Combinação explosiva

Como a volta do sarampo e outros problemas se relacionam ao desmonte do SUS

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… O resumo dessa e outras notícias, em seis minutos

24 de julho de 2018

COMBINAÇÃO EXPLOSIVA

Em uma ótima entrevista ao Sul21 e republicada pelo Outra Saúde, o médico e professor da UFRGS Alcides Miranda explica por que a volta do sarampo e outros problemas são resultado de uma combinação explosiva entre desmonte, falta de dinheiro e postura pró-mercado. Ele fala do baixo investimento em atenção básica e dos reflexos de se ter, como ministros da saúde, duas pessoas sem nenhuma vivência em saúde pública (agora Occhi e, antes, Barros), critica os argumentos usados pelo governo federal pra explicar o sarampo e projeta cenários desalentadores para os próximos anos. Vale muito a leitura:

“O outro lado dessa história, além do ressurgimento desses problemas, é a consolidação do que eu chamo de ‘mercado da doença’. As corporações, principalmente as corporações médicas que lidam com a doença, elas se reforçam nessa perspectiva, porque tu não tens mais um tipo de serviço que vai colocar no âmbito local o acesso das pessoas a serviços de promoção da saúde, a produção social de saúde, proteção aos mais vulneráveis, proteção aos mais expostos a riscos epidemiológicos, aos mais expostos a desgastes, desgaste no mundo do trabalho, desgaste ambiental. Tu não tem uma política de atenção integral. Tu desintegra essa política, tu desconstitui a promessa do SUS”.

E a capa da IstoÉ esta semana fala da queda da cobertura vacinal no Brasil, mas o foco é mais nas escolhas individuais do que em políticas públicas. Apesar de o texto reconhecer que se trata de uma “questão de Estado”, que  “a situação é complexa” e que “não pode ser explicada por um viés somente”, o principal alvo da reportagem é o movimento antivacinação. Uma das fontes ouvidas é a Xuxa (“Não tenham filhos se não querem vaciná-los. Eles não merecem sofrer na mão de gente que acha que está certo”, disse ela).

NÃO É SEGREDO

O ministro da Secretaria de Governo Carlos Marun, responsável pela articulação política de Temer, propôs a Henrique Meirelles um pacote de medidas para sua candidatura à presidência. E o SUS está no meio, mas não como nós o conhecemos: Marun defende a cobrança de um valor mínimo para atendimento no Sistema, segundo esta matéria de Marina Dias, na Folha. A gratuidade deve ficar só “para aqueles que são realmente carentes”. Está em uma carta enviada a Meirelles e deputados do MDB. “Vamos…, vamos…, vamos ousar!”, escreve ele.

O ministro também quer “radicalizar nas privatizações”, fazer a reforma da Previdência, dar anistia ao caixa 2 já praticado (“e o criminalizarmos para o futuro”) e criar uma Corte acima do STF, para “dirimir conflitos entre as decisões do STF e a Constituição Federal”. Marun ainda chamou Ciro Gomes de “débil mental”. Depois que a carta veio à tona, disse em nota que, se soubesse que a mensagem se tornaria pública, não teria usado esse termo.

DESIGULDADES

TAB/Uol mergulhou nas diversas contradições do SUS e o resultado, ao contrário do que muitas vezes acontece na mídia comercial, é positivo para o serviço público. A matéria relata falhas graves do sistema, como erros, atrasos no diagnóstico e preconceitos no atendimento, ao mesmo tempo em que fala das suas provas de excelência – abre a reportagem com a emblemática de separação das gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, que teria saído pelo equivalente a R$ 34 milhões nos EUA, mas vai custar R$ 300 mil ao Hospital das Clínicas da USP.

RACISMO E NOTÍCIAS FALSAS NO CREMESP

O clima está pesado nas eleições para o Cremesp, que acontecem entre 7 e 9 de agosto. “Nas últimas semanas, o pleito se transformou em um palco de baixarias, agressividade, calúnias e notícias falsas”, conta Claudia Colllucci, em coluna na Folha. Está em jogo, diz ela, o comando de uma autarquia com orçamento anual de R$ 100 milhões, em que cada conselheiro pode receber até R$ 15 mil mensais.

Entre 240 candidatos em seis chapas, só dois são negros. Uma das candidatas, Diana Santana, falou no facebook sobre uma proposta para o combate ao racismo, e a Rádio Nacional teve acesso a um grupo privado no face em que um médico diz que o debate é “frescura” e outra chama de “vermes” os colegas que apresentaram a proposta.

ESTAGNADA

Um grupo de 47 cientistas publicou na Lancet um documento dizendo que a falta de verba para estudos e campanhas está levando a uma estagnação nos avanços contra o HIV. Embora o número de novos casos no mundo esteja diminuindo, isso tem acontecido de forma lenta demais, especialmente entre jovens e em países em desenvolvimento.

O alerta sobre o retrocesso também foi feito na abertura da 22ª Conferência Internacional sobre o assunto, ontem. Em editorial, o Le Monde francês comenta: “Alguns países duramente atingidos, particularmente na África, ameaçam explodir o número de novas infecções. A erradicação da doença está à mão, desde que os esforços sejam aumentados, caso contrário, há o risco de perder o controle da epidemia ao longo do tempo”.

VACINAS FALSAS

Acontece na China: uma das maiores empresas produtoras de vacinas ( a farmacêutica Changsheng Biotechnology Co) está sendo investigada por fraude na fabricação e no controle de qualidade. Segundo a Deutsche Welle, o caso faz parte de uma série de escândalos envolvendo a indústria farmacêutica chinesa. Em 2008, seis bebês morreram e 300 mil foram afetados por leite em pó contaminado; na semana passada, reguladores europeus descobriram que um medicamento para pressão importado da China pode ter uma substância cancerígena.

RÉUS

Uma ação que apura um esquema de corrupção e fraude em licitação em SP tem agora quatro réus: um neurocirurgião e um ex-diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e dois representantes da empresa Dabasons, que fornece equipamentos cirúrgicos.

A Procuradoria descreveu o esquema. O neurocirurgião Erich Fonoff e residentes orientados por ele instruíam pacientes do SUS a entrarem na justiça pedindo cirurgias de emergência; com as liminares em mãos, os pacientes voltavam ao grupo, que indicavam a Dabasons para fornecer os equipamentos para cirurgia; então eles eram comprados em regime de urgência, sem licitação.

CHECAGEM

A Folha está checando notícias que leitores recebem e mandam para o jornal. Em geral são essas mensagens sobre curas de doenças.

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