Ocupações: chegou a vez das universidades?

Em São Paulo, onda secundarista chega ao ensino superior. Unicamp, USP e Unesp têm prédios tomados por alunos — que protestam contra golpe e exigem cotas raciais

Por Débora Lopes, na Vice

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Em São Paulo, onda secundarista chega ao ensino superior. Unicamp, USP e Unesp têm prédios tomados por alunos — que protestam contra golpe e exigem cotas raciais

Por Débora Lopes, na Vice

A treta da educação subiu um degrau no quesito dor de cabeça para o governador do estado de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). Três das quatro universidades mantidas pelo governo estadual possuem prédios e unidades ocupadas por estudantes: Unicamp, USP e agora Unesp. As reivindicações exigem a contratação de novos professores, a implementação de cotas raciais e contestam os cortes de repasse de verba.

A PRIMEIRA: UNICAMP

O estopim para os alunos da Unicamp – a primeira a ser ocupada, no dia 10 de maio – foram as medidas de contenção de despesas anunciadas pelo reitor José Tadeu Jorge no final de abril, que irá cortar R$ 40 milhões do orçamento da universidade. “Este corte é uma medida preparatória para um projeto maior de precarização, privatização e desmonte da universidade pública”, publicaram os universitários no Facebook. Eles também atacam Alckmin, “que rouba merenda e manda sua polícia bater em estudantes que lutam, enquanto destrói a educação de todo o estado”. As provocações direcionadas ao governador e ao reitor não param: “Se Tadeu e Alckmin vêm quentes com seus ataques, nós gritamos que a nossa luta só começou e já estamos fervendo.”

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Universitários durante a paralisação na Unicamp. Foto: Reprodução/ Facebook/ Fanpage Ocupa Tudo Unicamp 2016

Um mapa interativo mostra ao vivo os locais ocupados no campus.

A questão da falta de cotas raciais na universidade de Campinas e na USP é um ponto crucial debatido pelos universitários. Em comunicado, a Frente Pró-Cotas da Unicamp contestou: “No estado de São Paulo, a USP e a Unicamp são as únicas instituições que não utilizam essa forma de ingresso. A questão é: por quê?”, publicaram na internet.

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Protesto de alunos da USP. Foto: Reprodução/ Facebook/ Fanpage Ocupa Letras USP

USP: FUNCIONÁRIOS E ALUNOS EM GREVE

Na USP, o buraco é ainda mais embaixo. Além dos estudantes, que ocuparam a universidade no dia 11 de maio, os funcionários também declararam paralisação um dia depois. Para eles, há um desmonte na rotina administrativa do local, que prevê “corte de bolsas, fechamento das creches, terceirização dos restaurantes, desvinculação do Hospital Universitário, demissões de funcionários e flexibilização do RDIDP (Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa)”, de acordo com o Jornal do Campus.

Para Flávia Toledo, 23, estudante de Letras e integrante do Centro Acadêmico, a inspiração veio dos secundaristas, que têm sacolejado bravamente as estruturas da secretaria da Educação do Estado ocupando escolas, pedindo melhorias no ensino e na infraestrutura das unidades e contestando a máfia da merenda. “Percebemos que foi uma luta vitoriosa e que está gerando muita movimentação”, relata a universitária, que reclama da defasagem no quadro de professores. “A área de língua inglesa tem oito professores. Seis se aposentam no final do ano e uma entra em licença maternidade.”

A USP considera a ocupação do prédio de Letras um ato “arbitrário e unilateral”. Em comunicado oficial, a assessoria de imprensa informou que “nas reuniões realizadas esta semana nos cinco Departamentos que compõem o Curso de Letras, a absoluta maioria dos docentes, após amplo debate, resolveu condenar o modo como a ‘ocupação’ foi decretada e está sendo mantida”.

Atualmente, além da unidade de Letras, os prédios de História e Geografia e o prédio central da Escola de Comunicações e Artes (ECA) permanecem ocupados.

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Estudantes na ocupação da Unesp. Foto: Luana Louize

UNESP: A MAIS RECENTE

Selando o último ponto do Triângulo da Morte na face da educação universitária estadual de São Paulo, a Unesp também aderiu às ocupações. O campus da Faculdade de Ciências e Letras, na cidade de Assis, interior de São Paulo, foi tomado pelos universitários em 20 de maio. Eles se posicionam “contra o golpe, contra a precarização do ensino” e “contra o corte do repasse de verbas para as estaduais paulistas”. Outra reinvindicação é a inclusão de um artigo especial no estatuto da Unesp que trate especificamente de violência sexual e de gênero.

A Unesp afirma que está “aberta ao diálogo” e que “vem recebendo as pautas de reivindicação quando apresentadas e as conduz em suas instâncias administrativas na unidade e na Reitoria”.

No último domingo (22), representantes das três universidades, Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp) e alunos secundaristas se juntaram na Unicamp para unificarem suas forças.

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