Por que os médicos cubanos assustam

Elite corporativista teme que foco na prevenção abale mercantilização da saúde. Números revelam injustiça orçamentária no ensino e prática da Medicina

Por Pedro Porfírio, no Cebes

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Elite corporativista teme que foco na prevenção abale mercantilização da saúde. Números revelam injustiça orçamentária no ensino e prática da Medicina

Por Pedro Porfírio, no Cebes

A virulenta reação do Conselho Federal de Medicina contra a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalhar em áreas absolutamente carentes do país é muito mais do que uma atitude corporativista: expõe o pavor que uma certa elite da classe médica tem diante dos êxitos inevitáveis do modelo adotado na ilha, que prioriza a prevenção e a educação para a saúde, reduzindo não apenas os índices de enfermidades, mas sobretudo a necessidade de atendimento e os custos com a saúde.

Essa não é a primeira investida radical do CFM e da Associação Médica Brasileira contra a prática vitoriosa dos médicos cubanos entre nós.

Em 2005, quando o governador de Tocantins não conseguia médicos para a maioria dos seus pequenos e afastados municípios, recorreu a um convênio com Cuba e viu o quadro de saúde mudar rapidamente com a presença de apenas uma centena de profissionais daquele país.

A reação das entidades médicas de Tocantins, comprometidas com a baixa qualidade da medicina pública que favorece o atendimento privado, foi quase de desespero.

Elas só descansaram quando obtiveram uma liminar de um juiz de primeira instância determinando em 2007 a imediata “expulsão” dos médicos cubanos.

No Brasil, o apego às grandes cidades

Dos 371.788 médicos brasileiros, 260.251 estão nas regiões Sul e Sudeste

Neste momento, o governo da presidenta Dilma Rousseff só  está cogitando de trazer os médicos cubanos, responsáveis pelos melhores índices de saúde do Continente, diante da impossibilidade de assegurar a presença de profissionais brasileiros em mais de um milhar de municípios, mesmo com a oferta de vencimentos bem superiores aos pagos nos grandes centros urbanos.

E isso não acontece por acaso. O próprio modelo de formação de profissionais de saúde, com quase 58% de escolas privadas, é voltado para um tipo de atendimento vinculado à indústria de equipamentos de alta tecnologia, aos laboratórios e às vantagens do regime híbrido, em que é possível conciliar plantões de 24 horas no sistema público com seus consultórios e clínicas particulares, alimentados pelos planos de saúde.

Mesmo com consultas e procedimentos pagos segundo a tabela da AMB, o volume de  clientes é programado para que possam atender no mínimo dez por turnos de cinco horas. O sistema é tão direcionado que na maioria das especialidades o segurado pode ter de esperar mais de dois meses por uma consulta.

Além disso, dependendo da especialidade e do caráter de cada médico, é possível auferir faturamentos paralelos em comissões pelo direcionamento dos exames pedidos como rotinas em cada consulta.

Sem compromisso em retribuir os cursos públicos

Há no Brasil uma grande “injustiça orçamentária”: a formação de médicos nas faculdades públicas, que custa muito dinheiro a todos os brasileiros, não presume nenhuma retribuição social, pelo menos enquanto  não se aprova o projeto do senador Cristóvam Buarque, que obriga os médicos recém-formados que tiveram seus cursos custeados com recursos públicos a exercerem a profissão, por dois anos, em municípios com menos de 30 mil habitantes ou em comunidades carentes de regiões metropolitanas.

Cruzando informações, podemos chegar a um custo de R$ 792.000,00 reais para o curso de um aluno de faculdades públicas de Medicina, sem incluir a residência. E se considerarmos o perfil de quem consegue passar em vestibulares que chegam a ter 185 candidatos por vaga (UNESP), vamos nos deparar com estudantes de classe média alta, isso onde não há cotas sociais.

Um levantamento do Ministério da Educação detectou que na medicina os estudantes que vieram de escolas particulares respondem por 88% das matrículas nas universidades bancadas pelo Estado. Na odontologia, eles são 80%.

Em faculdades públicas ou privadas, os quase 13 mil médicos formados anualmente no Brasil não estão nem preparados, nem motivados para atender às populações dos grotões. E não estão por que não se habituaram à rotina da medicina preventiva e não aprenderam como atender sem as parafernálias tecnológicas de que se tornaram dependentes.

Concentrados no Sudeste, Sul e grandes cidades

Números oficiais do próprio CFM indicam que 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul do país. E em geral trabalham nas grandes cidades.  Boa parte da clientela dos hospitais municipais do Rio de Janeiro, por exemplo, é formada por pacientes de municípios do interior.

Segundo pesquisa encomendada pelo Conselho,  se a média nacional é de 1,95 médicos para cada mil habitantes, no Distrito Federal esse número chega a 4,02 médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio de Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.

A pesquisa “Demografia Médica no Brasil” revela que há uma forte tendência de o médico fixar moradia na cidade onde fez graduação ou residência. As que abrigam escolas médicas também concentram maior número de serviços de saúde, públicos ou privados, o que significa mais oportunidade de trabalho. Isso explica, em parte, a concentração de médicos em capitais com mais faculdades de medicina. A cidade de São Paulo, por exemplo, contava, em 2011, com oito escolas médicas, 876 vagas – uma vaga para cada 12.836 habitantes – e uma taxa de 4,33 médicos por mil habitantes na capital.

Mesmo nas áreas de concentração de profissionais, no setor público, o paciente dispõe de quatro vezes menos médicos que no privado. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o número de usuários de planos de saúde hoje no Brasil é de 46.634.678 e o de postos de trabalho em estabelecimentos privados e consultórios particulares, 354.536.Já o número de habitantes que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 144.098.016 pessoas, e o de postos ocupados por médicos nos estabelecimentos públicos, 281.481.

A falta de atendimento de saúde nos grotões é uma dos fatores de migração. Muitos camponeses preferem ir morar em condições mais precárias nas cidades, pois sabem que, bem ou mal, poderão recorrer a um atendimento em casos de emergência.

A solução dos médicos cubanos é mais transcendental pelas características do seu atendimento, que mudam o seu foco no sentido de evitar o aparecimento da doença.  Na Venezuela, os Centros de Diagnósticos Integrais espalhados nas periferias e grotões, que contam com 20 mil médicos cubanos, são responsáveis por uma melhoria radical  nos seus índices de saúde.

Cuba é reconhecida por seus êxitos na medicina e na biotecnologia

Em  sua nota ameaçadora, o CFM afirma claramente que confiar populações periféricas aos cuidados de médicos cubanos é submetê-las a profissionais não qualificados. E esbanja hipocrisia na defesa dos direitos daquelas pessoas.

Não é isso que consta dos números da Organização Mundial de Saúde.  Cuba, país submetido a um asfixiante bloqueio econômico, mostra que nesse quesito é um exemplo para o mundo e tem resultados melhores do que os do Brasil.

Graças à sua medicina preventiva, a ilha do Caribe tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) – inferior à do Canadá e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a expectativa de vida dos cubanos – 78,8 anos (contra 60 anos em 1959) – é comparável a das nações mais desenvolvidas.

Com um médico para cada 148 habitantes (78.622 no total) distribuídos por todos os seus rincões que registram 100% de cobertura, Cuba é, segundo a Organização Mundial de Saúde, a nação melhor dotada do mundo neste setor.

Segundo a New England Journal of Medicine, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.

O Brasil forma 13 mil médicos por ano em  200 faculdades: 116 privadas, 48 federais, 29 estaduais e 7 municipais. De 2000 a 2013, foram criadas 94 escolas médicas: 26 públicas e 68 particulares.

Formando médicos de 69 países

Em 2012, Cuba, com cerca de 13 milhões de habitantes, formou em suas 25 faculdades, inclusive uma voltada para estrangeiros, mais de 11 mil novos médicos: 5.315 cubanos e 5.694 de 69 países da América Latina, África, Ásia e inclusive dos Estados Unidos.

Atualmente, 24 mil estudantes de 116 países da América Latina, África, Ásia, Oceania e Estados Unidos (500 por turma) cursam uma faculdade de medicina gratuita em Cuba.

Entre a primeira turma de 2005 e 2010, 8.594 jovens doutores saíram da Escola Latino-Americana de Medicina. As formaturas de 2011 e 2012 foram excepcionais com cerca de oito mil graduados. No total, cerca de 15 mil médicos se formaram na Elam em 25 especialidades distintas.

Isso se reflete nos avanços em vários tipos de tratamento, inclusive em altos desafios, como vacinas para câncer do pulmão, hepatite B, cura do mal de Parkinson e da dengue.  Hoje, a indústria biotecnológica cubana tem registradas 1.200 patentes e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países.

Presença de médicos cubanos no exterior

Desde 1963,  com o envio da primeira missão médica humanitária à Argélia, Cuba trabalha no atendimento de populações pobres no planeta. Nenhuma outra nação do mundo, nem mesmo as mais desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária internacional. Desde o seu lançamento, cerca de 132 mil médicos e outros profissionais da saúde trabalharam voluntariamente em 102 países.

No total, os médicos cubanos trataram de 85 milhões de pessoas e salvaram 615 mil vidas. Atualmente, 31 mil colaboradores médicos oferecem seus serviços em 69 nações do Terceiro Mundo.

No âmbito da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha humanitária continental com o nome de Operação Milagre, que consiste em operar gratuitamente latino-americanos pobres, vítimas de cataratas e outras doenças oftalmológicas, que não tenham possibilidade de pagar por uma operação que custa entre cinco e dez mil dólares. Esta missão humanitária se disseminou por outras regiões (África e Ásia). A Operação Milagre dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Central e do Caribe. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas de 35 países recuperaram a plena visão.

Quando se insurge contra a vinda de médicos cubanos, com argumentos pueris, o CFM adota também uma atitude política suspeita: não quer que se desmascare a propaganda contra o  regime de Havana,  segundo a qual o sonho de todo cubano é fugir para o exterior. Os mais de 30 mil médicos espalhados pelo mundo permanecem fiéis aos compromissos sociais de quem teve todo o ensino pago pelo Estado, desde a pré-escola e de que, mais do que enriquecer, cumpre ao médico salvar vidas e prestar serviços humanitários.

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20 comentários para "Por que os médicos cubanos assustam"

  1. Moura lira disse:

    Em todas as profissões existem os péssimos profissionais, mas a classe médica é recordista de péssimos profissionais…porquê esse fato acontece?

  2. Paula disse:

    Sou advogada, sobre a OAB: criou-se um mercado voltado aos cursos preparatórios para a OAB. Como tem acontecido para concursos de residência médica. A realidade? Apenas os que tem poder aquisitivo podem fazê-lo. Sou estudante de Psicologia e meus pais atuam na saúde básica do município, como médico e dentista. Acho extremamente importante que todos os cidadãos conheçam a realidade do país, no entanto, quem realmente conhece a realidade da saúde pública do brasil são os profissionais que atuam diretamente na área da saúde… Não cheguei sequer a me questionar sobre a capacidade profissional dos médicos cubanos… Me questiono muito sobre qual a intenção política da medida…

  3. paiva disse:

    Eu também desejo que todos os médicos formados o Brasil, por faculdades “meia boca” façam o REVALIDA. E que a medicina mercantilista seja substituída por uma medicina humanista e de prevenção !

  4. lira disse:

    Só quem concorda com os médicos brasileiros são eles mesmos! Se puserem eles mesmos para fazer o revalida em que daria? Peçam apoio dos enfermeiros e de outros profissionais dos hospitais só para ver que opinião que se tem destes “deusinhos”? Se eu fosse um médico (de responsabilidade) estaria morrendo de vergonha da minha categoria! Não há dúvidas que existem outras categorias (essencialmente) prepotentes! Também não restam dúvidas que em tudo há exceções! Mas entre os médicos isto é uma raridade!

  5. Silvio disse:

    Esclarecedor, Agora entendi porque os mauricinhos e as patricinhas daqui estão tão revoltadinhos. Que venha os cubanos.

  6. Ricardo Moura / Recife-PE disse:

    Vejo comentários acima exigindo que os médicos cubanos ou de qualquer outra nacionalidade sejam fluentes em nosso idioma, o português. Penso então que isso deveria ser cobrado também dos “nativos”, haja vista que é muito frequente um paciente entrar num consultório e nem sequer ouvir o médico, isso porque o mesmo nem ao menos olha pro paciente. Difícil mesmo é entender o idioma escrito pelo profissional de saúde. Há muito se reclama da péssima grafia do médico.

  7. paulo disse:

    Pelos comentários dá pra ver que os médicos estão muito empenhados em manter seu reinado por mais algum tempo, sinto informar aos graduandos de medicina que esse reinado esta no fim, ufa!!!!

  8. Jorge Alves disse:

    Luna: em seu comentário englobou vários assuntos que deveriam ser separados, no meu modo de ver.
    Com relação ao projeto do governo de instituir dois anos de serviço dentro do SUS para todos os formandos de medicina, parece-me errado: quem se forma em faculdades particulares não deve nada ao estado.
    Já os que se formam em faculdades publicas acredito que devem sim uma prestação de serviços, e, concordo consigo, tambem todos os demais que ser formam em qualquer que seja a carreira.
    Todos deveriam, como contra-partida ao que receberam em termos de estudo, ter a obrigação de retribuir à sociedade com serviços (remunerados em nível de primeiro emprego, devidamente registrado).
    Já o “revalida” como disse anteriormente, considero essencial ser feito sem o que não vejo como os médicos “importados”, mesmo com um “cursinho” de 15 dias e a supervisão posterior de suas atividades possam exercer a profissão no país.
    Apenas acrescento que todos os médicos, na minha opinião, deveriam ter de passar por um exame realizado pelo CRM – a exemplo do que é feito pela OAB para os bachareis de direito – para poderem ser considerados médicos: hoje uma boa parte só tem o diploma!
    Já com relação ao SUS em si, os médicos deveriam exigir que houvesse uma carreira especifica, em tempo integral, com salário e condições de trabalho adequadas para que aceitassem trabalhar nele.
    Caso contrário não deveriam compactuar com o sistema.
    Infelizmente isso não ocorre e o contrato em tempo parcial acaba sendo apenas um complemento da renda (e de aposentadoria) que têm no exercicio da medicina em seus consultórios, não havendo maior comprometimento com os pacientes do SUS que sabem não ter como atender adequadamente.
    A unica forma do paciente do SUS ser atendido com mais eficácia, quando existem localmente tais condições, é em caso de emergência, uma vez que nos casos em que os problemas ainda não apresentam risco de vida aos pacientes, os médicos não têm como obter os exames necessários em quantidade e com rapidez, e, quando os exames chegam – com o problema já agravado embora não com risco imediato de vida – não têm como fazer as intervenções cirurgicas “eletivas” (não há cotas e quando as há os médicos não se interessam em realizar cirurgias para ganhar menos do que custa uma refeição de final de semana!).
    Isso quando os médicos não induzem tais pacientes a procura-los em seus consultórios/ clinicas particulares onde os preços que cobram são muitas e muitas vezes superiores aos que receberiam do SUS!
    Com relação à exploração dos residentes em hospitais publicos/ conveniados com o SUS… lamentável! E mais ainda os residentes aceitarem qualquer coisa para se “especializarem”. Se é que esse trabalho, muitas vezes sem qualquer supervisão, realmente forma alguem adequadamente!
    Finalmente gostaria de salientar que antes da constatação “midiática” – pois no dia-a-dia já era fato notório há muitos anos apesar do Lula ter considerado que a saude publica era de primeiro mundo – dos problemas da saude, há muito se reclama dos apadrinhamentos a grupos economicos por parte do governo e com relação à corrupção existente, como atesta o julgamento do “mensalão”, e se verificar os jornais e a internet vai atestar que tais protestos continuam sendo realizados firmemente, inclusive com relação à politica do BNDES.
    Infelizmente até à “ida p’ras ruas” a repercussão era outra… pelo que espero que as ruas continuem recebendo os protestos até que se mude o que está errado.

  9. Luna disse:

    Por que só os médicos têm que cumprir 2 anos no serviço público, se uma infinidade de profissionais são formados em universidades públicas, consumindo dinheiro público e nenhum deles presta serviço à comunidade? Já que estão falando tanto de “justiça” os parâmetros para análise também devem obedecer a esse quesito. Não concordo que a classe médica seja uma “elite” terrível e manipuladora, somos trabalhadores como quaisquer outros e apenas pedimos o respeito a nossos direitos. Leia-se direitos, não favores. Quem abre a boca pra falar que o SUS é a oitava maravilha do mundo e que a carência de profissionais em regiões afastadas é culpa única e exclusivamente da classe médica poderia entrar no primeiro PS da rede para ver com os próprios olhos a situação de trabalho, no interior é pior ainda. Ganhar 20 mil reais e fingir que faz medicina se chama charlatanismo e, felizmente, é um papel que a maioria de nossos profissionais não está disposta a cumprir. Não há essa resistência quase xenofóbica contra os profissionais de Cuba, o que pedimos é a revalidação do diploma, o que nos seria exigido em qualquer lugar fora do Brasil onde fossemos exercer a medicina. É algo lógico, nada comparado a essa fúria irracional pregada pela mídia e sustentada por quem nunca pisou em um hospital público. Sendo que muitas dessas instituições contam com residentes e internos (que não ganham um centavo pelo trabalho prestado) para manter de funcionando o atendimento à população. Ninguém protesta quando o Eike Batista ganha a concessão pra explorar estádios construídos com dinheiro público, quando as empreiteiras que financiaram a campanha da Dilma ganham obras faraônicas de presente, mas quando os médicos exigem os seus direitos são tachados de “elite”, “corporativistas”, “playboys”. Os cubanos, marcianos, venusianos serão bem vindos, desde que revalidem o diploma não se trata de temor como diz o título do texto, é apenas justiça.

  10. AC Ferreira disse:

    Para enriquecer o debate, sugiro que aqueles que discordam escrevam seus artigos e publiquem. Mas, cuidado com os erros de português, alguns dos comentários publicados estão com erros grosseiros (“nenhum pouco”).

  11. saulo de tarso corrêa cardoso disse:

    Ei, meu caro. Você está usando argumentos falaciosos. A saúde não depende de atenção médica. Para se ter um parãmetro de sua demagogia, 90% dos apectos de saúde dependem de vida com baixo estresse, moradias adequadas, salários condizentes, alimentação saudável, trabalho e muito conhecimento. A distribuição geográficas de médicos depende de estrutura de serviços e condições de vida. Atribuir à uma categoria profissional as mazelas da história é pura demagogia. Meu nome é saulo cardoso e sou médico sanitarista com 35 anos de experiência. Se quiser debater comigo meu e-mail é:[email protected]. saudações.

  12. Jorge Alves disse:

    “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”… Concordo, e defendo isso há algum tempo, que todos os formados em medicina deveriam passar por um exame de aptidãono final de curso – que poderia ser aplicado pelo CRM nos moldes do da OAB – para poderem exercer a profissão e serem chamados de médicos, mas o fato de tal exame não existir não elimina a necessidade da revalidação do diploma de formados no exterior. Uma coisa é termos médicos que são avaliados em nossas faculdades de medicina com relação ao conteudo do curso e mesmo aprovados são incompetentes, outra coisa é aceitarmos que venham formados de outros países e que os mesmos possam trabalhar aqui sem sabermos se entendem sequer a lingua e o que de facto estudaram…

  13. amigo por que nao responde ao comentarios anteriores?
    escrita prolixa… conteudo zero! ficou parecendo tao polarizado – o bem contra o mal…centenas de medicos que moram nos estados unidos sao cubanos, deserdaram e pelo mundo fora… todos sabem que o envio de medicos de cuba nao e pelo fator humanista, mas por troca de ajuda financeira e insumos, cubanos vao para paises africanos, la eles nao deserdam por que a situacao e pior que no pais de origem, em portugual eram muito vigiados, mas na venezuela alguns ficaram… os medicos de cuba recebem salario minimo em seu pais, nem chegariam a ser classe media no brasil…

  14. Janaina disse:

    Médico estrangeiro, só com REVALIDA! Se pra ser cabeleireiro nos EUA é preciso fazer um curso de 6 meses sem direito a remuneração e ainda fazer provas, por que não deve ser assim para quem cuida de vidas? REVALIDA já! Se passar, será muito bem vindo.
    Quanto a cobrar que médicos formados em instituições públicas trabalhem obrigatoriamente 2 anos no serviço público após a graduação, que se estenda também aos demais recém formados de outros cursos oferecidos por universidades públicas, pois os mesmos também usam o dinheiro público para estudar.

  15. Alfredo Spínola de Mello Neto disse:

    Eu aceito o argumento da Luizianne se o Revalida for aplicado indistintamente a todos os médicos recém-formados no País. Em São Paulo, onde o CRM batalha há anos pela implantação de exame que habilite o bacharel em medicina a exercer o ofício, como faz a OAB, o resultado que se vê do exame a que são submetidos voluntariamente os recém-formados é estarrecedor: metade não sabe identificar simples sinais de trauma, e a reprovação atinge 60%!

  16. Jorge Alves disse:

    Sem discordar dos pontos levantados, penso que é simplista atribuir apenas à “priorização da prevenção e a educação para a saúde” os protestos contra a “importação” de médicos, que, pelo que o governo divulgou, não se restringe aos de Cuba.
    Dois pontos na verdade devem ser considerados:
    (1) o fato de, hoje, qualquer médico formado no exterior poder exercer a profissão no Brasil desde que seu diploma seja revalidado internamente, sem o quê haverá uma distorção no padrão exigido para tal face às exigências para formação dos médicos em nossas faculdades de medicina; e,
    (2) o atendimento médico no Brasil, hoje, tem problemas que transcendem a quantidade de profissionais por habitante, e não serão resolvidos pelo aumento desse indice, o que como o próprio artigo mostra, é fácilmente constatável em regiões que têm indice de profissionais por habitante no padrão dos países desenvolvidos, como SP, onde as filas virtuais para cirurgias eletivas e a falta de médicos de “especialidades” alem de pontos de atendimento (incluindo hospitais financeiramente “quebrados”) são publicas e notórias.
    O que se vê hoje, na verdade, é um sistema de saude mercantilista que, de facto, não atende às necessidades da população e que começa errado pela formação dos profissionais da area, que não privilegia a prevenção, mas se extende à falta de investimentos (fisicos – instalações e aparelhos – e de custeio – quantidade e remuneração de médicos/ enfermeiros/ etc.) numa rede de atendimento publica adequada, sendo que a transferência desse atendimento que é constitucionalmente obrigação do estado, para a iniciativa privada, inclusive pelo incentivo aos “convênios médicos” só serve para tentar mascarar os problemas.
    Para variar o governo tenta “resolver” os problemas estruturais com medidas paliativas e midiáticas que apenas iludem a população, deixando as verdadeiras causas desses problemas sem resposta adequada. Nada contra a “importação” de médicos, mas sim com o fato disso não resolver os verdadeiros problemas do sistema de saude publica.

  17. Luizianne disse:

    Meu caro, não há nada de pueril na atitude política do CFM. O argumento é muito claro e muito lógico: pode vir o médico que quiser e de onde for, desde que faça o REVALIDA. Acho que antes de escrever um texto como este, você deveria se preocupar em analisar como é feita a seleção dos estudantes que vão fazer Medicina em Cuba e se o currículo deles é compatível com o nosso. Procure pesquisar isso e analisar a situação sobre vários ângulos antes de emitir uma opinião tão imparcial.
    O governo pretende pagar R$12.000,00 a Cuba por cada médico cubano. Veja os editais de concurso para médico e verifique se algum deles promete um salário como esse. Em 2006 houve concurso no Ceará e o salário base era cerca de R$600,00, muito próximo do salário do gari. É justo isso? Você faria esse concurso?
    Quanto ao fato da maioria dos estudantes de Medicina vir de escolas de ensino médio particulares, você está coberto de razão. Eu também estudei em escola particular e não me sinto nenhum pouco culpada por isso. Meus pais sempre pagaram impostos pesados e tiveram que pagar pela minha educação no ensino médio e fundamental, minha saúde através de plano de saúde, meu transporte porque o transporte publico é extremamente deficitário e inseguro, minha alimentação na faculdade porque não tinha restaurante universitário e por vigias para garantirem a segurança da nossa família, já que a casa em que morávamos já havia sido assaltada três vezes e nenhum dos bandidos era preso. Logo, depois de tantos anos pagando imposto, é natural que um de seus filhos tenha o curso pago pelo governo, já que o governo não consegue suprir nenhuma das outras necessidades básicas supra citadas.
    Além disso, te faço um desafio: tire todos os estudantes e médicos residentes de um hospital universitário e veja se o serviço consegue andar com as próprias pernas, atendendo o mesmo número de pacientes. Te garanto que não.Então os estudantes de Medicina e .de todas as outras áreas da saúde, bem como os médico residentes já prestam sim um serviço inestimável à comunidade. De certa forma, eles pagam dia a dia cada centavo que é investido em sua educação. E os outros cursos de graduação? Quantos tem projetos realmente voltados para comunidade?
    Você sabia que no Hospital Universitário Walter Cantídio boa parte dos médicos que atendiam nos ambulatórios eram voluntários? Quantos profissionais de outras áreas se voluntariam? Te garanto que ninguém os obrigou a se voluntariar, mas mesmo assim levam o nome de mercenários.
    A definição de mercenário segundo o dicionário Michaellis é: 1 Que, ou o que serve ou trabalha por um preço ou salário ajustado. 2 Que, ou o que trabalha não por zelo, mas por interesse de fazer jus à paga; interesseiro.
    Se for para escolher a primeira definição todos somos mercenários, médicos ou não. Todos queremos um salário justo. Se for para escolher a segunda definição, para a maioria dos médicos, ela não cabe. É injusta. Ou você acha que é fácil abrir mão de um dia atendendo pacientes particulares para ir para as ruas, brigar para que a população de baixa renda não seja atendida por médicos sem revalidação? Te garanto que essa população que seria atendida pelos médicos estrangeiros não faz parte da minha clientela principal. É uma questão de zelo pelas pessoas,mesmo que desconhecidas, é uma ideologia. Você conhece esses termos?
    E aí você me pergunta: Mas se há tanto zelo pelos pacientes por que não há médicos no interior? Eu te respondo que é da natureza humana se auto proteger, veja o porquê:
    1) Há poucos concursos e quando eles existem os salários não compensam os riscos da estrada, os riscos de atender sem estrutura, os riscos de atender sem segurança, a baixa qualidade de vida, a falta de atualização acadêmica.
    2) Quando não há concursos, os contratos de trabalho são de prestação de serviço. Isso significa que a grande parte dos médicos no interior do Ceará não tem carteira assinada como qualquer outro trabalhador tem.
    3) Quando me formei, trabalhei três meses no interior, em uma cidade litorânea com um desenvolvimento superior às demais. Mesmo assim tinha que atender a população numa igreja. Não havia maca. Éramos obrigados a atender cerca de 40 fichas numa manhã. Te garanto que exame físico era impossível porque não tinha onde e raciocinar, pouco provável, com essa quantidade de atendimento.
    4) Mas Graças a Deus eu recebia meu salário ( muitos amigos levaram calote), ou pelo menos parte: meu INSS era descontado mas não era repassado. Resumo da ópera: Se eu tivesse um acidente grave na estrada indo trabalhar, ia ficar tudo por minha conta até que eu arranjasse dinheiro de não sei onde para provar que existia vínculo sim e que aquilo tinha sido um acidente de trabalho de trajeto.Sem falar no tempo de contiribução para aposentadoria. Fiscalização zero!!!
    5) Tenho 31 anos e perdi 5 amigos jovens médicos na estrada desde que entrei na faculdade. Não é algo tão incomum assim. Alguns deles eram casados, alguns com esposas que não trabalhavam e tinham filhos. As famílias ficaram totalmente desamparadas por conta dessa falta de reconhecimento de vínculo empregatício. Você gostaria de estar nessa situação?
    6) Fizemos no mínimo seis anos de faculdade para atender pessoas, não foi para fingir que atendemos. E é exatamente isso que acontece quando não há estrutura que embase nosso diagnóstico e nossa terapêutica.
    Então como dito no início, isso se resume à auto proteção e zelo pela vida dos outros. Não falamos atrás de uma mesa do congresso, ou atrás de um computador, sem noção da realidade nua e crua. Falamos do que infelizmente vivenciamos.Queremos estrutura para atender, diagnosticar, prescrever, curar o que for possível e aliviar o que não for. Queremos carreira de médicos de estado.
    Agora nessa onda de acontecimentos , fica um questionamento: Nunca vi médicos ridicularizarem ou menosprezarem a tentativa de outras classes profissionais. Por que tantas pessoas se empenham em denegrir a imagem de um movimento médico legítimo? O que nos torna mais felizes é tentar crescer e alcançar alguém que está um pouco melhor financeiramente, colocando-se no mesmo patamar ou ver essa pessoa cair? Se as outras áreas profissionais tem revindicações juntem-se a nós. Pode ser que um dia não existam mais planos de saúde como no passado e todos. sem exceção, necessitemos de uma saúde pública de qualidade.

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