Sair no braço — a "nova" tática da PM paulista

Sábado, na repressão ao protesto pacífico contra Copa, a “tropa Ninja” disse a que veio: provocar mais uma vez manifestantes, agora até com “voadoras”

Por Mauro Donato, no DCM

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Sábado, na repressão ao protesto pacífico contra Copa, a “tropa Ninja” disse a que veio: provocar mais uma vez manifestantes, agora até com “voadoras”

Por Mauro Donato, no DCM

Tropa do Braço, tropa Ninja, tropa das Artes Marciais. Toda a preocupação para que “problemas fossem detectados e debelados sem emprego de armas” havia sido amplamente anunciada nos últimos dias. Só faltou ser batizada de tropa Paz e Amor.

No entanto, esse espírito não se fez presente no ato de ontem, dia 22, contra a Copa. Foram os velhos cassetetes, as bombas, as tonfas, as balas de borracha que imperaram novamente.

A PM afirmou que levaria seus soldados jiu-jitsu, porém a reportagem do DCM não detectou nenhum grupamento desprovido de armamento, bem como 99% estavam sem identificação.

Em pouco mais de meia hora desde a saída do 2º protesto contra a Copa na Praça da República, centro de SP, a marcha ia pela rua Xavier de Toledo quando, aos gritos de “fecha!”, a polícia fechou, espancou, prendeu. Gratuitamente.

Eu apanhei. Estava na calçada da Xavier de Toledo, a caminho do Municipal, quando fui cercado.

Três PMs apareceram e começaram a me bater com o cassetete. Enquanto eu tentava escapar, apareceram mais quatro. Tomei na perna, nas costas, nos braços. Um deles deu uma voadora, mas errou o alvo. Outro chegou e me deu um chute na parte de trás da coxa, que só passaria a doer mesmo no dia seguinte. Quero crer que o alvo era a bunda.

Um soldado quis me prender. Só aliviou quando lhe mostrei a carteira de trabalho — algo que não teve resultado para cinco de meus colegas, que foram detidos. Preferi não fazer exame de corpo de delito.

Havia senhoras, muitas mulheres, e até idosos (poucos, mas havia), longe da linha de frente costumeiramente preenchida de black blocs. Livres para correr, a área ao redor virou praça de guerra novamente. Enquanto isso, manifestantes “pacíficos” e profissionais de imprensa eram espremidos.

O professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, doutor Pablo Ortelado, que na noite anterior havia participado conjuntamente a sociólogos e integrantes de movimentos sociais de debate sobre a violência na FESP-SP, viu o amigo e igualmente professor da USP Marcio Moretto Ribeiro ser preso. Durante a madrugada, ele já alertava: “Qualquer matéria sobre a manifestação de hoje em São Paulo que não mencione que: 1) a manifestação seguia pacífica e foi gratuitamente atacada pela polícia; 2) que os policiais estavam em número muito elevado e emboscaram a manifestação; 3) que os policiais, como de costume, estavam sem identificação; e 4) que as prisões de manifestantes foram completamente arbitrárias e abusivas, não é uma matéria jornalística. É apenas falsificação dos fatos e propaganda política. Muitos editores creem que estão sendo responsáveis ao relatar seletivamente os fatos de maneira a não incentivar novas manifestações.”

Após a morte do cinegrafista Santiago Andrade no Rio de Janeiro, o discurso de que a imprensa seria tratada com cuidado foi proferido até pelo ministro José Eduardo Cardoso. O que se viu foi novamente uma bárbara retaliação em cima de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Vários ficaram feridos e tiveram seus equipamentos danificados.

O estado buscou estratégias para esvaziar a manifestação, intimando inclusive cerca de 40 pessoas a comparecer ao DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais) no mesmo dia e hora, na tentativa semelhante à adotada contra o hooligans ingleses. Outra medida que chamou a atenção na noite de ontem, foi a presença de membros da OAB-SP junto às delegacias procurando cercear a ação de advogados que atuam na defesa dos manifestantes.

Foram 230 detidos, levados para quatro delegacias (Bom Retiro, Santa Ifigenia, Consolação e Jardins). Na manifestação anterior haviam sido 130 presos.

Um dos responsáveis pela operação, major Larry Saraiva, afirmou que pessoas que se “considerassem” agredidas pelos policiais, podem procurar a Corregedoria da PM, porém advertiu que terão que reconhecer o responsável pela agressão. A falta de identificação nas fardas tem sido recorrente nas manifestações.

No Twitter, o governador Geraldo Alckmin publicou: “A população de São Paulo entende a diferença entre manifestações legítimas e vandalismo organizado. Protegeremos o direito à livre-manifestação; combateremos a violência e o quebra-quebra”.

Então comece pela PM, governador.

A marca de uma cacetada no braço de Mauro

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Um comentario para "Sair no braço — a "nova" tática da PM paulista"

  1. Isabelle disse:

    Lamentável a ação da PM, como de costume.
    Não que esse mimimi infantil de não vai ter copa já não tenha dados nos nervos.

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