Chile: por dentro da grande revolta

Nosso colaborador viveu as mobilizações da juventude, investigou seus motivos, sentiu na pele brutalidade e táticas de provocação da polícia

18 horas, aproximadamente.

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O caminhão range o motor e avança contra Manuel, que não arreda o pé. Rijo e fixo, próximo à janela do caminhão – tão próximo que quase pode olhar nos olhos do carabinero -, ele provoca.

“Desça. Vamos, desça”.

E range o motor, agora mais forte. Brumm. Vrom! brummmm! Pá-plac. O carabinero aponta os canhões do lança-água para Manuel, Manuel Espinoza, 18 anos, costeletas estilo Elvis Presley, olhos vermelhos e mal-encarados. Dispara. Ele enfrenta a força da água, se equilibra com suas franzinas pernas para não cair, se vira de costas para os jatos e, insolente, abaixa suas calças. Bunda desnuda e branca e jatos e motor vomitando fumaça e água espirrando e risos e gritos e o caminhão avança mais e mais. E Manuel estático.

Por fim, o carabinero desiste, dá meio volta com o caminhão e se vai. Manuel levanta as calças, aperta o cinto e caminha com o peito estufado, um princípio de sorriso no canto dos lábios e todo ensopado.

“Por que enfrentar um guanaco? E ainda mais sozinho?”, pergunto, me aproximando.

“A manifestação está pacifica, não que eu me considere pacífico, e eles estão jogando jatos d água e bombas de gás lacrimogêneo. Então eu disse: ‘que venham’”.

Aqui é preciso abrir um parêntese: “eles” são os carabineros, a polícia militar chilena, responsável pela “ordem institucional”. Caminhões como esse que lançou jatos contra Manuel e os outros manifestantes são conhecido como guanacos e não atiram só água. Os carabineros costumam adicionar fezes, areia e gás lacrimogêneo, também conhecido como “agente de controle antidistúrbio”. Os veículos menores que transitam para lá e para cá, em alta velocidade, soltando uma fumaça ocre pelas laterais (também gás lacrimogêneo, só que em estado puro) são chamados de zorrillo. O efetivo da policia para conter as manifestações também inclui a cavalaria, ônibus, viaturas e helicópteros que sobrevoam o céu de Santiago.

É a isso que Manuel se refere quando diz “eles” e que não se considera pacífico, sem deixar de olhar ao seu redor, como se houvesse um carabinero escondido, escutando o que ele fala. Há muita gente espalhada pela Alameda, a principal rua do centro, correndo do lacrimogêneo, dos jatos, dos carros.

Ele prossegue, em um tom messiânico, franzino a sobrancelha.

“Somos mais que os carabineros, nós nos manifestamos do nosso jeito e não vamos deixar que eles respondam dessa maneira”.

O jovem que enfrentou sozinho um guanaco agora é apenas mais um entre os mais de 600 mil chilenos que saíram às ruas nesse dia 25 de agosto, na maior manifestação desde a ditadura de Pinochet (1973-1990). Essa é a primeira greve geral da democracia chilena, convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) no dia 24 e que reuniu mais de 80 organizações sociais, políticas e sindicais do país. O movimento estudantil, que há três meses está em manifestações, também apoia.

Caminho pela rua, com os olhos vermelhos. Lágrimas involuntárias escorrem, a visão escurece por alguns minutos, sinto minha pele queimando e a dificuldade em respirar, provocada pelo gás, me dá uma leve vertigem. Uso o meu cachecol como uma mascara, na tentativa de filtrar o ar poluído pelas bombas. Sigo a correria. Os carabineros encurralam os manifestantes nas ruas paralelas a Alameda, contendo-os por lá e atirando jatos d água e bombas de gás lacrimogêneo. Outras pessoas se entrincheiram nos quiosques da avenida. Carabineros correm. Manifestantes correm. Alguns espreitam e avançam contra os guanacos, atirando pedras, paus, tudo que tem a mão. O metal tilinta. Um grupo se refugia na Igreja. Um senhor grita solitário, enfrentando um grupo de carabineros: “Estamos lutando também por vocês, seus filhos da puta!”.

As cenas são invariáveis. Até o final dessas manifestações, 1394 pessoas vão ser presas, mais de 200 pessoas vão ser feridas e um jovem de 16 anos vai ser assassinado. Tudo parece um filme dramático, de longos três meses, em que cenas como essas não assustam e cada um dos lados quer escrever a sua maneira o seu final.

Filme por filme, eu, ao contrário, me sinto num bangue-bangue, naquele momento em que a diligência vai ser atacada pelos índios. Sempre num desfiladeiro, os cavalos trotando, pedras caindo no abismo e a angustia precipitada pela boca do estomago: a qualquer instante a lona do carro vai ser crivada de flechas. Pois bem: é essa angústia, a qualquer momento eu – e qualquer um que ande pela rua – pode ser o alvo dos carabineros. Mas o gozado é que não há nenhuma surpresa nisso, tudo já parecia anunciado há algumas horas atrás.

Algumas horas atrás

A alameda principal de Santiago está fechada. Os carabineros advertem que ninguém pode passar, o que deixa o sociólogo Juan Luiz Marre puto, irado de raiva.

“Essa rua é minha, tenho o direito de ir e vir”.

“Não pode passar, senhor”, barra-o com o peito o carabinero, fitando o vazio.

“Vocês estão perdendo o controle, é isso que está acontecendo!”, descarga Juan, saindo para outra rua.

Caminho com ele até uma das quatro marchas que vão desembocar na Avenida Ricardo Cumming. Ele perdeu seu emprego quando Sebastián Piñera subiu à presidência e agora vive apenas de bicos, motivos suficientes para deixá-lo insatisfeito com a situação. Na verdade, insatisfeito é uma palavra muito leve para descrever seus sentimentos: ele comenta que nunca “o Chile foi tão neoliberal” como nesse governo “culhado” e dispara muitos “puta madre” e “hijos de puta”.

“É ruim voltar a sentir fome, como na época da ditadura. Mas os jovens estão saindo à rua, fazendo o que nós não fomos capazes de fazer”, Juan constata, com um vinco na testa. “Não queremos uma reforma, queremos mudança. Eu não tenho nada a perder, não tenho família e posso dar a vida por essa causa”.

Chegamos a Avenida Cumming e a cada minuto as pessoas se multiplicam. Os carabineros fazem um cordão, impedindo que a manifestação se estenda por outras ruas. Dois helicópteros sobrevoam o céu de Santiago. A cavalaria está aposta. Os guanacos com os jatos de água estão apontados para a multidão.

Do outro lado, alguns jovens encapuzados atiram pedra contra os carabineros, que se defendem como podem. Um grupo de manifestantes se coloca a frente do cordão policial como um escudo humano que protege os carabineros. Erguem as mãos, pedindo “tranquilidade”, “calma”, “não façam isso”. As pedras estalam em seus corpos. Um senhor se aproxima, indignado.

“Estão loucos, defendendo esses assassinos? Não sabem o que está se passando no país? E ainda defendem esses culhados?”

Jorge Valdebenita está abraçado à bandeira do Chile e participa do “escudo humano”.

“Senhor, só conseguimos algo com argumentos, não com pedras”, tenta argumentar.

O senhor chacoalha a cabeça, blasfemando contra a atitude. Aproximo-me de Valdebenita e pergunto se são muitos os jovens mais – penso por uns dois segundos na palavra mais adequada – hostis.

“São só alguns e é uma atitude manejada por alguns violentistas, os garotos são muito apaixonados e fazem coisa que não deveriam. Mas não tem argumento”, pondera. “Não é mesmo, Vladimir?”, e olha para outro senhor que o acompanha. É Vladimir Roblette Jerez, dirigente sindical dos professores.

“Um: não tem argumento”, começa Jerez, em tom professoral. “Dois: não há possibilidade de respeitá-los [os carabineros], os jovens são reprimidos e atacados e respondem com a mesma violência. É assim: o governo enfrenta o povo com a força pública e os carabineros, símbolos da burguesia e que são tão vítimas como nós, não são respeitados. Mas damos a volta com ideias, não com pedras.”.

Mas as pedras seguem voando sobre as cabeças de Valdebenita, Jereze e dos carabineros. Alguns encapuzados ateiam fogo em lixeiras. Os mais esquentados são cerca de 40. Quebram vidros de pontos de ônibus e atiram os pedaços como navalhas. Os manifestantes que serviam de escudo humano aos carabineros vão até os encapuzados exigir que parem, mas são agredidos com pauladas e pedradas. Os encapuzados gritam obscenidades. Vociferam contra os “pacifistas, filhos da puta”. Incendeiam pneus e os chamam para brigar. Atiram mais pedras e pedaços de madeira. Mas estão em menor número e são escorraçados da frente da manifestação. Uma salva de palmas ecoa pela avenida. Logo, retornam, ainda mais violentos, com mais pedras, mais pedaços de vidro, mais paus, mais artilharia. Os carabineros aguentam firme a hostil chuva proporcionada pelos encapuzados. Os guanacos já atiram alguns jatos d água. A cavalaria atrás deles se prepara. Os carabineros correm em direção aos manifestantes. Não há mais volta: o conflito estoura.

Infiltrado, eu?

Aperte o pause e volte alguns minutos antes de estourar o conflito. Pedras, vidros e paus voando em direção ao cordão policial. São os “terroristas”, segundo o governo chileno. Agora aperte play. Vê aqueles encapuzados que estão mais de canto que os outros, que atiram pedras, provocam outros manifestantes, vociferam contras os carabineros e, em seguida, tiram fotos? Pois bem, são acusados de serem carabineros infiltrados.

Em vídeos divulgados no youtube, algumas horas depois das manifestações, se podiam ver “pacifistas” interrogando alguns desses mesmos encapuzados, que revelavam discretamente serem carabineros e que pressioná-los não era uma boa ideia. Alguns, nesses mesmos vídeos, eram acusados de serem contratados do governo e, logo depois, saiam escoltados por outros encapuzados. No dia seguinte, ao tentar acessa-los, apareciam com a seguinte advertência: “Este vídeo foi removido pelo usuário”. A imprensa chilena relatou vários testemunhos de homens encapuzados que deram inicio aos distúrbios e que teriam descido de ônibus policiais para se juntarem à população.

Segundo os manifestantes, supostamente os carabineros – ou pessoas contratadas pelo governo – se infiltram nas marchas praticando ações violentas para que haja motivos para repressão e deslegitime o movimento estudantil. O tenente-coronel dos Carabineiros Hernán Silva, depois de um incidente em Valparaiso (quando manifestantes descobriram um infiltrado que, em seguida, foi protegido pela Guarda do Congresso), admitiu a “presença de agentes disfarçados entre manifestantes”.

Um dia antes eu estava em La Granja cobrindo algumas manifestações, tomando notas em um caderninho e três jovens se aproximaram de mim, inquirindo-me.

“O que você está anotando?”

Digo o que fazia por ali e eles, mais relaxados, me explicam.

“É porque têm muitos carabineros infiltrados e pensamos que você fosse um deles”

Sempre que perguntava algum nome ou sobrenome, as pessoas me olhavam desconfiadas, a voz hesitava e indagavam se “realmente eu não era um infiltrado”. Infiltrado, eu?, me surpreendia.

Ainda em La Granja me encontrei com Bráulio Gonzáles, membro da Comissão de Direitos Humanos e perguntei sobre essa política de repressão.

“O governo de Piñera poderia usar essa mesma força para nos dar uma saúde melhor, uma educação melhor”, ironiza ele.

No momento em que falávamos algumas pessoas correram. Uma barricada. Pneus queimando e a fumaça preta e sufocante dançando com o vento no céu. Quando chego à barricada vem uma chuva de granadas de lacrimogêneo. Imediatamente me encosto a uma parede, tossindo, velha história, pele ardendo, vertigem, cegueira momentânea. Alguns dão uma bica nas granadas, arremessando-as para longe. Os carabineros vêm, num rompante, com rifles, guanacos, viaturas, zorrilos e cavalos.

“É melhor você correr”, me diz um dos jovens que atearam fogo nos pneus.

Um caldeirão de reivindicações

Há uma história? Sim, há uma história e ela começa com Pinochet.

Três dias antes de entregar o poder, ele promulgou a Lei Orgânica Constitucional de Ensino, que delegou grande parte da educação chilena ao setor privado. O resultado é que o ensino superior no Chile é pago, e caro. Para poderem cursar uma universidade, os estudantes precisam de crédito, que chegam pagar por até 30 anos depois de formados. Há mais de 3 meses as universidades chilenas estão paradas reivindicando educação gratuita e de qualidade.

Os estudantes secundários se juntaram às mobilizações e também tomaram os colégios. O governo tem apresentado propostas de reformas do sistema educacional, como a desmunicipalização da educação secundária, uma mudança constitucional que assegure a melhoria do ensino e a redução das taxas de juros dos creditos concedidos. Mas os estudantes rechaçam, afirmando que são apenas reformas e não mudanças efetivas. Por isso, defendem a aplicação de um plebiscito para que se faça uma nova Constituição.

Houve outros movimentos com reivindicações semelhantes, como a “Revolução Pinguina”, em 2006, mas esse é considerado um dos mais fortes desde o retorno da democracia. Isso porque todos os outros movimentos sociais tem se somado as reivindicações estudantis, desde protestos para uma reforma da legislação trabalhistas até protestos pelo direito a diversidade sexual ou contra a implantação de projetos de hidrelétricas.

Segundo pesquisa do instituto ImaginAcción, as manifestações tem apoio de 80,9% da população, enquanto o governo de Piñera conta com apenas 26%, o indicie mais baixo desde a queda de Pinochet. O cientista político Robert Funk, da Universidade do Chile, em seminários, tem defendido que toda essa convulsão social é o reflexo de uma crise de representatividade política no país. A população chilena ficou frustrada com as providências tomadas após o terremoto de 2010 e com as medidas neoliberais do governo.

Aí surge uma dúvida: se a insatisfação parece ser geral, porque os estudantes têm encabeçado esse movimento?

O Chile vem crescendo economicamente há anos, quando se tornou a alegria dos investidores internacionais, mas a desigualdade cresceu em proporções semelhantes. Em 2006, 13,7% da população vivia em situação de pobreza extrema, ou seja, com menos de um dólar por dia. Três anos depois, esse número cresceu para 15,1%. Isso no período em que a economia cresceu (alcançando em 2010 o PIB histórico de US$ 200 bilhões, similar a países como Irlanda, Israel e Portugal) e os 20% mais ricos aumentaram sua renda em 9%. Junte a isso o fato de que a força sindical no Chile é mínima e a taxa de desemprego chega a 17,6% entre os jovens (segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do Chile), o resultado é os jovens saindo à rua, sem o medo que seus pais têm de serem demitidos.

Apenas em um giro por Santiago já se nota a efervescência política do país: ruas cobertas de cartazes, painéis enormes desenhados nos muros, carreatas de taxistas, bicicleteiros em marcha pela cidade, em cada esquina é possível cruzar com figuras que protestam por algo. As conversas nos ônibus, nas filas de mercados, não escapam do tema, como relata Viviane Ortega, funcionária de um hotel de luxo. “Esse pais está para cagar, trabalhamos a noite toda, 12 horas, para ganhar um salário mínimo. Sabe quanto é? 180 mil pesos”, me diz. Esse valor equivalente a 640 reais, com diferença que o Chile tem o custo de vida mais caro da América do Sul.

Maria Helena está com Viviane esperando o ônibus:

Es un governo de mierda! Pode escreve isso na sua nota”, acrescenta. Quando digo que vou para as manifestações, arregala os olhos e me aconselha. “Vê se toma cuidado”.

Tomando cuidado

Voltemos às manifestações do dia 25. Depois de o conflito estourar. As coisas já estão em um alto nível de tensão. Se não acredita, olhe para esse jovem com um cachecol cobrindo o rosto, olhos vermelhos e lacrimejando, em uma rua paralela a Estação Central. Ele está tomando notas em um caderninho enquanto bombas de lacrimogêneo são lançadas; pedras, garrafas e vidros voam sobre sua cabeça; manifestantes e carabineros correm de um lado para o outro e paira na atmosfera uma perturbadora fumaça ocre. Veja como ele é golpeado no peito por dois carabineros que correram em sua direção; em seguida ele cairá seco no chão e será agarrado pelo pescoço por outro carabinero, que tentará arrastá-lo para dentro de uma viatura, acusando-o de atirar pedras, promover a desordem e ser um terrorista.

Esse jovem sou eu.

Imediatamente passaram-me pela cabeça, como num flash espírita, os inúmeros depoimentos de estudantes que foram detidos. Socos, pontapés, safanões, interrogatórios truculentos e depois a sarcástica pergunta: “o que aconteceu que está sangrando, meu jovem? Nem encostamos a mão em você”. Também me lembrei de estudantes estrangeiros detidos que foram deportados para seu país de origem e, sair do Chile, desse jeito e sem encerrar a reportagem, não estava em meus planos.

Para quem acredita na roda da sorte ou em acasos convenientes, eis que surge um material para análise mística. Um senhor peita os carabineros que estavam me levando.

“Ele não estava fazendo nada. Nada!”

“Ele estava atirando pedras”, responde um carabinero, olhando ao redor e procurando algo. “É terrorista!”

“Eu sou mais velho e ele estava comigo e ele não fez nada, senhor. Nada” mentiu ele, ao dizer que estávamos juntos, e livrando minha cara.

Estendeu-me a mão, erguendo-me. Levantei-me e, a princípio, ri-me com o acontecido, ri-me sem gosto, como se riem os fatigados por ver o real mais real.

“Eles desceram e não pegaram ninguém, precisavam levar um preso”, me disse o senhor. “E você foi o sorteado”, riu sarcástico, dando-me um limão, que alivia o mal-estar provocado pelo lacrimogêneo no organismo. “Não coloque o cachecol no seu rosto, sei que não dá pra aguentar o lacrimogêneo, mas tem que aguentar”.

Ao voltar para casa, vi a cidade em frangalhos: semáforos e placas queimadas pelas barricadas; pontos de ônibus destruídos; pedras, garrafas, tintas, granadas de lacrimogêneo e bandeiras ao chão; manchas brancas das bombas contrastando com o escuro do asfalto; policiais por todo o lado. Olhei para o lado e vi um grafite: “Guerra Social”. Sorri, me parecia fazer sentido a frase.

À noite, fui a um panelaço e conversei com um senhor, cabelos brancos e lisos, que estava com sua frigideira, gritando contra o governo de Piñera. Ele viveu de perto muitas transformações políticas no Chile, estava presente quando Pinochet entrou e saiu do governo; em todos os anos de democracia; foi a várias manifestações, panelaços e marchas e, quem sabe, poderia me dar uma visão não tão apaixonada, de quem já passou por outros momentos históricos. Perguntei se ele acreditava que algo, de fato, iria mudar.

“É difícil, para mudar eu acredito que algo muito grande vai ter que acontecer”, disse, pensando no que seria esse “algo muito grande”. “Como uma morte, de algum dos lados”.

Nessa mesma noite, talvez enquanto conversávamos e esse senhor me falava de mortes, Manuel Gutiérrez, um jovem de 16 anos, foi baleado enquanto voltava para casa. Depois de uma exaustiva investigação, se comprovou que o disparo saiu de uma submetralhadora israelita UZI, utilizada pelo Grupo de Operações Policiais Especiais, o GOPE, dos Carabineros do Chile. Nada, efetivamente, mudou e as manifestações seguem.

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5 comentários para "Chile: por dentro da grande revolta"

  1. Debora Weber disse:

    Me emocionei lendo seu texto… recentemente fui a santiago e pude acompanhar de perto um pouco da luta dos estudantes assim como a repressão que vem acontecendo com a população.
    Estou tentando entender agora, porque alguns jovens os quais estudam, são contra a camila vallejo e a mobilização estudantil. Talvez seja por serem ricos e não necessitarem, não sei se é tamanha ignorância ou há fatos que desconheço.
    Parabéns pelo trabalho desenvolvido

  2. Sofia freire dowbor disse:

    Excelente

  3. Muito bom texto! Parabéns.

  4. Bruno Bassi disse:

    Excelente matéria de Rôney Rodrigues.
    Incrível como a história do Chile serve de exemplo de mobilização social e ação política. Fiz minha monografia para graduação sobre o golpe militar que depôs a Unidad Popular de Salvador Allende. Entrar em contato com o socialismo chileno e as vertentes de luta e demanda que eles expressam foi uma experiência incrível.
    O nível de mobilização do Chile só pode ser comparado com o da França. Espero um dia ainda ver esse grau de consciência política aqui no Brasil.
    Viva Chile!!

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