Crise de água em SP: quanto mais grave, mais ocultada

Reservatórios baixam novamente. Governo Alckmin e mídia insistem em evitar racionamento e debate antes das eleições. Abastecimento pode sofrer colapso

108330

.

Reservatórios baixam novamente. Governo Alckmin e mídia insistem em evitar racionamento e debate antes das eleições. Abastecimento pode sofrer colapso

Por Fernando Brito, em seu blog

Ontem (5/7), ao longo do dia, entraram só 125 milhões de litros de água no Sistema Cantareira. E saíram, mesmo sendo um sábado, dia de menor consumo, 2 bilhões de litros. São dados oficiais da própria Sabesp. A vazão afluente foi de 1,45 metros  cúbicos por segundo, a segunda menor do ano. Mas, o “saldo” hídrico foi o pior desde o início do bombeamento, porque, no dia da menor afluência (0,8 m³/s, em 22 de maio), a liberação de água para os rios de sua bacia estava  um metro cúbico por segundo abaixo da atual.

A saída de água pelo Túnel 5, por onde a água do Cantareira se junta ao reservatório de Paiva Castro (onde estão entrando cerca de 2 m³/s), registrou uma vazão de 19,19 m³ que, somada aos 4 m³/s liberados para os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, dá 23,19 m³/s de vazão defluente total.

A diferença entre o que entra e o que sai de água voltou aos dias terríveis de fevereiro, como você pode ver no gráfico, mesmo com muito menos água liberada. Basta fazer as contas com os 180 bilhões de litros que remanescem no Cantareira, aí incluído todo o volume que se espera bombear para o abastecimento da Grande São Paulo.

Até o final da semana que se inicia, metade do volume previsto para bombeamento do maior reservatório, o Jaguari-Jacareí, já terá sido retirado. Um pouco menos de dois meses depois de ser iniciado. Mantido o ritmo atual e se todas as previsões otimistas da Sabesp estiverem certas, a segunda metade durará menos de um mês: em torno de 15 de agosto. Com otimismo, porque os reservatórios, neste momento, se assemelham mais a um conjunto de canais do que a represas.

Restarão então dois meses da água abaixo da tomada d’água do reservatório Atibainha.

chuvaIsso se todas as “gambiarras” funcionarem plenamente e as afluências melhorarem um pouco. Nos seis primeiros dias de julho, a água afluente chegou a meros 2,3 m³/s, pouco mais de 20% da mínima mensal já registrada desde 1930, que é de 11,7 m³/s. Novamente, os dados estão disponíveis e é só nossa imprensa querer tratar o assunto com a gravidade que ele tem.

A necessidade de racionamento de água, que era dramática, tornou-se desesperadora e esconder isso é tão grave que não é possível que um governante o faça, por razões eleitorais.

Não é possível sustentar a retirada de água no volume em que está sendo feita.

Nem mesmo o remanejamento de parte dos consumidores do cantareira para o sistema Alto Tietê pode ser mantido, porque o ritmo de esvaziamento deste que é o segundo maior fornecedor de água para os paulistanos também aponta pouco mais de 100 dias de consumo: tem 24,8% de seu volume útil e cai a 0,2% ao dia.

Manter o ritmo atual de consumo é loucura. Pode ser a sobrevivência eleitoral de Alckmin. Mas é o suicídio de nossa maior metrópole.

Leia Também:

9 comentários para "Crise de água em SP: quanto mais grave, mais ocultada"

  1. Nós temos que votar certo! Em quem?

  2. O desperdício de água nas indústrias é um absurdo e o governo sabe disso,porém é mais fácil punir a população,depois apresentar algumas obras em época de eleição tentando enganar para continuar no poder.
    Esses hipócritas não merecem estar onde estão! Chega!

  3. Gustavo J disse:

    Eu ainda estou esperando algum reporter ou politico de falar a coisa certa!! meu amigo quem gasta agua em SP são as empresas e industrias o consumo da população é irrisorio nesta comparação, não estou dizendo que a população não ter que ter consciencia, acontece que não houve politicas obrigando as empresas a instalarem em seus espaços agua de reuso e captação, então quem deve começar a fechar as torneiras??

  4. toni disse:

    Contundente a reflexão de José Ruiz Talhari Júnior. Já dizia um escritor alemão há mais de meio século atrás: “O pior analfabeto é o analfabeto político (…) Assino abaixo suas palavras.

  5. o Brasil precisa de educação sim, mas não dessa que você se refere, Gustavo (neste caso especificamente). Nós vivemos no planeta água (embora seja chamado de terra, 71% da superfície do planeta é água), no Brasil estão os maiores recursos hídricos do planeta, sendo que a região sudeste, onde fica SP, é uma das mais abastecidas. Sobra água. Você paga uma montanha de impostos, paga caríssimo para ter água na torneira, paga caro para devolver essa água para o sistema (sim, porque a água não desaparece, você usa e devolve) e o fdp do gestor do estado mais rico da nação não consegue tratar a água e devolver para o seu consumo??? Fala sério!! Isso é uma palhaçada. O PSDB privatizou a Sabesp, que distribui lucros aos montes, ficou 20 anos sem investir na estrutura de abastecimento de água (sabia disso?), agora falta água e você vem me dizer que a culpa é do povo?? É como viver no deserto do Saara e dizer que o povo tem que economizar areia!! Falta educação sim, mas é educação política, é noção de cidadania. (PS.: eu morei em Salvador/BA e vi várias vezes propaganda da Sabesp enaltecendo o governo do PSDB por ocasião das eleições, um absurdo.. é isso.. a empresa virou um cabidinho do Alckmin).

  6. Concordo… educação, tu falaste tudo, mas me fale, onde estas a porcaria da educação? quem deveria ter a obrigação de fazer isso quando assume um cargo publico e faz o juramento disso? Nosso país sofre simplesmente de pessoas que só lembram de enche a barriga e seus bolsos. e a população que tem quer ser responsável por isso? vamos fazer nossa economia de agua e ver os abusos que o governo faz?

  7. Amanda Cavalcante disse:

    O motivo deste homem estar com o maior número de intenções de voto, justifica a política de omissão e mentiras que o governador Alckmin tem feito durante todo esse tempo….. sem contar no quanto se vagloria por entregar mil obras inauguradas em véspera de eleição. Já está na hora de puxar o tapete dele e derrubá-lo do palanque. Ja basta ter que dormir pensando que no dia seguinte, pode ser que eu e minha família passemos sede!!!!

  8. gustavo disse:

    Sem querer promover qualquer governo tanto de direita quanto de esquerda! Mas quem faz uso da água, o faz de forma consciente? Acho uma hipocrisia muito grande, pois na hora de desperdiçar o “cidadão” possui sempre a mesma desculpa “eu que pago a conta”! Então não reclame da nova conta! O brasil precisa de educação, mas precisa aprender o que é civilidade, o que é consciência!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *