Depressão, produto de vidas reprimidas?

É mais fácil criar necessidades externas que enfrentar medos e convenções morais que bloqueiam amor e prazer

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Por Katia Marko, editora da coluna Outro Viver | Imagem: Frida KahloAs Duas Fridas (1939)

Corpos deprimidos. Espíritos anulados. Assim caminha a humanidade. Egos sem qualquer conexão com o corpo. Sentir é perigoso. O melhor é continuar a nos iludir com nossas gaiolas de ouro. Prisões internas que nos mantêm atados ao toco. Conceitos morais que a cabeça nega, mas o corpo carrega. Tensões crônicas que não permitem a vibração espontânea, o prazer, o orgasmo.

Medos irreais. Necessidade excessiva de segurança e estabilidade. Raiva enrustida, cuspida em brincadeiras sem graça. A crença de que não vai dar certo. Essas foram algumas das coisas que habitam meu ser e me dei conta durante um trabalho terapêutico de nove dias na Comunidade Osho Rachana. “Paixão: Qual é a tua?” era o nome do grupo. Pode parecer, num primeiro momento, uma pergunta simples. Mas quando mergulhamos mais fundo no mar de ilusões e falsos desejos, percebemos a dificuldade em acessar o que realmente nos preenche, nos faz feliz.

Vivenciar intensamente os meus medos, conflitos, personagens, fantasmas e emoções, me possibilitou ver com mais clareza como limito minha liberdade e capacidade de amar. O quanto ainda estou presa às convenções, apesar do discurso vanguarda. O que eu quero de verdade? Cada vez mais percebo que não é o que está fora de mim. Na real, é mais fácil criar necessidades externas do que entrar em contato com o vazio, a falta de confiança, o medo de amar e ser amada. Buscamos subterfúgios, elaboramos estratégias com maestria para fazer de conta que o buraco não existe.

A campanha “Mais amor, por favor” chegou a Porto Alegre. É uma bela iniciativa, mas só palavras não mudam o mundo, muito menos as pessoas e suas relações. Falta consciência e indignação para romper as barreiras e querer amar de verdade. Iniciei este artigo afirmando que nós, seres humanos, estamos com nossos corpos deprimidos e nossos espíritos anulados. Pode ser arrogante. Corro o risco. Sentimos muito pouco e pensamos, ou achamos que pensamos, em demasia. Talvez seja mais correto dizer que rodamos em círculos em pensamentos cristalizados e neuróticos. Nossos espíritos estão enjaulados em corpos entupidos de comida ruim e remédios entorpecentes; obesos, sem tônus e vitalidade.

É bem mais cômodo se queixar da vida, dos outros, do que assumir a responsabilidade da mudança. “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”, já dizia a revolucionária Rosa Luxemburgo. Segundo o mestre indiano Osho, no qual busco inspiração, sofrer de depressão simplesmente significa que você tem se reprimido demais. “Depressão nada mais é do que repressão. Você está deprimido porque não lhe é permitido se expressar. Ao se expressar, ao catarsear tudo o que está reprimido em seu inconsciente, você vai se tornar mais sano, mais saudável.”

Bloqueadas as emoções, impedimos que a nossa energia vital circule livremente por nosso corpo, o que faz com que ele perca a vitalidade original e passe a refletir os bloqueios a que se submete. Apesar de as emoções bloqueadas serem frequentemente as “negativas” (raiva, dor e medo), a perda de sensibilidade do corpo gera uma incapacidade também para os sentimentos ditos “positivos”, como a alegria e o amor. A vida torna-se, então, carente de significado e, em níveis mais profundos de depressão, a pessoa não deseja sequer viver. Mas a depressão é mais comum do que se pensa na vida das pessoas.

O médico norte-americano Alexander Lowen, questiona, em seu livro Alegria, por que não nos curamos espontaneamente, se ficamos deprimidos? “Na verdade, há pessoas que superam espontaneamente uma reação depressiva. Infelizmente, na maioria dos casos, a depressão tende a reaparecer, porque a causa subjacente persiste. Essa causa é a inibição da expressão dos sentimentos de medo, tristeza e raiva. A repressão desses sentimentos e a tensão concomitante reduzem a motilidade do corpo, resultando em um estado de redução ou depressão da vitalidade.”

Aliada a isto, afirma Lowen, está a ilusão de que seremos amados se formos bons, servis, bem-sucedidos e assim por diante. Essa ilusão serve para manter o ânimo do indivíduo durante a luta para obter amor, mas, como o amor verdadeiro não pode ser adquirido ou obtido por qualquer desempenho, cedo ou tarde a ilusão cai por terra e o indivíduo entra em depressão. “A depressão desaparecerá, se o indivíduo puder sentir e expressar seus sentimentos.(…) Expressar os sentimentos alivia a tensão, permitindo ao corpo recuperar sua motilidade, aumentando assim a sua vitalidade. Este é o lado físico do processo terapêutico.”

Para mim, e para as pessoas que optaram viver na Comunidade Osho Rachana, o processo terapêutico é constante. Nossa busca por consciência e uma vida mais plena exige um olhar atento para dentro. Sem isso, não saímos da volta do toco.

Katia Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma. Para ler todos os seus textos publicados em Outras Palavrasclique aqui

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Um comentario para "Depressão, produto de vidas reprimidas?"

  1. Tristana Rossi de Siqueira disse:

    Na verdade o projeto “Mais amor por favor” iniciou-se em São Paulo em 2009 por um artista plástico.

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