Temer, o maquiavélico: “fazer o mal de uma só vez”, fins a justificar os meios

maquiavel

Michel Temer, o interino, começa o governo inspirado em Maquiavel e em FHC; atropelo em poucos dias era previsível e conta com amplo apoio da grande imprensa

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

“Quando você tiver de fazer algum mal a alguém, faça-o todo de uma só vez. A dor será intensa, mas apenas uma. Já o bem, faça-o em parcelas. O favorecido ficará alegre e grato a você várias vezes” (Nicolau Maquiavel).

Ainda são desconhecidos os atos “de bem” do presidente interino. Mas salta aos olhos a estratégia maquiavélica de “fazer o mal” de uma só vez. Fernando Henrique Cardoso, prefaciador de “O Príncipe” no Brasil, conhecia bem essa máxima. Podia-se prever que Michel Temer faria isso. E fez. Talvez com uma fúria e uma desfaçatez maiores do que se podia esperar, mas fez. Está fazendo, em poucos dias.

Da escolha dos ministros ao genocídio de ministérios “do bem”, do anúncio ansioso de que haverá uma onda de privatizações à revisão de demarcações de terras indígenas, o príncipe dos interinos joga com o resquício de boa vontade que a população possa ter em relação a um início de governo – mesmo que um governo usurpador. Um governo que começa sob o signo da máxima mais famosa do pensador italiano, “os fins justificam os meios”.

Ou: sobre como chegar ao poder mesmo que se rasgue a Constituição, que se invente um crime de responsabilidade para depor uma presidente eleita – que se minta.

“Às vezes, é necessário dissimular”, ensinou uma vez FHC. “Vou dar um exemplo pessoal. Um exemplo de todo presidente… O jornalista chega e pergunta: ‘Presidente, vai haver desvalorização do câmbio amanhã?’. Você tem que dizer: ‘Não, o que é isso!’. Aí, amanhã, você desvaloriza. Você tem que mentir, se não quebra o País”.

Temer mente e amontoa seu saco de maldades ao anunciar – por meio de Henrique Meirelles – que vai aumentar os impostos. Mesmo que o pato da Fiesp representasse, em sua origem, o combate à carga tributária. Mente quando nomeia sete ministros investigados na Lava-Jato, após liderar um golpe tecido na ideia – mentirosa – de que a corrupção em governos petistas seria a maior da história.

Diz a verdade quando afirma (ou algum de seus ministros, tanto faz) que arrumará alguns cargos de segundo escalão para as mulheres, esquecidas na montagem do ministério. Diz a verdade quando conta (por meio de Alexandre de Moraes) que vai criminalizar os movimentos sociais – e aqui se foge da máxima maquiavélica, pois será um mal feito aos poucos e continuamente, sem resquício de alguma bondade no horizonte.

Só é possível imaginar um presidente dessa estatura (diminuta, sem votos) fazendo tantas atrocidades – do ponto de vista da preservação de direitos – quando se observa que a imprensa graúda banca qualquer coisa que ele faça. Tudo em nome do liberalismo – um projeto de governo que não ganhou o aval da população. De um governo “pacífico”, mas pacífico para os mercados.

Não à toa, o global William Waack monologava anteontem na Globonews em torno da ideia – mentirosa – de que o liberalismo venceu. No mundo. Que o nacional-desenvolvimentismo é o responsável pela crise. E que a “ideia liberal” mostrou-se a mais eficiente. (Waack é quase um vice-presidente ideal para Temer. Consegue dizer, sem corar, que a redução da miséria no Brasil ocorreu “em todo o mundo”, e não por méritos dos governos petistas.)

Claro que chega a ser uma injustiça comparar esse presidente interino com Fernando Henrique Cardoso. Pois esse foi eleito – por mais que abominemos seu governo. Assim como Dilma Rousseff foi eleita – por mais que abominemos seu governo. Temer, não.

Temer entrou pela porta dos fundos e foi direto para a janelinha, ainda que para ver um dia completamente nublado. Muito embora a grande imprensa (agora mais para o Cândido de Voltaire do que para Maquiavel), ao contrário do que fazia durante a gestão de Dilma, consiga ali enxergar umas nesguinhas de sol.

Sob temer, a excrescência precede a essência.

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3 comentários para "Temer, o maquiavélico: “fazer o mal de uma só vez”, fins a justificar os meios"

  1. Bruna disse:

    Temer seria apenas o cínico político descrito por Maquiavel; compará-lo a Maquiavel é elevar em muito sua estatura. Tentem dar zoom na biblioteca deste compulsivo por leitura. É importante conhecer nosso inimigo. O que ele ler? Pode dar uma pista do que há em sua mente, já que o que sai de sua boca é puro cinismo.

  2. rosângela cristina dos sa disse:

    O Willam Waack é parente do Temer, os dois tem a mesma cara sinistra.
    Dá medo olhar para aqueles dois!

  3. rosângela cristina dos sa disse:

    O Willam Waack é parente do Temer, os dois tem a mesma cara sinistra.
    Dá medo olhar para aqueles dois!

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