Carta aberta ao prefeito de São Paulo

Movimentos propõem a Haddad: “Não tema as ruas. Acredite: revogar esse aumento, rever política de transportes, será vitória da cidade”

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Movimentos propõem a Haddad: “Não tema as ruas. Acredite: revogar esse aumento, e rever a política de transportes, será vitória da cidade”

Da rede Existe Amor em São Paulo | Imagem: Drago, SelvaSP

Uma tentativa pública de diálogo com o prefeito de São Paulo está repercutindo intensamente nas redes sociais. Lançada no final da manhã desta sexta-feira, pela rede “Existe amor em S.Paulo”, uma carta aberta a Fernando Haddad já havia sido compartilhada por mais de 1400 organizações (entre elas, “Outras Palavras”), movimentos e pessoas, em poucas horas. Seu sentido é claro. Ela frisa que o prefeito, cuja eleição despertou esperanças de ruptura com velhas práticas e radicalização da democracia, não pode confundir-se com o que há de mais atrasado na política brasileira.

Haddad, sugere a carta, pode diferenciar-se de duas maneiras. A primeira é afastar-se da violência policial não apenas em declarações tímidas, mas por meio de gestos concretos. A segunda implica a ousadia que se espera de quem governa S.Paulo: revogar o aumento das tarifas de ônibus, num sinal de compromisso com o resgate do transporte público na metrópole.

São Paulo prepara-se para uma nova manifestação histórica, na próxima segunda-feira (às 17h, no Largo da Batata). Como argumenta um texto de Marília Moschkovich em “Outras Palavras”, não se trata de vinte centavos. Estão em jogo a democracia e o direito à Cidade. Que atitude tomará o prefeito, diante de tal batalha?

Senhor Prefeito,

Uma parte de nós vem, nos últimos dias, participando de manifestações de rua contra o aumento das passagens dos transportes urbanos. Mas a ampla adesão ao movimento mostra que não se trata apenas de 20 centavos. Não importa a nós, nem a um número crescente de cidadãos, se tal aumento foi abaixo da inflação. Estamos manifestando uma profunda insatisfação com esses serviços urbanos. Mas não apenas. É também a canalização de uma sensação represada de inconformismo, cada vez menos difuso, com os rumos políticos do país.

Não somos partidários do uso de métodos violentos. Nem nós, nem quase a totalidade dos manifestantes, eleitores ou opositores seus. Mas as atitudes da polícia militar, ontem, mostraram sem a menor sombra de dúvida que quem acredita na violência não é o Movimento pelo Passe Livre (MPL). É o Estado, que demonstrou enxergar na agressão, na força bruta, as únicas ferramentas de persuasão.

Em questão de minutos, senhor prefeito, inúmeros relatos e imagens provam nosso ponto. Assista aos vídeos. Leia os depoimentos. Converse com paulistanos. A manifestação ocorreria em relativa tranquilidade, sem qualquer episódio de violência, baderna ou vandalismo, se a polícia não tomasse a iniciativa de abrir as hostilidades. Ferindo inclusive passantes e membros da imprensa, com premeditação criminosa. Depredando o próprio equipamento policial para culpar os manifestantes. Está tudo documentado: a brutalidade seguiu por horas, com cidadãos inocentes sendo caçados como presas.

O governador Geraldo Alckmin já havia dito claramente que mandaria endurecer a repressão. Foi endossado, cobrado amplamente por editorias nos dois grandes jornais da cidade. Eis nosso ponto. De Alckmin, da Folha, do Estado de S. Paulo não esperávamos nada diferente. De você, sim.

Sua eleição representou para muitos um ato de possível ruptura política, de descontinuidade do estado policial que o governador e a antiga prefeitura nos oferecia. Nos causa enorme tristeza e decepção não vê-lo tomar uma posição que o afaste claramente de tais políticas repressivas. Vê-lo longe da cidade, em Paris, ecoando as palavras reacionárias de Alckmin, reproduzindo os mesmos adjetivos injustos, os mesmos clichês conservadores que, temos certeza, você já escutou em seu tempo de militância.

Tem ideia de como isso nos atinge?Vivemos em uma metrópole exausta, à beira de um colapso físico e psico-social, que intimida, oprime, espanca e mata o melhor da sua juventude: moradores da periferia, ativistas, ciclistas, skatistas, grafiteiros, músicos… Que por tempo demais criminalizou nossas últimas reservas de potência, saúde e sanidade cidadã. Foi em nome dessa potência, prefeito, que o senhor pediu votos. Não para defender o mesmo tipo de “ordem” autoritária e insensível que o governador e quem o elege representa.O prefeito diz que tais manifestações não são maduras, pois não são capazes de apresentar lideranças. Pois lhe dizemos com toda franqueza: é o senhor que não está sendo maduro.

Pois não compreende a nova lógica do ativismo, da auto-organização, da inteligência e da indignação coletivas. Não entende que sua resposta não será dada em uma mesa de negociações. Há outras formas de dialogar.Não encarne o poder como seus antecessores. Não tema as ruas. Não acredite que ceder a elas é capitulação. Acredite, revogar esse aumento, começar uma séria revisão dos contratos e da política de transporte na cidade, será muito mais do que uma vitória dos movimentos sociais. Será uma vitória de São Paulo. Uma demonstração de que um governo popular é aquele que escuta o povo. Será uma pequena vitória da ideia de cidade que você diz manter.Se em seus discursos você fez eco aos que disseram nas praças que Existe Amor em SP. Se quer, com essas palavras, ser inspirador de transformações, é essa transformação, esse amor pela cidade que hoje bate à sua porta. Esperamos que agora ela não seja trancada.

Movimento Existe Amor em SP!

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