Crise de água em SP: novos dados desmentem "culpa da natureza"

Para favorecer acionistas privados, empresa estadual de águas reteve investimentos e adiou por uma década obras que manteriam população abastecida

Por Conceição Lemes, no Viomundo

Geraldo Alckmin e a presidente do Sabesp, Dilma Pena

Geraldo Alckmin e a presidente do Sabesp, Dilma Pena

.

Para favorecer acionistas privados, empresa estadual de água reteve investimentos e adiou por uma década obras que manteriam população abastecida

Por Conceição Lemes, no Viomundo

A estiagem é um fato. Em dezembro de 2013, o índice pluviométrico na região do Sistema Cantareira foi 72% inferior à média no mês. Em janeiro e fevereiro choveu 65% menos do que normalmente no período.

Períodos de estiagem  acontecem, mesmo. São cíclicos. E podem se tornar mais frequentes devido ao aquecimento global. Daí a necessidade de o sistema ser planejado para dar conta do abastecimento de água, inclusive nas adversidades climáticas.

Porém, na Região Metropolitana de São Paulo, a causa fundamental da crise da água é outra: a decisão política dos sucessivos governos tucanos de não investir em novos mananciais desde 1985, apesar dos estudos e alertas de especialistas.

Não foi por falta de dinheiro em caixa. Em 2005, o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), por delegação da Agência Nacional de Águas (ANA), outorgou à Sabesp o uso da água reservada no Sistema Cantareira exclusivamente para fins de abastecimento público.

Pois bem, de 2005 a 2013, os lucros da Sabesp, em valores corrigidos, atingem R$ 13,7 bilhões. Seu patrimônio líquido, R$ 12,9 bilhões. O que significa rentabilidade média neste período  (lucro frente ao patrimônio líquido) foi de 11,86% ao ano. Os dados são de balanços da própria empresa.

A Sabesp, portanto, é altamente lucrativa e poderia reaplicar os ganhos na ampliação dos serviços à população.

RENTABILIDADE DA SABESP

Os lucros de 2005 a 2013 dariam para construir seis vezes o Sistema Produtor de Água São Lourenço, cujas obras tiveram início somente em 10 de abril deste ano.

São Lourenço irá ampliar a capacidade de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. A obra ficará pronta apenas em 2019. O investimento total previsto é de R$ 2,21 bilhões. Ou seja, se desde 2005 a Sabesp tivesse reinvestido parte dos lucros na construção do Sistema Produtor de Água São Lourenço, ele já estaria pronto e evitado a falta de água na Região Metropolitana de São Paulo, mesmo com a forte estiagem.

Mas há outro dado que demonstra que realmente o abastecimento de água não foi prioridade da Sabesp nos últimos anos: a diminuição de investimentos na  tanto na Região Metropolitana quanto no interior paulista. Os dados também de balanços da empresa.

SABESP: INVESTIMENTOS EM ÁGUA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Na Região Metropolitana,  os investimentos caíram, em valores corrigidos, de R$ 721 milhões, em 2011, para R$ 652 milhões, em 2013. Queda de mais de 9%. No interior, a diminuição foi de 21%. Em valores corrigidos, em 2011 foram investido R$ 572 milhões; em 2013, R$ 451 milhões. Detalhe: dos valores investidos pela Sabesp em água em 2013, 30% foram bancados pelo governo federal, via bancos públicos.

De 2005 a 2013, o total investido em água pela Sabesp na Região Metropolitana de São Paulo atingiu R$ 5,1 bilhões. Média de R$ 575 milhões em valores corrigidos. No mesmo período, no interior, a Sabesp investiu R$ 3,2 bilhões no interior. Média por ano de R$ 359 milhões e uma diferença de 60% a menos em relação à Região Metropolitana. Daí as perguntas que todos devem estar fazendo: por que o governo Alckmin não exigiu que a Sabesp investisse em novos mananciais, já que estudos alertavam para essa necessidade?

Por duas simples razões: insensibilidade política e falta de planejamento a médio e longo prazos. Para começar, foi Geraldo Alckmin, lá atrás, quem decidiu vender 49,74% das ações da Sabesp ao mercado. O governo paulista deteve 50,26% do capital da empresa. Consequentemente, ficou com R$ 6,9 bilhões dos R$ 13,7 bilhões lucrados pela empresa 2005 a 2013. Aos acionistas privados couberam  R$ 6,8 bilhões dos lucros.

Alckmin, talvez contando com a ajuda do céu, preferiu embolsar os lucros da Sabesp e engordar os bolsos dos acionistas do mercado a exigir a ampliação da captação de água.  São Pedro resolveu não colaborar, fazendo aflorar o descaso e irresponsabilidade dos tucanos.

Leia Também:

30 comentários para "Crise de água em SP: novos dados desmentem "culpa da natureza""

  1. Izabel Weber disse:

    Claro e preciso na apresentação do tema e na resposta ao Fábio. Parabéns

  2. Ivan nunes disse:

    Não tem “São Pedro” nenhum, alem da má e escusa administracão, tem a “màos”do homem, via Chemtrail, pulverização quimica maciça para alterção climatica a fim de nossa dependencia visando LUCRO E PODER!

  3. Alba disse:

    Tem que investir em tecnologia, fazer com países do Oriente Médio, dessalinização fonte do água do oceano é inesgotável, não contar com ajuda de São Pedro para resolver o problema

  4. Fernando disse:

    Com certeza, Paula! Põe tendencioso nisso, jogaram toda a culpa no governo. “São Pedro resolveu não colaborar, fazendo aflorar o descaso e irresponsabilidade dos tucanos.” Pra mim é tudo porco do mesmo chiqueiro, mas culpar um só é sacanagem.

  5. jose roberto disse:

    to pensando abrir poço em casa sera pode

  6. jose roberto disse:

    se acabar a agua que fazo fico pensando nisto acredita

  7. Paula disse:

    Independente do partido (que penso são iguais), mas o título do artigo insinua que não há estiagem? Uma das maiores? tendencioso

  8. Manuel G. disse:

    Bom mesmo é o governo atual que investe em porto em Cuba, refinaria na Venezuela, dá os ativos da Petrobrás na Bolívia e tira dinheiro de SP para distribuir para seu curral eleitoral.

  9. Tiago disse:

    A culpa é do Homem, com suas regras e leis e esqueceram que ao aumentar a area de desmatamento (regra gov federal) tirando as árvores das nascentes, corregos, rios… só para que poucos tenham um lucro maior em suas propriedades. Com isto e o excesso de poluição das cidades de pedra (São Paulo) criando a famosa panela de pressão marrom e aumento da temperatura regional. Destruir a natureza é muito fácil, tentar recuperar demora +20 anos, parar os desmatamentos das florestas ninguém quer fazer… porque culpar 1 ou 2 caras se a culpa é de todos! Agora se o Povo recebesse Educação e Respeito de seus governantes, provavelmente este problema seria resolvido com muito mais facilidade.

  10. Parabens João, vc falou exatamente o que eu iria escrever esse papo de apartidarismo cheira tucanismo mas não assumi, para ninguem meter o pau.

  11. roger disse:

    e culpa é nossa mesmo, nao temos que culpar ninguem por um erro nosso, em nossa educaçao, onde somos gafanhotos, de nao pensarmos no futuro e sempre colocar a culpa em alguem (assim e mais facil) nao temos que colocar a culpa em governo, aqui esta uma briga partidaria onde um quer tirar a culpa do seu partido, e esquece que tem um la fora lavando a calçada e seu carro para desfilar no sabado e domindo com seu carro limpo e sua casa bem lavada, onde status de ter um carro limpo e mais importante que seu futuro sem agua, brasil e o unico pais no mundo que se toma banho ou usa a descarga ou limpa a o seu carro e casa com agua tratada, ai se cobrar o verdadeiro valor da agua que deveria ser 1 real o litro de agua para assim os brasileiros dar valor, sabe o que acontece, vem a merda do governo de voces e fala que isso é um roubo que a agua nao pode ser esse valor, e diz que se for eleito vai voltar o valor da agua para os mizeros 0,7 centavos o litro da agua, e como nos gostamos de gastar dinheiro a toa e quando o nessesario agua e luz reclamamos de 10 centavos a mais na conta, todos nos temos que se fo*** ou tomar no **, pola nossa criaçao.

  12. Tenho cá meus conhecimentos técnicos a respeito de assuntos que dizem respeito ao que faço e sempre os cumpri próximo ao ideal, senão ate com certo perfeccionismo, já que não me atenho ao estritamente necessário; mas não me proponho resolver um problema técnico, jurídico, político, financeiro ou científico que caberia a um governo que se vê desprovido ética, moral, respeito ou compromisso e que se preocupa em restringir direitos, taxar, multar e sobrecarregar cidadãos que trabalham, pagam seus impostos e lutam todos os dias para evitarem morrer sufocados pela incompetência do Estado em administrar meios de transporte, saúde, educação, trabalho, moradia, saneamento e segurança pública. Não vou me indispor a ficar discutindo sobre essa ou aquela forma de fazer ou deixar de fazer, pois essas atitudes devem ser assumidas por eles, que nada fazem a não ser consumir o erário público e espoliar nossos direitos civis e constitucionais, sob pena de parecer tão louco quanto realmente somos para sobrevivermos em um mundo de hipocrisia, injustiça e desmazelo político. Lamento que nos estapeemos feito palhaços por atos de covardia de que não somos autores; seria coadjuvar com esse cenário de hipocrisia e incompetência pelo qual não somos responsáveis.

  13. Bruno disse:

    Você leu o artigo? É dito no texto que os dados são da própria Sabesp.

  14. Jura disse:

    O sistema Cantareira não foi projetado para atender o consumo industrial, só o doméstico. E a população cresceu menos do que o previsto, não mais.
    São Paulo se desindustrializou nesse período, mas adivinha qual foi a única indústria que sobrou e o que ela mais consome, além de areia e cimento…?

  15. Jura disse:

    Água é um recurso finito. Não dá pra trazer toda a água do estado inteiro para SP e deixar os outros morrendo de sede.
    A história de SP é uma história de construção de barragens em série, que nunca deram conta do recado. O sistema Cantareira começou no final do século 18 com 3 m³/s. Hoje estamos SP consome 72 e não é suficiente. Quando acabar a do São Lourenço vamos buscar onde?

  16. Jairo Pinto Barbosa disse:

    Quando um certo megalomaníaco concluiu o sistema Cantareira disse auto e bem claro que São Paulo não teria problemas de abastecimento até o ano 2000 mais que deveriam ser feitos mais investimentos futuros (esqueceram que o futuro é hoje) portanto desde (mãe Dina) 2000 as represas do Sistema Cantareira não chegam a 80% de sua capacidade de reserva. (Sinal de alerta) E nos paulistas e paulistanos é que teremos que nos contentar com as gotas d’água que nos restarem.

  17. Jura disse:

    Nem precisa ir tão longe. A perda de água por vazamentos na rede da Sabesp na capital é de 30%, exatamente a mesma da SAEC – Superintendencia de Águas da Capital – que a Sabesp encampou e sucedeuem 1972.
    Ou seja, em 42 anos, com todo esse lucro, eles não taparam sequer os vazamentos!

  18. danielle disse:

    fato é, o PSDB não investe em #### Nenhuma, não se interessam em investir em nada publico pq eles querem é privatizar tudo o que conseguirem, só se esqueceram que o estado minimo talvez não precise de governantes tb, pq não vai haver nada para se governar.

  19. gralha disse:

    Tipo a transposição do rio são francisco que os tucanos servos do demonio não fizeram tb ??

  20. Carneiro silva disse:

    A descentralização do Brasil começou com Brasília??
    Uai então parou mesmo antes de começar né!!

  21. Carneiro silva disse:

    Acho que vc não sabe nem a hora que vc está com sede para falar um coisa dessa!!

  22. Interessante, mas é importante lembrar que o sistema cantareira já apresentava problema de abastecimento sem a desculpa da seca, ou seja, há um deficit neste sistema de abastecimento, tiramos água do interior para prover aos metropolitanos de SP e o governo deixou entrar em colapso para aprovar seus planos de emergência, ou seja, aprovar obras de impacto ainda maior, a solução seria parar de ampliar o sistema e sim preserva-lo, dar condições do sistema sobreviver, criar áreas de reserva, não integrar represas de outros sistemas ao sistema cantareira, devemos investir em educação, ampliar o número de relógios individuais, combater o desperdício, inclusive o da própria sabesp que é uma empresa de gestão hídrica mas que não a faz com qualidade, devemos ainda licenciar atividades que utilizam água, como lava rápidos quais não são licenciados ambientalmente em São Paulo, devemos ainda provocar ou estimular uma campanha de racionamento, onde não se pode superar a média máxima no ano e caso ultrapasse se pague por isso, a inúmeras maneiras de mudar o quadro, o problema é que não houve vontade politica e nem vai haver, pois os planos emergenciais movem dinheiro e geram dinheiro, ou seja, seja com Geraldo ou Padilha o plano será o mesmo, vamos esgotar o sistema e depois adotamos um plano de emergência e culpa-se é do clima ou do tempo, boa matéria, mas partidária e sem grande reflexão no fim das contas.

  23. danmochedan disse:

    Fabio, leia novamente o artigo…a resposta tá lá, clara como a opção tucana pelos acionistas: menos distribuição de lucros e mais investimentos.

  24. Fábio,
    Não é por nada não. Mas você leu o artigo mesmo?
    Está recheado de referências aos alertas quem vem sendo dados há muito tempo.
    Além do que, faz discussão importante sobre a inclinação privatista de Alckmin e as consequências.
    Seu declarado apartidarismo, tá com cara de envergonhado tucanismo.

  25. Qual a fonte dos dados mostrados no artigo?

  26. Engraçado, tive a sensação exatamente oposta à sua, Flávio. Li a reportagem e entendi que o problema de abastecimento de água de São Paulo tem como uma das soluções a utilização de mais de um centro de reserva. Utilizar ‘EXCLUSIVAMENTE” o manancial da Cantareira para tal, durante tantos anos acabou por provocar seu esgotamento e pelo que pude compreender, também, inviabilizou que o volume de água fosse recomposto no período de estiagem. Caso houvesse um sistema de distribuição alternativo, como foi sugerido no texto ( Manancial de são Lourenço) a esta altura estaríamos sendo abastecido pelas águas de outra represa, enquanto a Cantareira aguarda pelas chuvas. Mas, ao contrário, o governo nos oferece o volume morto da represa… Isto não é uma crítica vazia. É uma constatação que veio, sim, acompanhada de uma sugestão alternativa para a crise de distribuição.

  27. Engraçado, tive a sensação exatamente oposta à sua, Flávio. Li a reportagem e entendi que o problema de abastecimento de água de São Paulo tem como uma das soluções a utilização de mais de um centro de reserva. Utilizar ‘EXCLUSIVAMENTE” o manancial da Cantareira para tal, durante tantos anos acabou por provocar seu esgotamento e pelo que pude compreender, também, inviabilizou que o volume de água fosse recomposto no período de estiagem. Caso houvesse um sistema de distribuição alternativo, como foi sugerido no texto ( Manancial de são Lourenço) a esta altura estaríamos sendo abastecido pelas águas de outra represa, enquanto a Cantareira aguarda pelas chuvas. Mas, ao contrário, o governo nos oferece o volume morto da represa… Isto não é uma crítica vazia. É uma constatação que veio, sim, acompanhada de uma sugestão alternativa para a crise de distribuição.

  28. José Danti disse:

    Fábio: o que vc diz é lógico,porém nações se desenvolvem com outra dinâmica ,países de dimensão continental como Brasil,EUA,Rússia ,Austrália têm grandes concentrações urbanas devido a ciclos econômicos e não necessariamente de acordo ” com recursos naturais da região” .O processo de descentralização no Brasil começou com JK / Brasília / estradas,etc. Porém não se pode esperar que em poucas décadas a descentralização seja total . Sendo assim,governadores e prefeitos têm que batalhar para manter mega concentrações urbanas no nível do possível – trânsito,água e demais itens de infra-estrutura têm que ser perseguidos.

  29. Não me identifico com nenhum partido político, porém fico impressionado ao perceber que até agora ninguém veio à público dizer o que deveria ter sido feito para evitar este problema. Só vejo críticas, mais nada de conteúdo. Por que não falam a verdade? Não há mais soluções para estas grandes megalópoles, todos os recursos estão comprometidos. Vivem dizendo que o Brasil tem 12% da água doce do mundo, isto é verdade, porém este recursos está distribuído por todo este imenso país, sendo que sua maioria está na região norte. Quando vamos acordar e perceber que não dá mais? Alguém acredita que é possível resolver o problema do trânsito das metrópoles? Já passou da hora de descentralizar, desenvolver o país como um todo e levar a população até os recursos, não ao contrário!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *