Crise de água em SP: outro sistema entra em colapso

Alto Tietê, que abastece região metropolitana, reduzido a 24,3%. Governo Alckmin insiste em evitar racionamento e mídia mantém inacreditável silêncio

Por Fernando Brito, em seu blog

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Alto Tietê, que também abastece região metropolitana, reduzido a 24,3% da capacidade. Governo Alckmin insiste em evitar racionamento e mídia mantém inacreditável silêncio — mas imagens são chocantes

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Salvo uma reportagem ou outra, pouco tem sido dito sobre o “segundo front da seca” que ameaça São Paulo.

O Sistema Alto Tietê está secando cada vez mais rápido.

O segundo maior complexo de reservatórios destinados ao abastecimento da Grande SP, que está servindo como “complemento” para áreas antes conectadas ao Sistema Cantareira, para reduzir a retirada de água na situação de emergência em que este se encontra, não está suportando nem o acréscimo inicial feito há meses e, muito menos, as novas sangrias feitas a partir do novo agravamento da crise.

O Tietê representa metade da produção do Cantareira e leva 15 m³/s à estação de Taiaçupeba.

A queda no sistema passou de 0,1% ( meio bilhão de litros) por dia para 0,2% e, nos últimos dias, já bateu em 0,3%, ou 1,5 bilhão de litros a menos, diariamente.

Restam 24,3% dos reservatórios, ou cerca de 100 bilhões de litros.

O estado da represa de Jundiaí é este que você vê aí na foto.

E a situação é o que descreve a repórter Sabrina Pacca, num relato do qual transcrevo um trecho de poucos dias atrás, publicado há dias:

“É desolador o cenário das cinco barragens que compõem o Sistema Produtor Alto Tietê (Spat). Uma imensidão de área, antes alagada, hoje vazia. A sensação, em alguns pontos, é de se observar um pântano. Em outros, de caatinga. Os peixes desapareceram, para desgosto dos pescadores. Moradores já se veem podendo usar, a pé ou a cavalo, antigas estradas que estavam debaixo d´água há mais de 20 anos e que, com a estiagem, reapareceram, a exemplo da barragem do Rio Jundiaí, onde a realidade é a mais impressionante delas.

Pela terceira vez, nesse semestre, a reportagem de “O Diário”percorreu as cinco represas do Spat. Elas nunca estiveram tão secas e as comunidades que vivem no entorno nunca estiveram tão assustadas. Parece que o temor pela falta de água nas torneiras tomou conta daquelas pessoas, mais próximas a essas paisagens angustiantes.

“Todo mundo deveria visitar aqui. A Prefeitura deveria fazer excursões. Só vendo o que a gente vê, todos os dias, para que se tome consciência de que a água vai acabar mesmo e que vamos sofrer demais. É o sinal do fim dos tempos e está na Bíblia. Não tem jeito, a gente tem que economizar, pelo amor de Deus”, rogou o borracheiro, Elias Souza Alves, de 55 anos, que trabalha às margens da represa de Taiaçupeba, em Jundiapeba, que tem uma área de inundação de 19,36 km². (…)”

Como se trata da água que vai abastecer uma “pequena cidade”,  São Paulo, e pouquíssima gente, apenas 4,5 milhões de pessoas, a gente tem de recorrer ao bravo Diário de Mogi, onde trabalha a repórter, e a seu fotógrafo Edson Martins, para ver e entender o que está se passando.

Não é assunto para um Jornal Nacional, não é?

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7 comentários para "Crise de água em SP: outro sistema entra em colapso"

  1. Amanda disse:

    Ótima explicação.

  2. Luciana, re-publiquei o seu comentário no Blog.

  3. Luciana disse:

    É só dar uma volta rápida por São Paulo para ver a imensidão de novos prédios sendo construídos. O aquecimento de água dos prédios modernos é a gás que gasta 200% mais água que o chuveiro elétrico. Alguém faz alguma coisa??? http://sustentabilidade.allianz.com.br/?2131/quem-e-mais-economico-chuveiro-eletrico-ou-aquecedor
    A cidade não pode continuar inchando indefinidamente já que os recursos são finitos. Ocupação desordenada do solo onde se constrói em áreas de preservação, nascentes e fica por isso mesmo. “Já foi né, agora deixa como está”.
    O entorno dos reservatórios que é área de preservação permanente está cheio de construções e ninguém vê. As matas ciliares são suprimidas e ninguém vê. Os municípios despejam esgoto sem tratamento e ninguém vê.
    Não é sé só na capital. É no estado de São Paulo. O que se tornou o Estado de São Paulo? Um imenso canavial. http://www.unesp.br/aci/jornal/228/cana.php
    O problema não é só no estado de São Paulo, é em todo canto do Brasil: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/05/29/interna_gerais,533764/cidades-mineiras-enfrentam-falta-de-agua-nos-reservatorios-do-rio-sao-francisco.shtml
    A previsão do próprio governo para 2015 é que 55% dos municípios DO BRASIL terão problemas com falta de água.
    http://www.abes-mg.org.br/visualizacao-de-clippings/pt-br/ler/538/falta-de-agua-pode-afetar-55-das-cidades-ate-2015
    Metade dos municípios do Brasil tem ZERO de tratamento de esgoto. http://www.abes-mg.org.br/visualizacao-de-clippings/pt-br/ler/2555/quase-metade-das-cidades-do-pais-nao-tem-rede-de-esgoto
    No Brasil é tudo feito de qualquer jeito, sem planejamento, no imediatismo, sem pensar a longo prazo, as normas não são cumpridas. Dá menos trabalho regularizar o irregular do que fazer a coisa certa. Deixa estragar e depois gasta milhões para tentar recuperar. Parece que assim pensam os administradores públicos.
    Ao invés de ficar se preocupando em se espelhar no futebol da Alemanha deveriam se espelhar na administração pública da Alemanha, país onde aterro sanitário é coisa do passado, país que aproveita lixo, esgoto para gerar divisas, entre tantos outros bons exemplos.
    http://www.revistatae.com.br/noticiaInt.asp?id=4789
    http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/06/cidades-alemas-conseguem-transformar-esgoto-em-eletricidade.html
    http://www.aegea.com.br/2013/03/26/o-brasil-medieval-um-retrato-do-tratamento-de-agua-e-esgoto-no-brasil/
    O Brasil está em colapso.

  4. corisco disse:

    Ouvi dizer que a usina Henri Borden, que funciona com uma vazão hoje de 30m3/s, metade do consumo médio da RMSP (60m3/s), está jogando água da billings serra do mar abaixo, com uma eficiência de produção de energia elétrica duvidosa, com o único intuito de encher o governo (e pessoas) PSDBista de dinheiro, vendendo energia pras fábricas de cúbatão. Um pouco disso teria sido (e talvez ainda seja) o suficiente pra que a crise não existisse……

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