Amazônia em perigo

O possível ministro do Meio Ambiente acha um absurdo pensar em desmatamento zero, e há uma proposta de MP para asfaltar estradas sem licenciamento.

Crédito: Ana Cotta

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Enquanto o possível ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro acha um absurdo pensar em desmatamento zero, uma proposta de MP pode permitir asfaltar estradas sem licenciamento. Essas e outras notícias aqui, em oito minutos.

19 de outubro de 2018

AMAZÔNIA EM PERIGO

O Ministério dos Transportes está analisando uma proposta de Medida Provisória que permitiria asfaltar estradas na Amazônia – e em qualquer lugar do país – sem necessidade de licenciamento ambiental. Tudo partindo da rodovia BR-319, cujo processo de licenciamento está parado desde 2008 porque , segundo cientistas, sua pavimentação pode causar uma explosão no desmatamento. A região é palco de uma nova frente de ocupação da Amazônia, intensificada nos últimos dois anos. As informações são do Observatório do Clima, que teve acesso ao texto da MP em elaboração. Na exposição de motivos da Medida está escrito que “nem mesmo os interesses da conservação ambiental devem se sobrepor ao interesse socialmente definido para estas áreas”.

E as consequências do aquecimento global foram discutidas por cientistas brasileiros que participaram da elaboração do último relatório do IPCC, que divulgamos aqui no início do mês. De acordo com eles, os mais pobres vão sofrer mais, e as desigualdades vão crescer. Na Amazônia, 30 milhões de pessoas podem ser afetadas. No Nordeste, vai ter ainda mais seca. E há risco de fome, principalmente em países africanos.

“Eu tenho um instinto natural para a ciência”: foi assim que  Donald Trump,em entrevista à Associated Press, justificou o porquê de não acreditar no consenso científico de que as mudanças climáticas têm a ver com a ação humana.

ELEIÇÕES 2018

Ainda a Amazônia

E o homem cotado por Bolsonaro para o Ministério do Meio Ambiente, Nabhan Garcia, não liga muito para o meio ambiente. “Se um produtor rural qualquer comprar mil hectares de terra não vai poder desmatar porque eles falam de desmatamento zero? Isso é um absurdo”, declarou ele, que é presidente da União Democrática Ruralista. E  defendeu, como já havia feito o próprio Bolsonaro, a saída do Brasil do acordo de Paris, compromisso firmado em 2015 por 195 nações  para conter o aquecimento global. Se isso acontecer, pode haver problemas para manter relações comerciais com os outros países signatários. Mas para Garcia isso não é uma questão: ele acha que o Brasil não pode aceitar intervenções externas de “interesses escusos”.

Uma comparação entre os dois candidatos em relação ao meio ambiente foi feita pelo site De olho nos ruralistas. Haddad quer transição ecológica para desmatamento zero..

O caixa 2

Mas o assunto de ontem foi a divulgação, pela Folha, do esquema de propaganda por whatsapp na campanha de Jair Bolsonaro. Segundo o jornal, empresários pagam milhões pela distribuição em massa de mensagens a favor do candidato e contra o PT, inclusive das fake news que marcam essa eleição. É tudo  ilegal,  porque o dinheiro não foi declarado, porque empresas não podem doar para campanhas e porque parecem ter sido usados bancos de dados não permitidos. A hashtag #caixa2dobolsonaro chegou ao primeiro lugar nos trending topics do Twitter – no mundo todo. E #Bolsolão, #MarqueteirosDoJair e #CiroXHaddad também estiveram no Top 10.

A última é referência a outro cenário no segundo turno, caso a candidatura de Jair Bolsonaro seja impugnada. O PT protocolou uma ação de investigação no TSE por conta das notícias falsas e Haddad prometeu acionar todos os meios legais para punir a campanha do adversário.

Por enquanto, Jair Bolsonaro foi liberado ontem pela equipe médica para retomar sua agenda de campanha e participar de debates: só depende dele. E ele já decidiu que não vai a nenhum.

Mais posicionamento

A Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) publicou uma carta aberta em que convoca a sociedade à defesa da democracia e da garantia dos direitos.

CIÊNCIA DISTORCIDA

Uma instigante matéria do New York Times trata  de um fenômeno que tem sido observado há algum tempo e é difícil de contornar: a apropriação de pesquisas genéticas em nome da supremacia branca. Sabemos que o racismo científico é antigo. Mas agora cientistas têm descoberto distorções arbitrárias de seus trabalhos em fóruns de internet de extrema-direita, onde são defendidas ideias com base em interpretações erradas do genoma humano.

Abrindo a matéria, um gif ao mesmo tempo ridículo e assustador mostra homens brancos sem camisa tomando leite e posando de fortões. É um encontro de supremacistas brancos do ano passado, onde eles queriam chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que outros – a capacidade de digerir lactose quando adultas. Um post de mídia social incita afrodescendentes a deixarem os EUA por isso. “Se você não pode beber leite, você tem que voltar”. É esse o nível. Com estudos sobre traços comportamentais e riscos para determinadas doenças, as preocupações são ainda maiores.

Pesquisadores procuram formas de responder a isso: alguns refutam publicamente as distorções, outros fazem advertências em suas apresentações e sites, outros preferem ignorar os racistas para não dar mais audiência para eles. E alguns simplesmente não sabem o que fazer. “Muitas vezes há muitas camadas de incertezas em nossas descobertas”, disse a geneticista. Anna Di Rienzo. “Ser capaz de comunicar esse nível de incerteza a um público que muitas vezes só vê as coisas em preto e branco é muito, muito difícil”.

NO MARANHÃO…

O ex-secretário de saúde Ricardo Murad é alvo de mandado de prisão temporária. Ele é cunhado da ex-governadora Roseane Sarney e se entregou ontem de manhã. A operação Sermão aos Peixes, da PF, indica que R$ 2 milhões destinados ao sistema de saúde estadual foram desviados para uma empresa sediada na cidade de Imperatriz. E a PF investiga ainda vazamento de informações, ocultamento e destruição de provas. O curioso nome da operação é o que parece, mesmo: uma referência a trechos do Sermão do Padre Antonio Vieira em que ele usa peixes como símbolo de vícios e corrupção.

A BAIXA COBERTURA VACINAL

Este ano falamos muito sobre a queda na cobertura no Brasil. E esta semana o site SALUD Primero analisou dados do México a partir do estudo Salud Deteriorada. Nem ao menos é possível saber com exatidão o tamanho do problema lá, porque o Ministério da Saúde não tem indicadores claros. Os dados oficiais do governo indicam que entre 60,1 e 82,1% das crianças foram vacinadas no tempo certo, mas os do Unicef indicam que apenas 34,% delas têm o esquema completo de vacinação; e o Programa de Registros Eletrônicos da Secretaria de Saúde reconhece que a cobertura completa em crianças de um ano atinge apenas 21,9%.

De todo modo, a cobertura fica aquém do desejável, e não há um motivo único: a falta de oferta, a chegada tardia de vacinas, a falta de informação e um sistema que facilita práticas de corrupção afetam a vacinação.

OTIMISMO

A situação do Ebola na República Democrática do Congo segue preocupante e, até agora, foram 185 casos confirmados, com 139 mortes. Como já dissemos por aqui, o fato de haver um surto em zona de conflitos é um prolema a  mais e exige vigilância extra. Mas a OMS declarou que não é uma emergência internacional. Um representante do comitê de emergências afirmou nesta terça que o comitê está “otimista” em controlar o surto com relativa rapidez, dada a longa experiência do país em lidar com esses surtos (este é o décimo no país, desde 1976).

A VOLTA DA VACA LOUCA

Um caso foi detectado na Escócia, em uma fazenda. Mas as autoridades afirmam que o vírus não entrou na cadeia alimentar.

SAI ÁLCOOL, ENTRA INSTAGRAM

O consumo de álcool entre adolescentes e jovens adultos caiu drasticamente nos últimos anos em toda a Europa: em 2002, 26% deles bebiam pelo menos uma vez por semana, e em 2014 o percentual tinha caído para 13%. Muitas teorias explicam a ascensão dos ‘novos puritanos‘. Uma delas é que jovens hoje podem ter uma vida social ativa sem sair de casa, com a internet, e o álcool não influi mais tão significativamente na socialização. Existe também maior preocupação com a saúde.

O MASSACRE NA CRIMEIA

Na quarta-feira um aluno de uma escola técnica de Kerch, na Crimeia, matou 20 pessoas com tiros e uma bomba caseira, e se matou em seguida. Mais de 50 pessoas ficaram feridas, e médicos precisaram amputar membros de várias delas em razão de ferimentos provocados por pedaços de metal acoplados à bomba. Ontem o presidente russo Putin atribuiu o massacre à globalização e às redes sociais. “Vemos que há toda uma comunidade que foi criada nisso. Tudo começou com os trágicos eventos nas escolas dos Estados Unidos”, disse.

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