Hackear as cidades, para transformá-las

Aproveitando brecha aberta por Lei de Acesso à Informação, multiplicam-se maratonas (“hackatons”) para vasculhar orçamento público, identificar irregularidades e propor alternativas

Por Marcelo Godoy, no Diário do Centro do Mundo

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Aproveitando brecha aberta por Lei de Acesso à Informação, multiplicam-se maratonas (“hackatons”) para vasculhar orçamento público, identificar irregularidades e propor alternativas

Por Marcelo Godoy, no Diário do Centro do Mundo

Um avanço formidável dos grupos de cultura colaborativa com o poder público é a realização dos hackathons, uma combinação das palavras inglesas “hack” (programar excepcional) e “marathon” (maratona). Nestes encontros, que duram em média 24 horas, hackers, programadores, desenvolvedores, designers, gerentes de projetos e inventores em geral se reúnem para transformar uma ideia em realidade, na velocidade da Internet.

A busca é por soluções na área pública para áreas como educação, transporte, saúde, um exemplo promissor de como a participação da sociedade civil será parte da gestão pública em um futuro bem próximo.

A matéria prima destes encontros são os dados públicos governamentais abertos, que começaram a ficar disponíveis com a Lei Complementar 131 do Governo Lula, que determinou a abertura dos dados dos gastos públicos e foi um importante passo em direção à consolidação da transparência no Brasil.

Em 2011, o governo Dilma regulamentou com a “Lei 12527 – Lei de Acesso a Informação” um direito previsto na Constituição Federal que determina que as principais informações dos órgãos públicos devem ser postas automaticamente na Internet, que o acesso a informação pública pertence ao cidadão, sendo o governo apenas um administrador destes dados.

A transparência nos dados públicos, a participação popular nos fóruns presenciais ou virtuais e nas redes sociais são chaves essenciais para acompanhar de perto os gestores. Este amadurecimento da cidadania participativa é um aprendizado do “espírito hacker” e das redes livres, que defendem a informação aberta e compartilhada e a busca de soluções criativas e inovadoras para uma sociedade mais cooperativa, transparente e democrática.

O “hacker do bem” além de contribuir para que a informação, cultura e o conhecimento circulem livremente, também podem combater as ações criminosas dos “hackers do mal” ou  “crackers”, que roubam senhas e criam mecanismos que causam prejuízos financeiros a pessoas físicas e jurídicas.

Nesta gestão da prefeitura de São Paulo, instalou-se pela primeira vez na controladoria-geral, uma equipe de programadores para mergulhar com total independência em busca de buracos e vazamentos no casco e nas cracas da administração pública. De cara, iluminou-se a ponta do iceberg de uma quadrilha do ISS instalada na Prefeitura, que em um conluio nefasto com as construtoras da cidade, extraia anualmente milhões de reais da arrecadação paulista, um furo que lentamente esvaziava a força da cidade,  prejudicando milhões de pessoas e enchendo de água os motores do orçamento.

Estão previstos vários hackathons neste ano e vale a pena entender o conceito para replicar o formato em todas as capitais do Brasil.

A primeira capital que precisa urgentemente de um hackathon, por motivos óbvios, é São Luis do Maranhão. Difícil vai ser contar com o apoio de algum órgão público estadual ou municipal disposto a bancar o projeto e a encrenca de mexer em um vespeiro como este. Por estas e tantas outras, o Governo Federal, inspirado no programa “Mais Médicos”  deveria criar o programa “ Mais Hackers”, um amplo pacto para aumentar a transparência pública, levando mais programadores e cientistas da computação para as chagas e os buracos negros da administração pública, especialmente onde há escassez de profissionais, liberdade, autonomia e falta de infra estrutura de acesso.

Com a convocação de mais hackers para atuar em municípios com maior vulnerabilidade social, o Governo Federal poderia investigar suspeitas de existirem fortunas que estão em paraísos fiscais, como recentemente foi apontado pelo Wikileaks e evitar que este tipo de crime e quadrilhas se perpetuem por gerações e gestões.

A iniciativa deveria expandir a infra estrutura para Wi-Fi livre e ampliar número de vagas para cientista da computação, além de incentivar o aprimoramento da formação técnica em ciência da computação no Brasil, inclusive entre jovens e adolescentes. Um bom exemplo da importância de se aprender ciência da computação desde cedo, é o programa Code.org lançado recentemente nos Estados Unidos.

“Todo mundo neste país deveria saber como programar um computador. Porque isso nos ensina como pensar”. Esta frase de Steve Jobs abre o vídeo da campanha What Most Schools Don’t Teach (veja abaixo). O objetivo da iniciativa é despertar no povo dos Estados Unidos o interesse na computação e desenvolvimento de software, algo tão ou mais importante do que aprender um outro idioma. Os americanos podem ser acusados de muitas coisas, mas sabem combater a corrupção, pelo menos no seu país.

Voltando para São Paulo, com a criação das praças com Wi-Fi, o apoio à cultura colaborativa e do software livre, a aprovação do Parque Augusta, a faixa exclusiva de ônibus, e o projeto que  pretende oferecer trabalho na Prefeitura para ajudar pessoas com dependência química, Haddad pode ser reconhecido como o primeiro prefeito a hackear sua própria cidade e um exemplo a ser acompanhado.

A transparência pública e privada é atualmente um dos melhores antídotos para combater a corrupção. Que venham mais dados abertos, mais hackers e hackatons em todo Brasil.

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Um comentario para "Hackear as cidades, para transformá-las"

  1. Ines Terezinha Zielinski Fornari disse:

    Gostei do texto e gostaria de ajudar,, mas tenho pouca formação em computadores. Mas vou me agilizar;

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