EUA: a emergência das "comunidades de idosos"

Aumenta, nos EUA, o número de idosos que recorrem a comunidades próprias para se manterem em grandes centros urbanos

Por Tod Newcombe | Tradução Isis Shinagawa, na Samuel

 

 

Manifestantes protestam diante da lanchonete, que chamou polícia para expulsar idosos (alguns dos quais coreanos) que ocupavam cadeiras consumindo pouco

Manifestantes protestam diante da lanchonete, que chamou polícia para expulsar idosos (alguns dos quais coreanos) que ocupavam cadeiras consumindo “pouco”

 

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Cresce número de aposentados que se organiza por direitos, acessibilidade e convívio. Mas para empresas como McDonald’s, eles não são bem-vindos

Por Tod Newcombe | Tradução Isis Shinagawa, na Samuel

Por que as pessoas vivem nas cidades? Obviamente há várias razões que vão desde oportunidades de trabalho até fácil acesso a manifestações culturais. Mas, para nossos propósitos, uma das razões é a independência. Diferentemente de lugares rurais ou suburbanos, onde a movimentação depende em grande parte de se possuir um carro, os centros urbanos têm muitas opções para as pessoas circularem pela cidade, graças a bairros populosos acessíveis a pé e à grande malha do transporte público.

Independência também é um dos principais motivos para se envelhecer nas cidades. Em parte, este desejo ocasionou o aumento na tendência de aglomeração de idosos nas cidades. Tais agrupamentos foram observados em 1986 pelo professor da Universidade de Wisconsin-Madison, Michael Hunt, que os nomeou espontaneamente de comunidades de terceira idade ou NORCs [em inglês, Natural Occurring Retirement Communities]. Estas comunidades não foram construídas propositalmente para os idosos; elas evoluíram de forma natural devido ao envelhecimento dos adultos naqueles locais.

De acordo com a Administração de Idosos, cerca de 17% dos idosos norte-americanos vivem atualmente em NORCs no país. Algumas organizações estimaram esse número próximo a 36%. De qualquer forma, a expectativa é que esta porcentagem aumente nas próximas décadas. Em 2030, o número de idosos com mais de 65 anos excederá 72 milhões, um crescimento de 40 milhões desde 2010.

Nova York, como esperado, é o epicentro das NORCs: são 27 delas em quatro distritos. Enquanto a maioria está aglomerada em edifícios residenciais de muitos andares, como os Co-op City, no Bronx, outras se espalharam por bairros inteiros. As NORCs horizontais têm se transformado em “vilarejos de idosos”, que atualmente são encontrados em mais de 120 pequenas e grandes cidades pelo país. Os “vilarejos” são diferentes das NORCs; neles, pessoas de certa idade se unem e formam organizações não governamentais que fornecem vários serviços: de transporte e consertos domésticos a cuidados médicos. Os membros pagam uma taxa anual que varia de US$ 500 a US$ 1000, sendo que os idosos de baixa renda recebem desconto.

Programas de apoio

Um desafio encontrado pelos moradores dos vilarejos e das NORCs é a instalação de facilidades específicas para tornar suas casas “amigáveis”. Por exemplo, grande parte do parque habitacional da Filadélfia é velho e difícil de ser renovado. De acordo com a Philadelphia Corporation of Aging (organização que representa os idosos), mais de 70% dos idosos da Filadélfia têm casa própria. Eles também tendem à pobreza – a Filadélfia ocupa o sétimo lugar na escala de pobreza do país –, portanto não possuem recursos para adaptar as próprias casas enquanto envelhecem.

De acordo com o jornal “Philadelphia Inquirer”, uma solução é mudar o código da cidade para que os proprietários possam transformar o primeiro piso ou a garagem das casas em apartamentos habitáveis para os idosos. A outra solução é fazer com que 10% de quaisquer construções sejam feitas para atender os cadeirantes.

Um desafio específico que as NORCs enfrentam é a falta do apoio da comunidade. Para tratar esta questão, várias cidades estão criando programas de serviços de apoio (PSA), que são, em essência, parcerias entre organizações locais para o fornecimento de serviços, como transporte para os idosos. Uma vez que uma NORC satisfaz certos critérios, ela pode passar a receber serviços de apoio locais, estaduais e federais. Um dos primeiros PSAs foi criado pela seção nova-iorquina da Jewish Federations of North America; hoje é considerado um dos modelos de provimento de serviços que um PSA deve fornecer aos idosos.

Conforme o número de idosos cresce nas cidades, o conceito das NORCs ganha mais espaço, acarretando algumas brigas entre os residentes, os comerciantes e os idosos que escolheram permanecer e criar sua própria comunidade no local. Tome-se como exemplo o McDonalds do Queens, em Nova York, que, desde janeiro decidiu estabelecer um limite de 20 minutos para a refeição de seus clientes, um esforço para forçar um pequeno grupo de idosos coreanos, frequentadores regulares, que se reunia na lanchonete durante o horário de pico, a deixar o local. A lanchonete disse que o grupo de idosos estava usando as dependências para socializar, não para comer. Os idosos disseram que o McDonalds era útil e os permitia ficarem juntos.

Michael Kimmelman, um colunista do “The New York Times”, chamou o McDonalds de “NORC natural”, pois permitiu que o grupo superasse os problemas de solidão que enfrentava. “Eles foram levados até lá pela proximidade e pelo preço, mas ficaram pelo companheirismo.”

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Um comentario para "EUA: a emergência das "comunidades de idosos""

  1. joberival da hora de oliveira disse:

    aqui no Brasil mals tratos aos idosos começa dentro da sua propria casa

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