Venezuela e Colômbia: tensões e personalismos

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Uribe provoca porque teme perder influência em seu país. E Chávez?

A União de Nações Sul-Americana (Unasul) tem um teste importante pela frente. Nos próximos dias, seu presidente temporário (o chefe de Estado do Equador, Rafael Correa) e seu secretário-geral (o ex-presidente argentino Nestor Kirchner) tentarão jogar água fria nas tensões entre Caracas e Bogotá. A escalada que já provocou rompimento de relações diplomáticas entre os dois países, mobilização de tropas na fronteira e cancelamento da viagem de Hugo Chávez a Cuba, onde deveria participar hoje (26/7) das comemorações do assalto ao quartel Moncada, por Fidel Castro e companheiros, em 1953. Dois textos que Outras Palavras publicará em português, nos próximos dias, mostram que a crise não é alimentada por conflitos reais entre os países. Ao menos no caso colombiano, seu motor é a uma disputa interna pelo poder. O presidente Álvaro Uribe quer continuar governando após o fim de seu mandato. O ataque à Venezuela (e às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC) é apenas instrumento para mobilizar a opinião pública em seu favor.

Uribe deixa o posto em 7 de agosto, depois de dois mandatos.  Sua popularidade chega a 80%, segundo algumas pesquisas — mas não foi acompanhada pela construção de uma agenda positiva, e por isso o legado do presidente é frágil. Ao longo de oito anos, sua obsessão foi o combate militar às FARC — extremamente desgastadas pela ausência de um programa de mudanças, pelo uso indiscriminado de violência, por não dialogarem com os múltiplos movimentos da sociedade civil. Eletrizada pelo clima de guerra interna, a Colômbia permaneceu estagnada economicamente. Além disso, a luta contra as FARC nunca significou a pacificação o país. A ameaça princpial aos direitos humanos vem, há décadas, das milícias que se aliam aos grandes proprietários de terra para aterrorizar o interior e provocar o deslocamento forçado da população mais pobre. Estima-se que 3 milhões de colombianos — um em cada três habitantes do campo — tenham sido forçados a deixar suas terras, entre 1985 e 2005.

Juan Manuel Santos, o presidente eleito em julho, já deu sinais de que não quer manter a agenda monotemática de Uribe, nem governar governar à sua sombra. No plano interno, abriu diálogo com a oposição, logo após sua vitória. Na cena internacional, ameaça romper o alinhamento automático com os Estados Unidos e a tensão constante com Venezuela e Equador. Nomeou como chanceler Maria Ángela Holguín, que já foi embaixadora em Caracas e manifesta-se claramente em favor de um entendimento com os vizinhos.

Uribe teme que um clima de pacificação real esvazie o discurso de confronto permanente, no qual se apoia. Dedica seus últimos dias de presidência a um esforço para sabotar previamente os planos do sucessor. Procura gerar uma espiral de conflitos que torne a paz impossível. Há semanas, orientou o ministro da Defesa, Gabriel Silva Luján, a entregar pessoalmente, aos diretores dos maiores jornais do país, fotos e filmes que supostamente revelariam refúgios das FARC na Venezuela, próximo à fronteira entre os dois países.

Na semana passada, a provocação ganhou dimensões internacionais. O embaixador colombiano na Organização dos Estados Americanos (OEA) apresentou abruptamente as mesmas imagens numa sessão do organismo. Não dialogou com Caracas — providência óbvia, caso a intenção fosse resolver um problema real de fronteiras. Buscou o escândalo — talvez a única arma que reste a Uribe, nas duas semanas de mandato que lhe sobram.

Mas se o presidente da Colômbia age quase em desespero, por que o venezuelano Hugo Chávez aceita a provocação? Não seria mais conveniente deixar que as palavras de Uribe caiam no vazio? Parece haver duas respostas possíveis. Ou Bogotá está disposta a passar à ação militar, e Caracas age para dissuadi-la; ou também Chávez — que tem pela frente uma difícil eleição parlamentar, em setembro — vislumbra o conflito externo como uma forma de ganhar a opinião pública…

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2 comentários para "Venezuela e Colômbia: tensões e personalismos"

  1. Antonio Martins disse:

    Resposta: O texto é claramente crítico às FARC, que se perderam numa espiral militarista, perderam todo contato com a sociedade e são usadas por Uribe, como pretexto para a militarização do país. Porém, as FARC não são, de forma alguma, o principal fator de violência na Colômbia. Os grupos paramilitares, com os quais o setores dos partidos governistas mantém amplas relações, cumprem este triste papel. Talvez o grande erro da antiga guerrilha tenha sido acreditar que seria possível vencer a direita usando suas armas…

  2. LEVI disse:

    NO TEXTO O SR. ANTONIO MARTINS DEIXA A IMPRESSÃO QUE OS 3 MILHOES DE COLOMBIANOS QUE PRECISARAM ABANDONAR SUAS TERRAS POR CAUSA DO GOVERNO DO PRESIDENTE URIBE, QUANDO NA REALIDADE FORAM EXPULSAS PELOS NARCOTRAFICANTES DAS FARCS, QUE PRECISAVAM DE TERRAS PARA CULTIVAR MACONHA, COCAINA E OPIO, QUE IMPLANTARAM UM ESTADO DE TERROR DENTRO DA COLOMBIA. A PRINCIPAL CAUSA DE TUDO ISSO SÃO OS NARCOTRAFICANTES NÃO O GOVERNO LEGITIMAMENTE ELEITO PELO POVO COLOMBIANO. OU SERA QUE O SR. MARTINS NÃO LEMBRA DOS CARROS BOMBAS QUE A TODA HORA EXPLODIAM EM MEDELIM, EM CALI OU BOGOTA. SERA QUE SE ESQUECEU DOS SEQUESTROS, DAS CHACINAS DE CIVIS SOMENTE PARA ATERRORIZAR A POPULAÇÃO. ESSE SEU TEXTO E NO MINIMO PARCIAL. PARECE QUE A VENEZUELA, COM SEU DITATORSINHO DE PLANTÃO E O PARAISO NA TERRA.

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