Expressão Popular lança livro sobre a intelectualidade africana, com debate e sorteio de exemplar para Outros Quinhentos

“O pensamento africano no século XX” tem lançamento hoje, no Bixiga. Haverá debate com os autores e um exemplar em sorteio para quem financia este site

“O pensamento africano no século XX” tem lançamento hoje, no Bixiga. Haverá debate com os autores e um exemplar em sorteio para quem financia este site

por Simone Paz Hernández

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Quando: quinta-feira, 9 de fevereiro – às 19h

Onde: Livraria da Editora Expressão Popular

Endereço: Rua Abolição, 201 – Bela Vista – São Paulo (próximo ao metrô Anhangabaú)

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Elaborado com textos de jovens pesquisadores africanos e brasileiros, o livro O pensamento africano no século XX busca ser uma contribuição para o debate sobre a luta pela autodeterminação dos povos africanos, o combate ao etnocentrismo e ao racismo, e para a proposição de alternativas para a construção da justiça social e da democracia em seus respectivos países.

Lançamento ocorre hoje e contará com dois dos autores do livro, Gustavo de Andrade Durão (UFRJ) e Muryatan Santana Barbosa (UFABC), que por sua vez ganhou organização de José Rivair Macedo.

Compareça ao debate (sem necessidade de inscrição) e concorra a um exemplar grátis, preenchendo este formulário até segunda-feira 13/02 às 16h. O sorteio é válido para colaboradores que sustentam nosso jornalismo independente, por meio de Outros Quinhentos.

A seguir, trechos do prefácio e da introdução do livro.

Prefácio

            “A primeira qualidade deste livro é meter o acento sobre os protagonistas africanos do pensamento, contrariando ao que comumente se faz, que é olhar para a África a partir de uma historiografia colonial, dominada por escritos de administradores, militares, clérigos, e antropólogos. (…)

            É uma coincidência feliz, dado que o pan-africanismo inicia exatamente em 1900 com o primeiro congresso, que se deveria ter realizado em Paris, mas acabou realizando-se em Londres. Esse congresso se queria primeiramente de caráter científico, para contrapor as ideias de Gobineau e as suas teses sobre a diferença entre as raças humanas, mas acabou sendo um congresso político. (…)

            Este primeiro congresso pan-africanista, para além de ter feito emergir personalidades da diáspora, como Anténor Firmin, Marcus Garvey, Abdias do Nascimento, Eric Williams, fez sobretudo emergir aquele que é historicamente  considerado pai do pan-africanismo, William Dubois. (…)

            Em síntese, como faz entender o artigo de Eduardo Felisberto Buanaissa, eu defendo um paradigma através do qual se pode ler o percurso histórico do pensamento africano, esse paradigma é libertário. Antes do século XX, o pensamento africano emerge como luta de libertação contra a escravatura. Depois das diferentes fases de abolição, continua, ainda hoje, a ser um processo de uma liberdade que se chama integração social. Quer dizer, defende-se que os sujeitos de origem africana tenham as mesmas possibilidades previstas pelas diferentes constituições para os seus cidadãos. A prova da atualidade deste processo está nos movimentos cívicos nos Estados Unidos da década de 1960 com Martin Luther King, ou mais ainda, no fato de que o presidente Lula sentiu a necessidade de criar leis de desciminação positiva, e a integração da história da África nos processos de ensino brasileiro, do qual esse livro tem que ser saudado como uma das mais positivas respostas.

            Do fim da Segunda Guerra Mundial e do 5º Congresso Pan-africano de Manchester, até a década de 1960, e como vimos, com a exceção do mundo lusófono, a liberdade tomou a figura de autodeterminação política.

            A partir de então, o grande desafio com que África está confrontada – e no qual incidem os principais trabalhos de investigação, dos quais o Codesria é uma suma exemplar – está ligado ao tríplice-desenvolvimento, econômico, político e social.

            Para ser moçambicano, terminaria dizendo: a luta continua! De um lado, num esforço que tem sido levado a cabo no Brasil e, no caso presente, pelo professor José Rivair, em explorar as várias fases e os vários processos da produção de um pensamento africano, e do outro lado, na luta pelo desenvolvimento, a que estamos carentes, e do qual o Brasil é parceiro d que se pode esperar uma colaboração ainda mais forte e incisiva.

            Digo colaboração, porque um dos méritos deste livro está no fato de que ele não se limita a ser uma obra somente de brasileiros sobre o pensamento africano, mas integra também jovens investigadores africanos e promissores, que com o professor Rivair, querem contribuir para a extensão das percepções sobre o pensamento africano no século XX”. (Severino E. Ngoenha)

 

Introdução

“(…)Um primeiro esclarecimento quanto ao alcance e a natureza dos capítulos que integram este livro tem que ver, portanto, com a explicação sobre os campos de abrangência do pensamento africano tradicional e do pensamento africano não tradicional. No primeiro caso, tem-se um vasto conjunto de saberes acumulados pela experiência ancestral, alimentado e transmitido por meio da oralidade, com acesso relativamente restrito a grupos especializados que são os tradicionalistas. Esta esfera do conhecimento africano, que poderia ser qualificado como endógeno, desenvolveu-se em paralelo aos conhecimentos escritos desde tempos recuados, e preservou elementos essenciais das culturas que lhe deram substância por vezes com maior eficácia do que os saberes escritos antigos que acabaram parcialmente desaparecendo em virtude das pressões do tempo (Aguessy, s.d., p. 113-4). O pensamento não tradicional, por sua vez, diz respeito ao conjunto de saberes acumulados por um grupo particular de escritores, intelectuais, lideranças político-sociais, filósofos, literatos, artistas e cientistas sociais nascidos na África, para explicar as realidades específicas do continente.

Cabe também um esclarecimento prévio acerca da delimitação dos estudos aqui apresentados, que se referem exclusivamente a autores e questões provenientes ou envolvidos diretamente com o continente africano, caso do caribenho Frantz Fanon, que militou durante anos no movimento pela independência da Argélia, tornando-se o teórico por excelência da revolução africana.

Tomamos, portanto, o cuidado de distinguir, e separar, pensamento africano de pensamento diaspórico. Não porque sejamos partidários da ideia de uma “essência africana” ou de uma “autenticidade africana”. Ocorre que, embora a substância que anima aquelas correntes de ideias diga respeito, praticamente, aos mesmos sujeitos, isto é, aos povos negros africanos ou de matriz africana, os deslocamentos decorrentes dos fenômenos associados à Diáspora Negra promoveram reconfigurações espaciais, temporais e culturais, com consequências inovadoras no plano identitário (Zoungbo, 2012). (…)

O certo é que, para nós, americanos, latino-americanos, em busca de referências que nos capacitem a problematizar os pressupostos hegemônicos do pensamento ocidental, etnocêntrico, é fundamental recuperar, em conjunto, o aporte do pensamento africano e do pensamento afro-americano, afro-latino, afro-brasileiro. Se, no primeiro caso, a aproximação nos permite reavaliar nossa própria condição de subalternidade advinda de nossa “herança colonial”, no segundo caso trata-se da apropriação de um pensamento mantido praticamente em silêncio nas esferas acadêmicas (mas que nunca deixou de ter ressonância entre ativistas dos movimentos sociais e comunidades excluídas brasileiras), bem como da recuperação da obra de autores essenciais como Manuel Quirino (1851-1923), Edison Carneiro (1912-1972), Abdias do Nascimento (1914-2011) e Clóvis Moura (1925-2003), entre outros, algo que tem sido feito nos últimos anos pelos pesquisadores especializados em história e cultura afro-brasileira”. (José Rivair Macedo)

 

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