantê-la pobre e submissa. Com essa política, conquista-se e não se explora. Gostei.

  10. um bom exemplo de inicio de governo.

  11. Mundo Multipolar disse:

    Aplausos calorosos para a China e a Russia que, juntas, conseguem puxar o freio de mão do império terrorista decadente que quer, a todo custo, dominar o mundo inteiro através de intervenções terroristas em todos os cantos da Terra. Se alguma intervenção urge ser feita então ela necessàriamente deverá ser para abater a ideologia intervencionista do império do terror.

  12. The China is beautyfull . . .

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