Agrotóxicos, cientistas, política e negócios

Agrotóxicos: verdades e mentiras… No contexto.

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O resumo dessa e outras notícias, em nove minutos

16 de julho de 2018

AGROTÓXICOS, CIENTISTAS, POLÍTICA E NEGÓCIOS

Neste domingo a Folha deu, inclusive na edição impressa, uma matéria longa sobre a questão dos agrotóxicos, em meio às discussões sobre o Pacote do Veneno. Argumentando que há uma “guerra de versões”, os jornalistas afirmam que pretendem trazer o que “a ciência e os cientistas” têm a dizer, em 17 perguntas e respostas.

Bem ao estilo do fact checking, o texto informa de cara que “não há erro” em chamar agrotóxico de defensivo agrícola e pesticida (uma das propostas do Pacote), já que a diferença está apenas na escolha de enfatizar determinado aspecto. Fala dos possíveis problemas para o meio ambiente, do aparecimento das superpragas e cita os riscos à saúde, mas focando nos trabalhadores do campo. Diz também que é “difícil demonstrar – ou rejeitar” a ideia de que orgânicos são mais seguros e, embora afirme que os agrotóxicos podem causar a morte, dá uma aliviada: “essa informação, por si só, não quer dizer muita coisa, já que praticamente todas as  substâncias existentes têm uma dose letal”. Se agrotóxicos fossem proibidos, diz a matéria, “o preço dos alimentos tenderia às alturas, devido à baixa produtividade”.

Uma observação nossa: como já dissemos por aqui, o Brasil perde todo ano 1,3 bilhão de reais em isenções fiscais concedidas a agrotóxicos. E estima-se que, para cada US$ 1 gasto com agrotóxicos, são dispendidos US$ 1,28 com tratamento médico com intoxicações – isso sem contar os gastos com o tratamento das doenças que podem aparecer com o tempo.

Por falar em dinheiro, o relator do Pacote do Veneno na comissão especial que o aprovou na Câmara, deputado  Luiz Nishimori (PR-PR), está por trás de duas empresas que vendem agrotóxicos: Mariagro Agricultura e a Nishimori Agricultura. A informação é de Amanda Audi e Thallita Essi, no Congresso em Foco. Embora as empresas estejam em uma lista de vendedores de agrotóxicos de 2014, Nishimori disse à reportagem que elas pararam com a venda há 20 ou 30 anos e que sua vida pessoal não tem nada a ver com a parlamentar.

E um livro que tem sido usado para defender o uso dessas substâncias tem um título nada sutil: “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo” , do jornalista Nicholas Vital . O Intercept fala sobre a vida de Vital, que trabalhou por três anos na Istoé/Dinheiro Rural e hoje escreve na Plant Project, revista voltada para as lideranças do agronegócio. Segundo a matéria, além de fazer reportagens sobre isso, ele passou boa parte de sua trajetória prestando serviços de relações públicas para o setor. No próprio livro, o jornalista agradece “pelo apoio ao longo do projeto” a 14 executivos que trabalham ou trabalharam para as principais entidades do agronegócio.

MÚLTIPLOS FATORES

Dez países respondem juntos por mais de 70% das crianças não vacinadas do mundo (e a influência dos movimentos anti-vacinação não chega nem perto de ser responsável por isso): Afeganistão, Chade, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Quênia, Nigéria, Paquistão e Uganda. A OMS lançou um relatório baseado em pesquisas realizadas nesses países e que descreve como a probabilidade de uma criança ser imunizada é atravessada por fatores socioeconômicos, demográficos e geográficos. Em todos os casos, crianças pobres têm menos probabilidade de receber vacinas; quanto maior o nível de educação formal das mães, maior a taxa de vacinação dos filhos; a cobertura é pior para crianças cujas mães deram à luz antes dos 20 anos; e também varia conforme a província, estado ou região.

E há um surto de sarampo entre yanomamis brasileiros e venezuelanos, informou no sábado a direção de saúde indígena da região Norte. Na fronteira, houve uma morte e 67 casos confirmados – 60 são venezuelanos.O responsável técnico do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami disse à AFP que está faltando assistência no país vizinho, e as pessoas infectadas buscam tratamento no Brasil, propagando o vírus. Para piorar, funcionários brasileiros não podem entrar na Venezuela para oferecer apoio médico por conta da ruptura de acordos binacionais por diferenças entre os governos de Maduro e Temer. Sarah Shenker, pesquisadora da Survival International, disse que a situação pode ser catastrófica para esses indígenas, e pediu aos governos que ofereçam, além de atenção médica, proteção às terras yanomamis de invasores. “É a única maneira (…) de garantir sua sobrevivência”.

SENTENÇA HISTÓRICA

A Johnson & Johnson foi condenada a pagar 4,7 bilhões de dólares por 22 casos de câncer associados a seu talco nos EUA. Das 22 denunciantes – elas desenvolveram câncer de ovário – 6 morreram.  A empresa enfrenta outros 9 mil processos relacionados ao produto. O advogado da J&J diz que se trata de uma conspiração, e vai recorrer.

FOI PARAR NO STF

O Conselho Federal da OAB entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para contestar aquela norma da ANS sobre planos com coparticipação e franquia, que prevê cobrança de até 40% no valor dos procedimentos. A ação diz que ANS invadiu as competências do Poder Executivo e do Poder Legislativo: “A referida Resolução institui severa restrição a um direito constitucionalmente assegurado (o direito à saúde) por ato reservado à lei em sentido estrito, não a simples regulamento expedido por agência reguladora”. O relator é o ministro Celso de Mello, mas o processo está no gabinete da presidente Cármen Lúcia, segundo o Estadão.

MULTINACIONAIS DE OLHO NA HEMODIÁLISE (E NO REEMBOLSO)

Faz três anos que se abriu a porteira para os capitais estrangeiros na assistência à saúde e, na coluna Mercado Aberto da Folha, Cristina Frias fala da atuação nas clínicas de hemodiálise – hoje, entre 50 e 70 estão em mãos estrangeiras e deve haver uma nova onda de aquisições. Das 750 unidades existentes no país, 70% são privadas, 22% filantrópicas e só 8% públicas, mas é o o SUS quem arca com o tratamento de 86% dos pacientes. O presidente da alemã Frenesius, Edson Pereira, reclama do reembolso “muito pequeno” do governo ´ – a empresa começou a atuar no Brasil em 2015 e já tem 30 centros. “Olhamos para empresas em capitais e mercados que possuam um sistema de saúde suplementar bom, ou que tenham prefeituras e estados que complementam os repasses federais”, diz.

A INDÚSTRIA NÃO DESISTE

Já falamos disso algumas vezes: a Anvisa quer alertas no rótulo de alimentos processados com alto teor de açúcar, gordura e sódio, o que contraria a proposta de empresas fabricantes, mais afeitas à figura do “semáforo nutricional”. A novidade agora é que a Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação voltou a pressionar pra pôr em jogo um modelo próprio de rotulagem. Segundo a Folha, a ideia ainda é a do semáforo, mas agora acompanhado de frases indicando alto, médio ou baixo teor das substâncias.

MULHERES NEGRAS

A psicóloga Maria Jesus Moura fala ao El País sobre as demandas específicas das mulheres negras no atendimento, algo ainda pouco levado em consideração. Vale a leitura: “Machismo e racismo. E se ela for lésbica então… Tem pessoas que são extremamente empoderadas, de não deixar ninguém passar por cima, mas adoecem, têm crise do pânico, se deprimem. Não é uma coisa só de ficar com medo, se fechar e não enfrentar. Não, elas enfrentam. Mas é com sofrimento. E aí o elo de ligação é esse: essas mulheres se questionam como elas conseguiram ser chefes hoje? Como chegaram nesse lugar? Por mais que eu tenha almejado, investido, por mais que eu tenha consciência de que eu sou capaz, eu não consigo ainda assim viver nesse lugar. É um processo que vem alinhavado por dentro”.

DEPRESSÃO NAS PERIFERIAS

Estudos no Brasil e lá foram indicam que há mais sintomas de depressão entre pessoas mais pobres e não-brancas… E o acesso ao atendimento desfavorece justamente esses estratos. A matéria da Agência Énóis para a BBC diz que em geral eles procuram atendimento no SUS, mas a espera para conseguir tratamento é longa e, quando se precisa usar antidepressivos, a entrega pode ser irregular. Fora isso, entrevistados disseram que a depressão é vista como uma “frescura” à qual o pobre não tem direito.

O VALOR DOS FATOS

Contra as notícias falsas, nem sempre bastam os fatos. O pesquisador americano Jason Reifler estuda o fenômeno das fake news desde antes de antes de o termo virar moda e falou sobre isso à BBC. De acordo com ele, quando a pessoa já tem posições estabelecidas, fatos concretos não as fazem mudar de opinião, mas buscar argumentos favoráveis às suas próprias convicções. No caso das vacinas, por exemplo, dar informações concretas tem pouco impacto sobre quem tem visões fortemente negativas em relação à imunização.

QUANTOS ANOS VOCÊ TEM?

Pesquisadores de Yale desenvolveram um exame de sangue que diz a idade fisiológica, baseada não no ano de nascimento, mas no funcionamento do organismo – e o teste ainda diz a expectativa de vida de cada um. Existe um temor meio óbvio em relação a este tipo de exame: o de que seja usado por planos de saúde para encarecer mensalidades de quem é mais ‘velho’ fisiologicamente. Morgan Levine, uma das cientistas envolvidas, disse à BBC que não acredita ser o caso, pois o teste não prevê o risco de doenças específicas. Ela prevê o oposto: que as pessoas podem usar o teste pra pedir desconto nos planos quando forem mais ‘jovens’. Será?

PRAZO

O MPF deu 15 dias para o Ministério da Saúde entregar medicamentos atrasados pra pacientes com esclerose múltipla em São Paulo – começou a haver falhas na distribuição em 2016 e, neste ano, houve falta dos remédios em unidades da rede estadual.

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