Cultura: e se o pós-capitalismo estiver começando?

[Fevereiro] Entrevistamos animadores dos coletivos ForadoEixo, que adotam valores e relações opostas às do mercado para multiplicar produção cultural

Congresso Fora do Eixo, 2012: 73 coletivos, 5 mil shows por ano — e produção incessante de lógicas subversivas

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Outras Palavras entrevista animadores da Rede Fora do Eixo e prepara reportagens sobre coletivos que estão multiplicando produção cultural por meio de lógicas opostas às do mercado

Por Antonio Martins | participou Bruna Bernacchio

Quem acompanha a cena cultural brasileira e o debate que ela desperta, ouviu provavelmente falar sobre a Rede Fora do Eixo (FdE). Existe há menos de sete anos. Surgiu singela: uma articulação entre coletivos de jovens, inconformados com a pobreza e mesmice da “arte” que os circuitos tradicionais oferecem ao interior do Brasil. Começou de onde, em geral, se espera pouco: Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (PR) e Londrina (PR) – quatro cidades distantes do mar e do glamour de Rio-São Paulo. Soube ir além da crítica: os garotos e gurias queriam montar festivais, shows, turnês – e não apenas desprezar a indústria cultural, em discursos com ar blasé.

Veio na hora certa. Desejos parecidos pulsavam em todo o país e o Fora do Eixo parece ter no DNA o espírito de compartilhamento. A experiência reunida por cada coletivo gera um acervo comum de tecnologias sociais, transmitido e renovado incessantemente em encontros, residências, congressos ou pela internet (veja algumas apresentações). A rede adensou-se rápido. Hoje, são 73 coletivos, em 112 cidades brasileiras e em quatro países da América Latina. Sua atividade é impressionante: em 2011, os grupos colocaram em contato com o público 13.500 músicos independentes, em 5.152 shows, 150 turnês e 170 festivais. Seus palcos principais são praças, universidades, casas-sedes dos coletivos. Nestes locais também funcionam centros de distribuição, onde é possível ter acesso a 3 mil produtos – de CDs, DVDs e livros a camisetas e chaveiros.

Em 2011, o Fora do Eixo também armou um salto estratégico. Em março, dezenove gestores, originários de coletivos em todo o país, alugaram e habitaram uma casa em São Paulo, maior metrópole e polo de difusão cultural do país. A presença multiplicou a visibilidade e a repercussão da rede. Ela foi tema de matérias em revistas e emissoras de circulação nacional, como Trip e MTV; recebeu prêmios como o Bravo! (por “melhor programação cultural”), firmou parcerias com casas de show como Studio SP.

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Para quem busca, como Outras Palavras, refletir sobre a superação do capitalismo, há algo ainda mais provocador, no Fora do Eixo, que seu sucesso surpreendente. É o fato de este êxito ter sido alcançado precisamente porque os coletivos adotam, em seu trabalho e quotidiano, valores e lógicas contra-hegemônicas. Colaboração, ao invés de competição. Compartilhamento da renda. Uso de moedas paralelas, cuja administração é feita de modo consciente. Desierarquização, decentralização e transparência Formas diversas de democracia direta. Tudo o que é apontado pelo pensamento conservador como causador de ineficiência, desestímulo e caos, o Fora do Eixo transforma em fontes de sua energia.

Talvez a primeira peculiaridade esteja na própria relação entre artistas e público – inclusive no que diz respeito à remuneração. A celebridade reluzente dos pop-stars não seduz nem coletivos, nem plateias. A produção dos shows é eficaz, porém espartana. Assegura-se a qualidade do som e da iluminação – nada da parafernália de luzes, palco, camarins luxuosos, segurança impenetrável que caracteriza os mega-espetáculos. Porque a estética é oposta à deles: valoriza despojamento, naturalidade, intimidade entre os músicos e que assiste a eles.

Os R$ 12 milhões que o Fora do Eixo gastou em 2011, com música, certamente não pagariam um dos espetáculos das turnês de circuito internacional que frequentemente vêm ao Brasil. Se viabilizaram 5 mil shows e contribuíram com a produção de 13,5 mil músicos, é porque algo fundamental mudou. Uma multidão de jovens artistas já não se enxergam como candidatos a semideuses, mas como seres humanos dispostos a viver com dignidade de sua criação cultural.

Algo facilita esta nova mentalidade. Além de reais, circula nos coletivos o CuboCard, uma moeda alternativa(veja algo sobre ele nos menus à esquerda desta página). A rede emitiu 20 milhões de Cubos (Cc$), em 2011. Têm enorme utilidade, porque ajudam a quantificar e tornar líquido o enorme volume de trabalho não-mercantil gerado no circuito. Um show pode render a uma banda R$ 1.000 e Cc$ 2.000. Usa-se a primeira quantia nas formas conhecidas. A segunda gira sempre dentro da rede, ajudando a viabilizar a produção de seus milhares de participantes. Mas é muito valiosa aos músicos. Com cubocards, é possível contratar, entre centenas de itens, horas de estúdio (nas casas do Fora do Eixo), a construção de um site, a assessoria de imprensa para um show, a gestão de uma carreira, hotéis, cursos, cervejas. Um requintado cardápio de produtos e serviços reunia, em dezembro do ano passado, centenas de itens.

A usina que faz girar toda a rede são os coletivos de produtores, que reúnem cerca de 2,2 mil pessoas e participam de uma espécie de experimento comunitário radical. Na casa de São Paulo, ninguém recebe, pelo trabalho, salário individualizado. Todos desfrutam gratuitamente dos bens comuns: casa (que inclui teto em quartos compartilhados, água, luz, telefone, internet); refeições; toda a programação cultural; um ambiente intelectual agitado e instigante). Compartilham a senha de cartões de débito e crédito. O gasto é livre: serve para custear uma roupa, um remédio, uma viagem. Mas está sujeito a justificação: não é lícito aproveitar a liberalidade para viver melhor que os demais. O ambiente combina frugalidade notável (na casa, roupas, comida) com banda larga farta e laptops para todos.

Ao menos neste ambiente ultra-jovem (os membros históricos do Fora do Eixo têm menos de trinta anos; a maioria está na faixa dos vinte), o arranjo funcionou de modo admirável. No documento de balanço das atividades da rede em 2011 (também disponível em formato multimídia), fala-se em expandir a experiência paulistana, num convite para que os coletivos FdE adotem o modelo das casas-escritórios coletivas (também chamadas de Zonas Autônomas Permanentes). Não se trata de apelar para um compromisso ideológico. Sugere-se algo concreto e até certo ponto pragmático: a experiência de uma vida mais rica, menos limitada pelas futilidades vazias do consumismo.

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Há seis anos, quando surgiu, a rede era movida a música – muito popular e relativamente fácil de produzir. Mais recentemente, há um movimento nítido de diversificação. Surgiram, entre outros, o Clube de Cinema Fora do Eixo (750 sessões em cineclubes, em 2011); o Palco Fora do Eixo (e uma interessante tentativa de combinar música e teatro, durante os festivais); o Fora do Eixo Letras (que edita Seda Poemas, promove o Varal das Artes e produz videopoesias, para ampliar a circulação das obras); a Pós-TV (entrevistas ao vivo e programas como o que o agitador cultural Cláudio Prado comanda num sofá, plantado numa calçada da rua Augusta, em São Paulo), a Fora do Eixo Software Livre (realiza installfests para conversão de máquinas para Linux, oficinas, suporte tecnológico, desenvolvimento de soluções livres), o Nós Ambiente (preocupado inclusive com a sustentabilidade ambiental dos shows, festivais e damais iniciativas da rede).

 

Algumas das novidades recentes deste universo já não se situam apenas no terreno da produção cultural. Relacionam-se com a expansão permanente do “modo de ser” Fora do Eixo. Parte dos recursos que movimentam a grande rede é captada em órgãos públicos e empresas, por meio de editais e projetos de patrocínio. Para elaborar projetos de captação e gerir os recursos, criou-se o Banco FdE, que também funciona de forma decentralizada. Cada coletivo destaca pelo menos um de seus integrantes para a tarefa. As experiências são compartilhadas em rede e sistematizadas em novas tecnologias sociais e ferramentas. Mas o banco vai muito além da busca de receita. Procura gerir a complexa emissão da moeda alternativa (como ela é feita autonomamente pelos coletivos, é preciso evitar crises inflacionárias…). Aventura-se pelo terreno da Economia Solidária.

Para refletir teoricamente sobre a experiência, há a Universidade FdE. Ela estabelece diálogos com professores, estudantes, rádios e TVs universitárias. Mas sua vocação principal é estimular a rede a pensar sobre seu próprio trabalho, no contexto de grandes temas contemporâneos. Isso se de dá por meio dos Observatórios Fora do Eixo. Foram 85 edições em todo o país, em 2011. Nelas, debateu-se assuntos muito práticos (“Compostagem urbana: como fazer um minhocário”); mas também promoveu-se capacitação reflexiva (teoria e prática das rádios livres, terminando com a montagem de um transmissor, por exemplo), debates estéticos (“Teatro do Absurdo”) e políticos (“O papel da distribuição na Cultura Livre”). Boa parte das sessões é transmitida ao vivo, por internet, e fica disponível num canal próprio do Livestream.

Por fim, há o Partido da Cultura (PCult). Ainda é embrionário e, embora impulsionado pelo Fora do Eixo, vai além dele. Não-institucional por excelência, atua no debate e mobilização sobre políticas culturais (o FdE foi uma das vozes mais claras, na crítica aos retrocessos vividos pelo ministério da Cultura, após o início do governo Dilma). Mas, também aqui, quer ir além da resistência e explorar “o papel da cultura como transformadora das relações de trabalho, sociais e econômicas”.

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Como uma rede tão anti-hegemônica expandiu-se em tão pouco tempo, tornou-se uma referência para a juventude socialmente mais ativa e ambiciona ver suas lógicas e práticas superarem as formas de relacionamento convencionais? Como ela é, por dentro: economia, formas de decisão, relações entre indivíduos e coletivos, tentativa de superar hierarquias? Qual sua história – tão recente, porém tão densa? Quais as chances de reproduzi-la em outros terrenos da produção imaterial – este vastíssimo universo que rapidamente ocupa o centro da economia, em todo o mundo? Que críticas são feitas ao Fora do Eixo, e que as motiva? Quais seus possíveis futuros, à medida em que seus integrantes deixarem de ser tão jovens, e desenvolverem novas necessidades? Quais os riscos de serem capturados pela mesma lógica que pretendem superar?

Talvez um jornalismo de profundidade ajude a encontrar respostas. Em 13 de fevereiro, a repórter Bruna Bernacchio e eu nos encontramos, na casa FdE de São Paulo, com dois animadores da rede – Felipe Altenfelder (de barba) e Pablo Capilé. O diálogo está registrado nos sete vídeos abaixo, que tiveram edição leve de Bruna. Não devem ser vistos como uma entrevista formal. Foram uma primeira abordagem, que publicamos para que os leitores de Outras Palavras possam acompanhar nosso trabalho desde a etapa em que é produzido. A partir do diálogo, pautaremos e realizaremos uma série de reportagens. Queremos enxergar concretamente o Fora do Eixo – não julgá-lo partindo de esquemas teóricos. Será muito recompensador contar (desde já e durante toda a série) com informações, observações, insights e críticas.

Para estimulá-las, vale adiantar duas hipóteses. A primeira não é nova, mas não custa ressaltá-la. O FdE é mais um filho da era digital. O desejo de novas relações sociais, que o inspira e alimenta, seria impotente sem as tecnologias que derrubaram dramaticamente os custos dos equipamentos e da produção de bens culturais. Que multiplicaram as possibilidades de mixagens e remixagens multimidiáticas. Que tornaram possível aos criadores, ou a coletivos não-mercantis, distribuir seus produtos maciçamente e quase sem custo, propagar seus eventos e ideias, compartilhar em tempo real suas práticas e experiências. Que, enfim, estão tornando desnecessárias e obsoletas a indústria cultural e seus mecanismos de intermediação.

A segunda hipótese é mais instigante e arriscada. Ao buscar soluções para seus problemas práticos, o Fora do Eixo parece ter encontrado uma nova trilha para a prática do pós-capitalismo. Os artistas e coletivos que se integram à rede estão, é claro, imersos no mundo da mercadoria. Neste, como todos nós, eles são obrigados a comprar a vida (aluguel, comida, internet, micros, estúdios, etc etc etc) e vender trabalho. Porém, foram capazes de desenvolver um conjunto vasto de relações sociais de sentido oposto. Esta vida alternativa, que desponta em meio à vida-mercado, pulsa. Consolida-se, porque sendo os coletivos tão frugais, e os custos relativamente baixos, os empreendimentos tornam-se sustentáveis. Reproduz-se – porque a rejeição ao consumismo, a possibilidade desenvolver talentos, de compartilhá-los, de aprender e ensinar incessantemente, de conviver em espaços onde o estímulo intelectual é constante são um combustível que desperta o desejo de mais jovens. Expande-se, porque as mesmas experiências de sucesso alcançadas na música estão se tornando possíveis em muitos outros ramos da produção imaterial. Subverte: porque demonstra, de modo imediato, a viabilidade e concretude de outras lógicas e relações sociais.

Visto desta forma (e não como algo a ser construído apenas após uma duvidosa “tomada do poder”), o pós-capitalismo está em construção há tempo. O software livre é um exemplo emblemático. Comunidades mundiais de milhares de desenvolvedores produzem aplicações fazendo-se remunerar – mas, ao mesmo tempo, desapegando-se do produto final de seu trabalho e estabelecendo, em todas as fases de produção, relações não-mercantis de colaboração. Estas lógicas lhes permitem estar no centro de um dos setores mais dinâmicos e inovadores da economia contemporânea.

Talvez a grande novidade do Fora do Eixo esteja em ter aberto um novo filão, potencialmente muito mais extenso. Porque aqui cabem não apenas os desenvolvedores de código, mas todo o universo da produção de conhecimento, cultura, comunicação e arte.

Que tempos desafiantes, os que vivemos – em que há tanta barbárie e, ao mesmo tempo, tanta possibilidade de humanização. E que prazer, o de estar aberto para perceber, conhecer e narrar estas surpresas.

Fora do Eixo 1 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 1: Contexto da cena musical brasileira e o surgimento do Fora do Eixo

Fora do Eixo 2 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 2: A “sistematização da camaradagem”: o CuboCard

Fora do Eixo 3 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 3: Experiência Fora do Eixo

Fora do Eixo 4 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 4: O acabamento: constante processo de autocrítica

Fora do Eixo 5 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 5: Transparência na rede

Fora do Eixo 6 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 6: Descentralização: a banda como coletivo

Fora do Eixo 7 from Caue Ameni on Vimeo.

Seção 7: Fora do eixo como movimento social

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14 comentários para "Cultura: e se o pós-capitalismo estiver começando?"

  1. Róbinho disse:

    Um aprofundamento da discussão sobre as politicas CAPITALISTAS Pós (modernas) Tudo do Fora do Eixo pode se ver aqui http://passapalavra.info/?p=41866 -Domingo na Marcha (3ª parte)
    Veja a matéria desde a primeira parte em http://passapalavra.info/?p=41431 Domingo na Marcha (1ª parte)
    “Este mito meritocrático de origem liberal tem como função encobrir um processo em que o Circuito Fora do Eixo usa o artista em eventos que não paga, mas estes eventos permitem ao artista rentabilizar a sua imagem e ser pago depois por quem quiser comprar a sua prestação de artista já conhecido. Trata-se de uma espécie de crédito lançado sobre o futuro, só que quem pagará os juros e o principal deste crédito não é o Fora do Eixo, mas os empresários que aparecerem mais tarde para adquirir a mercadoria entretanto promovida.
    A grande descoberta desta empresa é o valor económico de um espectáculo que, para ela, é gratuito — não o paga, mas apropria-se da imagem criada e rentabiliza-a. Se o capital é uma relação social mediada por coisas, o que a empresa de Capilé faz é criar a relação social em torno de algo que já existia e que até esse momento escapara ao mercado e à dinâmica da rentabilização.”
    .
    O que vejo é uma apropriação do “capital humano” (pra usar uma linguagem coerente com o FDE) em torno de uma marca que “conseguiu” homogenizar o dialogo com as mídias e governo quando se fala em “cultura alternativa” (ao quê mesmo?).
    A noção de pós-rancor mostra a cara de conciliação que o FDE defende logo pode ser “Pós” mas bem longe de ser ALÉM do capitalismo. FDE é uma empresa… “descentralizada” (o que não é verdade), aberta (?) etc..etc..etc.. Basta olhar como funciona como uma agência de intercâmbio usando a marca para “agregar” em torno de si grupos seduzidos por eles para fazer o que os grupos de contra-cultura (música,fanzines, espaço ocupados,poesia,teatro etc…) sempre fizeram como se tivessem inventado a roda. Seu grande mérito é alimentar a idéia que podemos ter um capitalismo (mesmo que com o nome pós) humanizado,ou verde, ou justo seja lá como queiram chamar.

  2. Luiz disse:

    Talvez você gostasse de complementar sua leitura sobre o tema vendo aqui e aqui.

  3. Felipe Cabral disse:

    Bom texto do Antonio Martins sobre o Fora do Eixo. Ele pontua e historifica diversos aspectos interessantes, exaltando bastante a experiência (talvez até demais?!). No entanto não posso deixar de colocar os seguintes tópicos sobre a inconsistêncioa de alguns valores, metodologias e formatos do FDE e que são desconsiderados pelo texto.
    1 – Apropriação irresponsável do discurso. O FDE tem se conectado a diversos coletivos e/ou grupos que, na rede, discutem, desenvolvem e conceituam Cultura Digital, software livre, mídia livre, entre outras temáticas do Digital. Entretanto, em diversas oportunidades, o FDE não creditou e nem se aprofundou nos significados e valores contidos nos conceitos que esse coletivos carregam/desenvolvem. Pelo contrário, passou a marketizar e prospectar viralização em cima de um capital humano associando tudo ao FDE.
    2 – Marketing agressivo. Se vamos falar em pós-capitalismo temos de falar sobre quais são os pilares do capitalismo. E um deles é, sem dúvida, o uso do marketing e da publicidade para vender marcas e consequentemente gerar insumos a partir disso. O FDE tem ocupado redes sociais, campanhas públicas e espaços na rede com um marketing agressivo em torno da marca “Fora do Eixo” e menos em torno de um conjunto de idéias e/ou de um postulado teórico-embasante.
    3 – Esse trecho desse parágrafo é interessante:
    “Como ela é, por dentro: economia, formas de decisão, relações entre indivíduos e coletivos, tentativa de superar hierarquias? Qual sua história – tão recente, porém tão densa? Quais as chances de reproduzi-la em outros terrenos da produção imaterial – este vastíssimo universo que rapidamente ocupa o centro da economia, em todo o mundo? Que críticas são feitas ao Fora do Eixo, e que as motiva? Quais seus possíveis futuros, à medida em que seus integrantes deixarem de ser tão jovens, e desenvolverem novas necessidades? Quais os riscos de serem capturados pela mesma lógica que pretendem superar?”
    E se o Outras Palavras, outros coletivos de mídia livre, ou o próprio FDE ajudarem a desmembrar essas questões em algumas respostas ou até mesmo em novas questões, penso que será de grande valor.
    Se o Fora do Eixo tem hoje o mérito de ter se tornado uma alternativa para alguns coletivos de música no Brasil e se mostrou que há muito capital humano jovem buscando novas maneiras de se associar, trabalhar e viver, ele tem também o ônus de ter se tornado um corpo crescente sem firmeza para sustentar as contrapartidas de um mundo livre no seu mais radical olhar pela justiça social e pela trânsparência das relações micropolíticas.
    Desejo sucesso ao FDE, mas principalmente sucesso no olhar pra si mesmo, de dentro e de fora, percebendo as necessidades de um mundo muito mais plural do que um ecossistema em bolha é capaz de produzir com caixas compartilhados.

  4. Fernando Guedes disse:

    Sou obrigado a concordar com o Bruno T.

  5. Fábio Nogueira disse:

    Enquanto essas idéias não animarem uma luta determinada (rancorosa, dirá quem acha toda luta uma bobagem jurrásica), elas servirão pra renovar a produção capitalista. Isso é elementar. É uma pena que os moços envolvidos no FdE achem a crítica da economia política tão envolta em rancor. Bem poderiam se beneficiar da leitura d’O Capital, pra saber que o capital não some com organização horizontal, com boa vontade, etc. Bem que todos nós queríamos.

  6. Lúcia Ribeiro disse:

    Movimento que entusiasma. Duvido que cada jovem saia indiferente com a experiência. Este tipo de envolvimento tende a ser multiplicador. Ontem jovens da UNE sonhavam e agiam (mesmo que de lá saíssem também os Serra da vida – não significa que foi inútil). A ação social que procura ser contra as hegemonias é válida, pois é transformadora, como tão bem propunha Paulo Freire. Em frente, jovens Fora do Eixo.

  7. Pedro Henrique disse:

    Moedas, bancos, partido, etc. O que têm de pós-capitalismo nisso?
    Isso é puro capitalismo, mas com uma roupagem ultra-jovem…

  8. renato machado disse:

    Como são importantes essas iniciativas anti-sistema. São centenas de milhares de experiências como essa que estão se constituindo mundo afora. Vemos nisso tudo , uma grande influência das idéias anarquistas e isso é muito bom.

  9. Anonymous disse:

    PS: Uberlandia é no Triangulo Mineiro, em MG.

  10. Marco Cecilio disse:

    Hoje estava lendo “O longo século XX”(http://www.estantevirtual.com.br/q/longo-seculo-XX), que é um belo trabalho do Arrighi sobre o capitalismo na longa duração, discutindo as várias hegemonias no sistema mundial começando em Gênova no século XV.
    Ao discutir a passagem da hegemonia britânica para a americana ele apresenta um ótimo argumento para o qual eu nunca havia atentado: o sistema britânico de empresas comerciais, no final do século XIX, era composto por empresas de médio porte, altamente especializadas, flexíveis e interdependentes com os fornecedores externos.
    Essa característica, que contribuiu para o sucesso inglês, tornou-se uma imensa desvantagem quando os americanos fizeram uma verdadeira revolução organizacional na virada do século. Criaram as grandes corporações, integradas verticalmente e que permitiram grandes economias por meio de um planejamento mais rigoroso e integração de atividades. Estas empresas tornaram-se gigantes mundiais, capazes de impôr seus produtos e preços globalmente. As empresa britânicas, pequenas e fragmentadas, não conseguiram acompanhar o movimento.
    Ao ler este trecho do livro, anotei no rodapé da página: um modelo alternativo hoje, menos concentrado e mais cooperativo, para que se torne dominante exige uma revolução organizacional que transforme estas características de descentralização, cooperação e valorização do caráter único de cada indivíduo numa vantagem comparativa.
    Sem esta revolução organizacional, não há como confrontar o capitalismo a não ser que seja pela criação de uma unidade política global capaz de colocar freios ao processo interminável de acumulação de capital. Esta alternativa me parece ainda menos factível e ao mesmo tempo assustadora pela concentração de poder numa única unidade.
    Resumindo a reflexão: iniciativas como a FdE são as nossas esperanças de transformação. Não que sejam perfeitas, mas são um lindo começo!

  11. Igor Plata disse:

    Então, meu caro, faça a discussão! (Bruno T)
    Sou muito animado com essas idéias, e fico muito feliz com essas práticas.
    Conheci o pós-capitalismo por aqui e não vejo a hora de implementar esse “não consumo”.
    Parabéns ao site, blog e essa nova forma de jornalismo!
    Sucesso!!!

  12. Bruno T disse:

    Espero não ser enquadrado no grupo dos rancorosos pela minha opnião (afinal quando falamos sobre a Ana de Holanda, ACTA etc ninguém chama ninguém de rancoroso pelo contrário é visto como politizado). Enfim me parece que esse texto é como uma matéria do Caderno Responsabilidade Social do Globo (que todos nos sabemos que são as próprias empresas com seus setores de marketing que enviam as matérias e o editorial do Globo somente coloca no estilo jornalístico).
    Não é emitida nenhuma opnião (imparcialidade jornalística? Eu não acredito nisso!) e só reproduz o discurso já pronto do próprio fora do eixo. Sinceramente acho que o FdE é bem mais do que essa matéria, tenho pontos de discordância com algumas práticas do FdE mas também vejo coisas positivas mas ficar só fazendo apologia e marketing, daí fica difícil de fazer política. Pra mim seria legal ver mesmo opniões, debates, construções sei que o FdE é capaz disso e de formular muito mais do que somente o branding.

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