Ditadura: Comissão da Verdade quer informações sobre tortura nos quartéis

Coordenador da CNV diz que prédios públicos em todo país foram usados para interrogatórios brutais e pede investigação ao ministro da Defesa

Por Marcelo Brandão, da Agência Brasil

RELATORIO DIREITOS HUMANOS

À direita, na foto, Pedro Dallari, coordenador da Comissão Nacional da Verdade

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Coordenador da CNV diz que prédios públicos em todo país foram usados para interrogatórios brutais e pede investigação ao ministro da Defesa

Por Marcelo Brandão, da Agência Brasil

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) pediu hoje (18) ao ministro da Defesa, Celso Amorim, auxílio na investigação do uso de instalações militares como centros de tortura durante a ditadura militar. O coordenador da CNV, Pedro Dallari, entregou a Amorim um relatório com provas de que unidades das Forças Armadas no Rio de Janeiro, em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco eram usadas para “perpetração de graves violações de direitos humanos”.

O relatório, elaborado com base em dados obtidos pelas comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos Políticos, descreve alguns casos de tortura realizados nesses locais. Segundo Dallari, o ministro não sinalizou o que poderá ser feito em um primeiro momento, além de examinar o relatório. Dallari acredita, no entanto, que as Forças Armadas podem contribuir abrindo uma sindicância.

“As Forças Armadas vêm contribuindo de maneira muito efetiva com a comissão, fornecendo documentos e informações específicas. Agora precisamos que eles nos ajudem com sua capacidade de investigação. Entendemos que esse pedido é razoável”, disse Dallari. Ele informou que não foi fixado um prazo para resposta do Ministério da Defesa ou das Forças Armadas.

O relatório levado ao ministro da Defesa cita sete unidades militares, quatro no Rio de Janeiro, uma em São Paulo, uma no Recife e outra em Belo Horizonte. A Comissão da Verdade, no entanto, ressalta que as instalações apresentadas no documento representam apenas uma amostragem. Prédios públicos em todo o país teriam sido usados como centros de tortura, e não de forma esporádica ou pontual.

“O que nos preocupa é esse caráter sistemático, estrutural da repressão. Não aceito a tese de que houve exageros, desvios de alguns psicopatas que saíram torturando pessoas. Isso não seria possível se não houvesse  uma estrutura institucionalmente estabelecida que permitisse. E é nessa investigação que a Comissão Nacional da Verdade pode avançar”, ressaltou Dallari.

Outros membros da comissão, Paulo Sérgio Pinheirio, Rosa Cardoso e José Carlos Dias, estiveram à entrevista em que Dallari falou sobre o relatório entregue ao ministro da Defesa. Eles anunciaram que, em maio, a CNV promoverá duas audiências públicas, uma no Rio de Janeiro e outra em Brasília, para discutir a Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 70 do século passado, no sul do Pará. Dezenas de pessoas morreram ou desapareceram na guerrilha, combatida pelo regime militar.

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