Outros Quinhentos propõe: Cecília Meireles e as Cachaças Inconfidentes

Brasileira, diversa e democrática, aguardente foi parte da vida social e da cultura política que animaram a Inconfidência Mineira. Novo encontro de “Literatura e Cachaça” conta a história, neste sábado (30/6). Contribuintes de Outras Palavras têm desconto de 50% e concorrem a duas bolsas

Por Maurício Ayer*

Os inconfidentes tomavam cachaça como símbolo de sua rebeldia republicana e contra o “imperial” vinho português: lenda ou verdade histórica? O andarilho Tiradentes, em meio às suas intermináveis caminhadas, reservava o tempo de tomar uma cachaça no alambique de sua família, perto do córrego do Mosquito, onde hoje fica Coronel Xavier Chaves: verdade? Perguntas como essas dão uma pequena amostra de como a Inconfidência Mineira, primeira insurreição de caráter a um só tempo independentista e republicano no Brasil, é cercada de lendas, cultivadas tanto nos altos meios literários quanto nas bodegas populares. Cecília Meireles, com o seu monumental Romanceiro da Inconfidência, participa desse trânsito entre a história e a construção do mito.

Cecília foi visitar Ouro Preto pelo ano de 1940 e voltou de lá ela mesma habitada pela Vila Rica das Minas Gerais. Conta a poeta: “Vim [a Ouro Preto] com o modesto propósito jornalístico de descrever as comemorações de uma Semana Santa; porém os homens de outrora misturaram-se às figuras eternas dos andores; nas vozes dos cânticos e nas palavras sacras, insinuaram-se conversas […]”. A partir dessa escuta, entre a pesquisa e a invenção do imaginário, Cecília escreveu seu Romanceiro, com o tom elevado das grandes épicas populares, como os romanceiros ibéricos do final da Idade Média. 

Claro que a aguardente está presente no texto de Cecília, em meio à recriação das histórias dos inconfidentes; mas as conexões que vamos reconstituir neste 5º Encontro de Literatura Brasileira & Cachaça vão além dessa obra. Afinal, os alambiques brotaram nas serras e chapadões de Minas junto com a febre do ouro, sendo a cachaça essencial na dieta dos escravos e, também, dos homens livres. Os tropeiros levavam nas mulas as ancoretas de aguardente e comercializavam nos pontos mais distantes. As vendas, tabernas, bodegas e prostíbulos eram espaços de grande importância na vida social da província.

Uma outra escritora dedicou-se a contar histórias e reconstituir muitas dessas conexões. E não por acaso. Cida Chaves, paulista de Bauru radicada em Minas Gerais, percebeu-se, em sua vida, em uma encruzilhada dos tempos. Seu esposo, Rubens Chaves, adquiriu de um primo o alambique mais antigo do Brasil ainda em funcionamento, em Coronel Xavier Chaves, na região de São João del Rei. Consta que essa destilaria funcionava nas terras do irmão mais velho do Tiradentes (o padre Domingos da Silva Xavier) e permanece como propriedade da mesma família até hoje, com Rubens, Cida e seus filhos. Contam – e isso é perfeitamente verossímil – que o próprio alferes gostava de se apoiar junto à janela do alambique para tomar uma caninha apreciando a paisagem e, então, conversar, como sempre fazia, sobre o sonho de que as Minas Gerais se tornassem uma república independente.

No nosso encontro, vamos percorrer algumas dessas múltiplas linhas que conectam literatura, história e cultura, degustando a cachaça que ainda hoje é produzida neste mesmo alambique: a premiada e admirada Século XVIII. Cecília Meireles, Cida Chaves, os poetas inconfidentes – Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto –, entre outros autores brasileiros, todos serão convocados a essa reunião de tempos que a cachaça promove melhor que ninguém.

Leituras: Romanceiro da Inconfidência (Cecília Meireles); 25 anos na Tribuna e Mulheres de Dois Andares (Cida Chaves); poemas escolhidos de Gonzaga, Costa e Alvarenga Peixoto. 

Degustação: Cachaças tradicionais de Minas Gerais

*Maurício Ayer é doutor e pós-doutor em literatura pela USP e Universidade de Paris 8, além de escritor, tradutor, editor e sommelier de cachaça. Autor do blog Molhando a Palavra: cachaça e literatura, convenceu-se de que tudo está ligado com tudo e se dedica a procurar os fios de conexão. A cachaça tem ajudado muito nesse processo.

Serviço

> Cecília Meireles: Cachaças Inconfidentes 
> 30/06 (sábado)

> 17h30 às 20h
>Local: Ateliê do Bixiga, rua Conselheiro Ramalho, 945, São Paulo, SP

Tipos de inscrição

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