Dupla de mulheres ganha Nobel de Química

Ferramenta de edição genética revolucionou várias áreas, especialmente na Medicina

Imagem: Niklas Elmehed / Nobel Media
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A microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier e a bioquímica norte-americana Jennifer Doudna receberam juntas o prêmio Nobel de Química pela ‘tesoura’ Crispr-Cas9, que permite reconhecer, cortar e copiar DNA. Era uma premiação mais do que esperada, porque desde 2012, quando a técnica foi desenvolvida, ficou claro como revolucionaria várias áreas da ciência. “O prêmio deste ano é sobre reescrever o código da vida”, resumiu o secretário-geral da Academia Sueca de Ciências, Goran Hansson, antes de anunciar as ganhadoras. 

A grande promessa hoje é a possibilidade de tratar síndromes genéticas, mas não apenas. Há pesquisas para tornar possível o transplante de órgãos de porcos geneticamente modificados para humanos; para produzir plantas alimentícias resistentes a secas e inundações; e existem 15 ensaios clínicos em andamento com a Crispr, a maioria para tratamentos de cânceres. Agora, durante a pandemia de coronavírus, a ferramenta também foi usada para criar kits de testes de diagnóstico.

Mas nem tudo são flores e a ‘tesoura genética’ também está no centro de uma das maiores polêmicas da medicina dos últimos anos: os bebês geneticamente modificados pelo cientista chinês He Jiankui. Já falamos um bocado aqui na newsletter sobre as limitações que ainda existem na Crispr, e a matéria da Folha também explica isso: o principal problema é a chance de erro ao ‘cortar’ e ‘colar’ os trechos de DNA.

O site da revista Fapesp conta a história da descoberta dessa ferramenta que começou em 2011. E também a verdadeira batalha de patentes que se seguiu desde então: “Em 2018 a Universidade da Califórnia obteve duas patentes que cobrem usos da Crispr-Cas9 para edição de genomas. De lá para cá, a guerra continuou. No final de 2019 a universidade norte-americana anunciou ser a campeã de patentes para uso da técnica, em conjunto com Charpentier e a Universidade de Viena: eram 16, com promessa de chegar a 20”.

Essa foi a primeira vez que duas mulheres ganharam o Nobel de Química sem dividi-lo com um homem. Antes delas, só cinco mulheres haviam recebido o prêmio em mais de cem anos.

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