Caraíva, turismo e naufrágio social

Muitos dos que moram em grandes cidades, sabem o prazer do escape da metrópole para curtir as férias em lugares mais remotos. No entanto, muitas vezes os olhos estão fechados para a realidade dos habitantes locais

Por Martim Arantes, na Revista Vai da Pé

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Entardecer no Rio Caraíva / Foto: Thiago Gabriel

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Um paraíso natural no Sul da Bahia converte-se em novo caso de desenraizamento expulsão das comunidades, provocados pela entrada selvagem do dinheiro 

Por Martim Arantes, na Revista Vai da Pé

Quem chega ao vilarejo litorâneo de Caraíva, sul da Bahia, normalmente se encanta com o que vê: a pitoresca cidadela perdida do outro lado do rio remete à um cenário cinematográfica ou mesmo à realidades e costumes de outrora. Da esburacada estrada de terra que leva ao local, passando pela travessia do rio em canoas até a locomoção terrestre em carroças, choca e emociona os desavisados.

Toda de areia, sem sinal de celular e com iluminação apenas residencial, a vila tem atraído cada vez mais a presença dos turistas que buscam uma viagem alternativa ou o grande agito da alta temporada. No entanto, muitos que se encantam com as belezas naturais, a comida e a simpatia do povo baiano, não percebem as reais dificuldades que locais como esse atravessam.

Caraíva é considerada hoje o vilarejo mais antigo do Brasil, sendo datada a sua fundação do ano de 1530. Circundados pelo Rio Caraíva, mar e pela reserva indígena Pataxó, os nativos da região, em sua maioria pescadores, viram seu pequeno oásis se tornar um notado ponto no mapa. Infelizmente, a chegada de pessoas “de fora” (como são conhecidos no local) e investimento não refletiu em melhorias na qualidade de vida da população. Na realidade, muito pelo contrário.

Investidores imobiliários, pousadeiros e proprietários de restaurantes trouxeram consigo a prosperidade econômica, mas, como normalmente é comum em nosso território, a humilde população ficou a mercê da mudança e, cada vez mais, sofre para acompanhar a transformação do local.

Em um passado recente os Caraivenses viviam praticamente de maneira auto-sustentável. Cercada por árvores frutíferas e tendo na pesca a “sustância” da sua alimentação, o complemento era feito com hortas, a tradicional farinha de puba e criação de pequenos animais.

A escola praticamente não existia, o acesso a informação era limitadíssimo e a saúde era tratada, na maior parte das vezes, com receitas caseiras.

Com a chegada avassaladora do turismo muitas das residências dos nativos foram compradas à baixíssimos preços. Essa inescrupulosa barganha arrancou de Caraíva famílias que viviam no local há gerações, e que se viram sem estrutura para recomeçar uma nova caminhada. O dinheiro da venda? Obviamente se esvaía com muita facilidade.

Não é incomum encontrar antigos proprietários, de casas muito bem localizadas, que hoje são funcionários do seu antigo lar e apenas aparam os galhos das árvores que plantaram.

Obviamente o adensamento da região não resultou apenas em fatores negativos. O movimento externo trouxe a eletricidade ao local, em 2007, e as escolas estão mais bem estruturadas. Sem falar do aparecimento da ONG Caraíva Viva, que trabalha pelo desenvolvimento social do local. Ainda assim, os aspectos positivos são poucos e as mudanças vem ocorrendo de forma muito veloz e violenta; problematizando o acompanhamento da antiga  população.

A elite frequentadora do local, principalmente paulistas e mineiros, trouxe as drogas sintéticas, que hoje são uma triste realidade de muitos. Os entorpecentes acompanharam um aumento da violência: pequenos furtos que se transformaram em assaltos e atualmente em brigas e mortes pelo controle do tráfico.

Essa realidade infelizmente não é vivida apenas nesse vilarejo turístico. A maior parte dos pontos brasileiros que adquiriram o status de “paraíso” mascaram um lado nefasto, de uma transformação que atropelou os costumes locais e desestruturou a sua população.

Muitos que passam por Caraíva não percebem o desamparo quando capturam sorrisos com suas elegantes máquinas.

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3 comentários para "Caraíva, turismo e naufrágio social"

  1. MARIA DAS GRACAS LOPES disse:

    Vdd o pior de td e as drogas ao ar livre muito maconheiros

  2. andre rodrigues disse:

    E verdade muito BICHO DE Pe deixam o local muito desagradavel. sem falar dos constanteo despreparo de muitos comerciantes nao treinados para o comercio faz e deixa rastro desagradavel na vila . Pousadas c preços exorbitantes que nao te dao devido retorno mudanã drastica do visual beira rio com iluminaçao inadequada e assaltos diarios vao trans formnado caraiva em turismo feio como porto seguro. Q pena

  3. adam disse:

    Hoje estive em Caraiva, o lugar é lindo e o texto acima retrata a triste realidade do local, estradas destruídas, horas tentando chegar ao local, sem falar em outros pontos contra que o texto relata e infelizmente pura verdade…lamentável

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