Políticas públicas: para cidades menos dependentes do automóvel

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“Uma rede ampliada de trens e metrôs também absorverá mão de obra, isso sem falar na construção da infraestrutura necessária para que locomotivas e vagões possam circular”

Por Tadeu Breda, editor de Latitude Sul

Em SP, a estas alturas, está claro para todos – menos para os governos municipal e estadual – que o modelo automobilístico é insustentável. Quem pegamos ônibus sentimos diariamente o colapso, na pele e nas pernas, porque somos obrigados a viajar de pé, mesmo pagando uma das tarifas mais caras do mundo – de longe, a mais cara da América Latina. A rede de metrô é ridícula, os trens, insuficientes. As ciclovias… que ciclovias?

A mão de obra que ficaria ociosa a partir da adoção de uma necessária política anti-carros poderia muito bem ser revertida e aproveitada pela indústria ferroviária. Em vez de importar vagões da Coreia do Sul, como acaba de fazer o metrô privatizado de SP, o governo poderia começar a estimular a produção nacional de composições. A operação de uma rede ampliada de trens e metrôs também absorverá mão de obra, isso sem falar na construção da infraestrutura necessária para que locomotivas e vagões possam circular.

Até as fábricas de bicicletas podem crescer e abrir vagas de emprego com políticas públicas de incentivo à adoção da magrela. Em SP, muita gente já disputa espaço com os carros aos cotovelos. Imaginem se a prefeitura resolve sair do imobilismo e construir ciclovias? Será uma invasão. Aliás, a tendência é tão grande que o preço das bicicletas disparou.

 

 

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3 comentários para "Políticas públicas: para cidades menos dependentes do automóvel"

  1. Tadeu Breda disse:

    Oi, Paulo.
    Acredito que questionar “nosso” modelo de desenvolvimento é algo mais profundo que combater os carros e o petróleo. Como vc enumerou, o xis da questão está no consumo, na “necessidade” de crescimento infinito. Isso sabe-se lá quando conseguiremos mudar. Porém, concordo que é uma transformação urgente para nossa sobrevivência.
    Sobre o desejo quase sexual pelos carrões, permita-me problematizar. Talvez não seja uma questão tão psicológica assim. Afinal, não há país mais aficionado por veículos possantes que a Alemanha. E lá, até onde eu sei, a mobilidade urbana não está baseada no transporte motorizado individual.

  2. Paulo disse:

    Uma política alternativa de transporte, além da necessária consideração de melhorias em meios coletivos ou ciclovias, implica questionar dois aspectos mais profundos. Primeiro, o modelo corrente de economia e desenvolvimento, que em boa parte depende da indústria automobilística e seus satélites, do petróleo, do consumo. Segundo (e talvez mais importante), nosso modelo cultural que só estimula o narcisismo e o sucesso individual – traduzido pela necessidade de ultrapassar ou atropelar os outros para ir atrás de um objetivo difuso que está sempre à frente. Enquanto formos fascinados por automóveis possantes, grandes, famintos de combustível e assessórios, o pensamento alternativo permanecerá alternativo – um luxo distante da maioria que sofre dentro dos ônibus e trens lotados.

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