Folha ataca Intervozes. Mas e as doações de campanha da Hypermarcas (do sócio do UOL)?

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Coluna reclama de R$ 100 mil do Ministério da Cultua para o coletivo de comunicação, enquanto jornal e portal recebem todo ano milhões de publicidade do governo

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho) | Foto: Hypermarcas

A coluna Painel, da Folha, resolveu nesta quinta-feira (19) fustigar o Intervozes, coletivo que combate o oligopólio dos meios de comunicação no Brasil. Isso porque um sócio afastado da entidade é hoje o número dois do Ministério da Cultura. A organização recebeu um dos dez prêmios nacionais da pasta, no valor de R$ 100 mil, para iniciativas que promovam a mídia livre – expressão que o jornal coloca entre aspas.

É curiosa a preocupação do jornal relativa a conflito de interesses. Principalmente porque o principal sócio do UOL após o grupo Folha, João Alves de Queiroz Filho, vem a ser o dono da Hypermarcas, a maior empresa brasileira de bens de consumo e uma das maiores doadoras de campanha em 2014 – ao lado de gigantes como a Vale, JBS e empreiteiras.

Vejamos as doações do Hypermarcas:

-> Dilma Rousseff (PT) – R$ 5 milhões

-> Aécio Neves (PSDB) – R$ 5 milhões

-> Diretórios (PMDB, PPS, PSDB, PT, PTB) – R$ 3,32 milhões

-> Candidatos à Câmara – R$ 1,2 milhão

Pergunta: é certo o sócio de um grupo de mídia, indiretamente, por meio de sua empresa, alimentar a campanha dos principais candidatos à Presidência? Sendo o UOL e a Folha beneficiários das verbas publicitárias do governo federal?

O UOL informa que o próprio portal recebeu, em 2014, R$ 14,7 milhões do governo federal em publicidade. Valor idêntico ao recebido pela Folha, R$ 14,6 milhões.

ILEGALIDADE E IMORALIDADE

Em 2014 ainda não eram ilegais as doações de campanha. Nem as doações (de R$ 14,5 milhões) da empresa do sócio do UOL. Mas quem disse que é ilegal o Intervozes obter recursos (R$ 100 mil) do projeto Mídia Livre?

É a Folha que vai definir a moralidade do ato? E é ela quem vai questionar a legitimidade da mídia livre? (Caberia à mídia livre chamar a Folha, utilizando a mesma fúria por aspas, de um “jornal”?)

O Intervozes informa que João Brant, secretário-executivo do Ministério da Cultura, está afastado desde 2013 do coletivo. E esclarece que, ao contrário do que o jornal publicou, o Observatório do Direito à Comunicação, projeto aprovado em outubro, participou do edital de 2009 e foi um dos vencedores – muito antes de Brant ser convidado para a pasta. (O Outras Palavras foi outro entre os dez vencedores nacionais do edital de 2015.)

A coluna da Folha publica os seguintes títulos para as duas notas sobre Brant: “Entre amigos” e “Entre amigos II”. Como se o jornal expusesse as próprias amizades.

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