Os dados chocantes do subfinanciamento do SUS

Carlos Lula, presidente do Conass demonstra, com gráficos: Saúde perdeu 7% dos recursos em apenas quatro anos. Em 2022, não haverá verbas nem para vacinação adequada, nem para recuperar atraso no atendimento devido à pandemia

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Chocante. Não há outro termo para qualificar a exposição sobre o orçamento da saúde em 2022, feita pelo presidente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), Carlos Lula, em entrevista à Saúde em Debate, revista do Cebes, em 25/10. Segundo ele, o orçamento “prevê muito menos recursos do que o necessário para uma eventual campanha de revacinação da população e simplesmente não prevê qualquer recurso para enfrentar os graves desafios do legado da pandemia para o sistema de saúde”.

Alguns dos dados apresentados durante a entrevista pelo presidente do Conass – e secretário de Saúde do Maranhão – destacam-se. O primeiro, o gráfico reproduzido acima, expõe o déficit de atendimentos acumulado pelo SUS, durante a pandemia. O número de cirurgias realizadas no país, por exemplo, cresceu gradualmente, desde 2016, do patamar de 350 mil para 450 mil. Mas após a covid, despencou, para praticamente voltar à faixa das 300 mil operações – uma queda, portanto, de mais de 30% em doze meses. Em outros gráficos, Lula mostra, em números, as desigualdades que prejudicam as regiões em termos de atendimento à saúde no Brasil. Vale conferi-los.


Em alguns casos, esta ausência de atendimento gera mortes. Em um ano, o número de óbitos por doenças cardiovasculares cresceu entre 7% e 19%, nos primeiros seis meses de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. Em situações menos dramáticas, surgem filas, que se manifestarão mais claramente após a pandemia. Mas, então, o SUS não terá condições de enfrentá-las, prosseguem os dados do presidente do Conass. É que, embora o orçamento da Saúde tenha crescido um pouco, em termos nominais, ele na verdade declinou expressivos 7% (veja linha em cinza claro), desde a aprovação do “teto de gastos sociais”, em 2018. A queda fica clara num outro gráfico encaminhado por Lula a Outra Saúde.

Nada disso parece sensibilizar a maioria conservadora do Parlamento. Segundo o secretário, “Há grande resistência no congresso para manter, em 2021, um valor [para a Saúde] similar ao de 2020” (da ordem de R$170 bilhões). No desabafo de Carlos Lula, é “surreal que neste momento a discussão central no parlamento não seja o orçamento devido ao sistema de saúde para 2021.”

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