EUA: os aviões da morte miram o Iêmen

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Acordo entre duas alas da Casa Branca leva robôs a disparar sem julgamento ou mesmo identificação completa dos suspeitos. Mas… e se mesmo assim o “novo” governo não resistir?

Por Jim Lobe*, no Envolverde/IPS

Enquanto o presidente norte-americano, Barack Obama, destaca os progressos no Afeganistão e Iraque, parece apostar em um intensificação das operações encobertas e militares no Iêmen. Washington está preocupado com os últimos avanços da Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), particularmente no sul do território iemenita. Desde o falido atentado a bomba cometido por um nigeriano treinado pela AQPA contra uma empresa aérea em Detroit, em dezembro de 2009, esse grupo passou a ser considerado a maior ameaça aos Estados Unidos.

Citando altos funcionários, o jornal The Wall Street Journal e outras importantes publicações norte-americanas informaram, no dia 26, que o governo flexibilizou os controles impostos à Agência Central de Inteligência (CIA) e ao Pentágono para realizar ataques com aviões não tripulados no Iêmen contra supostos membros da AQPA. A partir de agora, a CIA e o comando de Operações Conjuntas Especiais (JSOC) do Pentágono, que realizam operações antiterroristas paralelas no Iêmen, poderão atacar suspeitos mesmo estes não estando plenamente identificados.

Bastará apenas que seu “comportamento” sugira seu eventual envolvimento em complôs para atentar contra interesses norte-americanos. A avaliação dos suspeitos será feita com base em informação de inteligência fornecida por agentes no terreno, vigilância aérea e interceptação de telefonemas, bem como evidência circunstancial relacionada com essas associações terroristas, segundo informaram os meios de comunicação.

As novas pautas seriam resultado de um consenso alcançado entre os integrantes do governo de Obama que preferem atacar somente insurgentes plenamente identificados e os que procuram maior liberdade para as operações antiterroristas. Entre estes últimos destaca-se o diretor da CIA, David Petraeus. Há crescentes temores entre especialistas de que Washington se some paulatinamente em um novo conflito (ou em vários) no Oriente Médio.

“Há uma perigosa mudança aqui e os políticos norte-americanos não parecem perceber que se dirigem a águas turbulentas sem contar com um mapa”, alertou Gregoy Johnsen, especialista em Iêmen na Universidade de Princeton e editor do blog Waq Al-Waq. “No Iêmen, os aviões não tripulados e os ataques com mísseis parecem ter substituído uma política clara”, opinou. Desde o final de 2009, o número de ataques dos Estados Unidos nesse país do Golfo aumentou. E também “a AQPA cresceu em recrutas. O que farão os Estados Unidos se a AQPA continuar ganhando mais recrutas e se expandir, mesmo com um aumento no número dos ataques?”, perguntou. “Bombardearão mais. Os Estados Unidos contemplam uma invasão?”, prosseguiu.

Outros críticos temem que o aumento dos ataques com aviões não tripulados no Iêmen incremente o sentimento antinorte-americano na população. A renúncia do presidente Ali Abdalá Saleh, promovida por Estados Unidos e Arábia Saudita, não conseguiu acalmar os muitos conflitos regionais, tribais, políticos e sectários em território iemenita.

A CIA fez mais de 250 ataques com aviões não tripulados no Paquistão desde 2009, segundo o site Long War Journal. Muitos foram contra objetivos com um comportamento ou “modo de vida” que sugeria serem membros ativos do movimento islâmico Talibã. Para realizar esses assassinatos seletivos a CIA não espera para saber a identidade precisa dos suspeitos.

Segundo a imprensa, Petraeus insiste para que a CIA possa operar da mesma forma no Iêmen, onde trabalha em estreita colaboração com o JSOC. Ele baseia sua insistência dizendo que milícias supostamente vinculadas à AQPA, sob o nome de Ansar Al Sharia, expandiram seu controle sobre várias províncias do sul nos últimos meses do governo de Saleh e nos primeiros dias da administração do novo presidente, Abdu Rabu Mansour Hadi.

Suas solicitações inicialmente foram rejeitadas, mas Obama depois teria aprovado a flexibilização das regras no começo deste mês, dando à CIA e ao Pentágono a autoridade para atacar indivíduos desconhecidos e grupos cujo “modo de vida” sugira que preparam um ataque contra os Estados Unidos.

Funcionários disseram que as novas regras estão justificadas em parte porque CIA e JSOC contam nos últimos meses com melhor capacidade para obter informação de inteligência no terreno. Como Washington não queria passar a imagem de estar apoiando um presidente impopular no Iêmen, reduziu sua presença nesse país, entre outras coisas, retirando a maior parte de seu pessoal militar, o que dificultou em seu momento a obtenção de informação.

Agora, com melhor informação de inteligência, segundo estes funcionários, diminui a possibilidade de civis serem vítimas de ataques com aviões não tripulados. Também afirmam que é essencial flexibilizar as normas para ajudar o novo governo iemenita a retomar o controle das províncias de Abyan, Shabwa e Bayda, no sul, onde há forte presença da AQAP e de Ansar al Sharia.

* O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser lido em www.lobelog.com.

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