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O que a condenação de 23 manifestantes faz nesta newsletter sobre saúde? O resumo dessa e outras notícias, em oito minutos

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19 de julho de 2018

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Formação de quadrilha, dano qualificado, lesão corporal e corrupção de menores: pouco mais de cinco anos após os protestos que marcaram junho de 2013, 23 manifestantes foram condenados à prisão por esse tipo de crime. Eles já tinham sido presos em 2014 e aguardavam sentença deste então. O juiz Flavio Itabaiana, que decretou penas entre 5 e 7 anos de detenção em regime fechado, considerou que o grupo era uma “associação criminosa armada com participação de menores”. O El País entrevistou duas das condenadas: a advogada Eloisa Samy e Elisa Quadros, a Sininho. E o Brasil de Fato não se esquece de Rafael Braga, que hoje está em prisão domiciliar para tratar a tuberculose que desenvolveu na penitenciária.

Após a decisão, o advogado popular  Marino D’Icarahy disse que “ela pode servir de modelo para criminalizar todo mundo que promove luta por direitos. Ela é um atentado contra o livre direito de opinião, de expressão, de manifestação, de rebelião, de revolução”.

E o que esta notícia está fazendo numa newsletter sobre saúde? Bom, o SUS nasceu da luta de movimentos sociais, e saúde pública de qualidade ainda hoje costuma estar entre as demandas de atos no país inteiro, a qualquer momento. Falamos disso no mês passado, nesta reportagem especial sobre o que as Jornadas de Junho significaram na luta por saúde. Às vésperas da Copa de 2014, uma das grandes reivindicações era a de ter escolas e hospitais “padrão Fifa”.

“Os manifestantes de junho de 2013, das Jornadas de Junho, pediam saúde e educação. Pediam direito a terra, o direito a moradia. Nós fomos presos por pedirmos o básico”, disse Samy, em entrevista à Agência Pública. Para ela, a sentença demorou tanto a sair porque aguardava um momento específico. Como este, quando movimentos se organizam pela soltura de Lula. “Isso foi um recado para esses manifestantes, para esses movimentos sociais: ‘olha esses aqui já estão presos, tá? Esses daqui a gente já condenou’. Eu tenho certeza” .

Vale lembrar que a Lei Antiterrorismo foi assinada por Dilma.

MERCADORIA?

Ao suspender a nova norma da ANS sobre planos de saúde, a presidente do STF Cármen Lúcia escreveu que saúde não é mercadoria. Em coluna na Folha,  o jornalista Leandro Narloch discorda veementemente. “Isso que dá ministros do STF se tornarem celebridades da TV. Começam a falar banalidades fofas e frases de efeito só para fortalecer a aura de santidade e ganharem elogios na internet”, diz, lançando ele próprio, em seguida, várias frases de efeito que também devem gerar elogios em algum lugar. “Sem a ambição de médicos e negociantes, de grandes laboratórios e empresas listados na Bolsa, Cármen Lúcia não conseguiria tratar nem sequer uma apendicite”; “A saúde no Brasil precisa ser tratada mais como mercadoria e menos como um direito sagrado”. Ele sustenta que, se não fosse lucrativa, a saúde não interessaria a ninguém. “O número de médicos despencaria – do que adiantaria estudar tantos anos para ganhar o mesmo que um cobrador de ônibus?”

Por alguma razão isso acabou nos remetendo à ilha onde saúde não é lucrativa mas funciona muito bem, inclusive com médicos de sobra. Todo mundo deve ter visto o vídeo em que, ao criticar Cuba no programa Manhattan Connection, o economista liberal Ricardo Amorim disparou que ‘só’ três coisas funcionam por lá: saúde, educação e segurança.

CPI EM PELOTAS

A Câmara de Vereadores de Pelotas (RS) abriu uma CPI para investigar uma suspeita de fraude em exames de papanicolau, que detecta lesões pré-cancerosas e cancerosas. Há denúncias de o laboratório conveniado pela prefeitura dava resultados por amostragem, em vez de analisar todos os laudos. O resultado é que pacientes com resultados negativos começaram a aparecer com câncer. A Polícia Federal também está investigando. O Laboratório SEG nega que tenha deixado de fazer as análises.

NÃO ENGRENOU

Está disponível no SUS há cinco anos a vacina contra o HPV, mas menos de metade das meninas entre 9 e 14 anos foi vacinada. A BBC busca os porquês. Existe o medo dos efeitos colaterais e a sensação de que a doença é algo distante, mas parece que o principal problema é a dificuldade de levar adolescentes até o posto: primeiro porque os horários são ruins, segundo porque, ao contrário de crianças menores, o público da vacina já consegue dizer ‘não’ aos pais. A matéria cita casos de sucesso, especialmente o da Austrália, onde a vacinação é feita nas escolas. A prevalência do vírus na população foi reduzida lá a 1% e o câncer de colo de útero está perto de ser erradicado.

PARA FRENTE E PARA TRÁS

O tratamento da Aids bateu um recorde. De cada cinco soropositivos no mundo, três têm acesso aos antirretrovirais: são 21,7 milhões de pessoas. Mas, no mesmo momento em que reconhece a vitória, a ONU alerta que o número não deve conseguir se sustentar, por conta de dinheiro. Faltam US$ 7 bilhões anuais. Existe uma dependência em relação à verba dos EUA e, sob Trump, o país deve cortar o orçamento.

EMBATES

A relação da Anvisa com o Congresso e o Executivo nem sempre é das mais amenas, e a autoridade da agência parece ser questionada quando há interesses diversos – os exemplos mais recentes estão na questão dos agrotóxicos e da rotulagem nutricional. Em entrevista à Folha, o atual presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, fala disso. “Respeitamos o Congresso, que é fundamental em uma democracia. Mas não podemos aceitar que o Congresso ou Executivo invada nossa atribuição”. Ele está de saída para assumir um cargo na Opas.

BARRADOS NA ALFÂNDEGA

Pacientes brasileiros importaram medicamentos à base de canabidiol dos EUA mas só receberam caixas vazias, mesmo lacradas. Não tinha sido roubo, mas confisco na alfândega norte-americana, informa o Estadão. A justificativa é que, embora alguns estados tenham descriminalizado o uso medicinal, a “venda, posse, produção e distribuição de maconha continuam sendo ilegais sob a lei federal”. Mas o confisco só aconteceu, até onde se sabe, com três remessas, e nunca tinha ocorrido antes.

REMÉDIOS VELHOS E MOFO

O Tribunal de Contas de São Paulo fiscalizou farmácias de unidades de saúde de 162 municípios e o que encontrou não foi bom: remédios vencidos, mofo, prédios sem alvará da vigilância sanitária. Quem noticia é o Estadão, mas sem detalhes sobre em quantos ou em quais municípios as falhas foram descritas.

SEM SEXO

Uma pequisa entrevistou mil britânicos entre 16 e 18 anos e mostrou que eles estão namorando mais online, passando mais tempo em família do que com amigos, bebendo menos e fazendo menos sexo – dois terços nunca fizeram, por sinal. Isso pode ajudar a explicar a queda nas taxas de gravidez na adolescência. Tem uns resultados estranhos. Mais de 80% disseram priorizar bons desempenhos em provas e na carreira, e só 68% priorizam o tempo gasto com amigos; muitos disseram não ter tempo para amigos por conta dos compromissos com trabalho e estudos, mas eles gastam em média cinco horas por dia online (e sem ser estudando ou trabalhando); menos de 25% falava com amigos pessoalmente tanto quanto virtualmente.

À LA CARTE

Na semana em que um estudo mostrou que a edição genética pode ser perigosa (lembra?), médicos do Conselho Nuffield de Bioética, britânico, decidiram que esse tipo de intervenção no DNA de fetos deve ser permitido do ponto de vista ético. Como a técnica torna possível escolher características genéticas, há críticas de que levaria à criação de “bebês sob medida” e de pessoas com vantagens genéticas sobre as outras – uma ampliação das desigualdades sociais.

LIGA NO MEU CELULAR

Novidades na atenção básica: usuários do SUS vão começar a receber notificações de consultas pelo celular e profissionais vão poder registrar as vacinas tomadas no prontuário eletrônico.

ATUALIZAÇÃO DOS CASOS

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Já são 677 os casos confirmados de sarampo no Brasil: 444 no Amazonas, 216 em Roraima, 8 no Rio Grande do Sul, 7 no Rio, 1 em Rondônia e 1 em São Paulo. Ainda há mais de 2,7 mil em investigação. Vai ter campanha de vacinação entre 6 e 31 de agosto, com dia D no dia 18 (sábado), tendo as crianças entre um e cinco anos como público-alvo.

GRIPE

A vacinação, que continua após o fim da campanha, chegou a 90% do público-alvo. Ainda assim, entre crianças e gestantes, ela está baixa: 76,5 e 77,8%, respectivamente.

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