Fliporto – Livros são templos portáteis

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Autores discutem na FLIPORTO como e porque são escritores,

a importância dos livros e os acontecimentos pelo mundo

O domingo da Fliporto começou com um bate-papo entre Fernando Báez, biblioteconomista, poeta, ensaísta, tradutor e romancista venezuelano e Gonçalo Tavares, escritor angolano e professor universitário, autor de livros dos mais diversos gêneros. Báez, em seu ensaio “A história universal da destruição de livros” mapeou mais de cinco mil anos da história do livro e da escrita. Tavares faz parte da nova geração portuguesa de escritores e segue uma linha que atravessa a filosofia. Os autores trataram do tema “Como e porque sou escritor”.

A conversa teve início com Báez, que vestido em sua galabeya branca – traje típico egípcio – falou um pouco sobre suas experiências literárias e suas relações com o Oriente. O escritor latino, que vive no Egito, comentou que atualmente há muita curiosidade por parte do Ocidente sobre o que se passa no Oriente, e afirmou que, de certa forma, o que se passa la é o que se passa aqui. Contou, também, sobre como se deu seu início na literatura. De família humilde, foi criado em uma biblioteca, onde dormia com os pais. Era pobre, mas feliz por estar entre os livros, que considerava seus grandes amigos: “máquinas do tempo para superar a fome e a pobreza”. No entanto, em um período de chuvas, a biblioteca foi alagada e tudo foi destruído. Foi quando Báez decidiu “vou ser escritor para recuperar esses livros perdidos”. O fato influenciou toda sua vida, hoje o escritor trabalha em parceria com a Unesco em projetos relacionados à leitura e à educação em países destruídos pela guerra e no restauro de suas bibliotecas.

Para Báez, livros são sagrados, veneráveis. Uma mostra dessa sacralidade encontra-se no fato de que países no Oriente têm “cemitérios” para livros, se negando a destruir/eliminar exemplares de obras religiosas e históricas.

Nessa mesma linha de pensamento, Tavares comparou livros a templos portáteis, espaços sagrados que propiciam isolamente, silêncio e desaceleração.

Questionados se livros podem melhorar o mundo, Báez pontuou: “Livros movem e comovem”. Ao fim do debate, Báez falou da importância dos livros para uma sociedade: “Eles são a memória de um povo. Nós somos quem recordamos que somos”.

No debate seguinte, estavam presentes Silio Boccanera e Geneton Moraes Neto discutindo terrorismo antes e depois do 11 de setembro. Falaram sobre o papel do jornalismo frente às questões de política internacional e eventos históricos, analisaram os desdobramentos recentes da Primavera Árabe e o papel da internet e das redes sociais na atualidade. Sobre os movimentos de ocupação espalhados pelo mundo, Boccanera observou que “são a semente de algo novo, sem plataforma de exigências e sem liderança política clara, mas estamos testemunhando uma virada”.

Na sequência, dois outros painéis debateram literatura e a identidade do escritor – Aventuras e rotinas da literatura: as múltiplas identidades do escritor – e a relação de Jorge Luis Borges com a literatura Oriental, em especial com a história de Sherazade e as 1001 noites.

O dia teve fim com uma conversa entre Silio Boccanera e Tariq Ali, escritor e ativista paquistanês, que deu sua opinião sobre a situação do mundo hoje. Atuante em movimentos de esquerda, foi preso na Bolívia em 67 e confundido com um cubano, aos militares disse: “se me torturarem a noite inteira e eu começar a falar espanhol, ficarei eternamente grato”. Hoje, mais moderado, ainda é esquerdista e edita a revista New Left Review.

Sobre o Paquistão e a popularidade que seu país alcançou após os atentados em Nova York , ele fala sobre a relação com os governos e a mídia: “Governos ocidentais têm uma boa ideia sobre países muçulmanos, já os cidadãos têm ideias estúpidas ou nenhuma ideia.”. Ele afirma que há uma desumanização dos seguidores do Islã e que, diante disso, “líderes ocidentais podem matar e líderes islâmicos, se matam, são genocidas”. Quanto à Primavera Árabe, julga ser um período de transição sem solução à vista, mas que é importante para a auto-estima dos povos, que já identificaram que sinergia é poder.

Tariq Ali deu sua opinão, também, sobre a possível guerra entre Irã e Israel, que ele acha improvável: “Não interessa aos EUA”. O escritor acredita que o mundo deve mudar pelo fim do século “mas eu não estarei mais aqui”.

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