Jogo pesado

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A poderosa indústria farmacêutica é o destaque do dia.

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OURO DE TOLO

Marketing disfarçado de ensaios clínicos, ocultação de resultados e faturamento bilionário com remédios às vezes inseguros e ineficazes. O poder da indústria farmacêutica – e sua pressão sobre governos e academia – é o assunto da reportagem especial do Outra Saúde. Raquel Torres reúne casos pouco conhecidos do público brasileiro, como o do medicamento Vioxx, fabricado pela Merck. O remédio para artrite e dor aguda circulou por cinco anos, se tornando um dos campeões de vendas no mundo. O problema? Provocava ataques cardíacos e AVCs. Pelo menos 47 mil pessoas morreram ou sofreram lesões irreversíveis por seu uso. Descobriu-se, depois, que a Merck sabia dos efeitos nocivos da droga e pagou pesquisadores para assinar artigos que, na verdade, foram escritos pela empresa. Não se trata de uma exceção: a reportagem percorre todo o circuito de pesquisa até aprovação dos remédios, revelando o lado sombrio da indústria da ‘cura’.

Em outra matéria, Raquel Torres mostra ainda que embora a proteção no Brasil seja mais forte, isso pode mudar em breve. Tramita no Congresso um projeto de lei que pode fragilizar o controle social e a proteção aos participantes de ensaios clínicos. É preciso estar atento…

MAIS UM EXEMPLO

E no sábado, o jornal francês Le Monde noticiou que uma associação chamada Resist está em pé de guerra com a gigante Bayer HealthCare. A empresa alemã comercializa, desde 2002, um dispositivo contraceptivo feminino chamado Essure, suspeito de graves efeitos colaterais. As 2.330 mulheres reunidas na Resist processam a Bayer sob acusação de que a empresa comercializou um produto defeituoso que lhes causou uma série de complicações, como sangramentos, dores no pescoço, períodos de paralisia e episódios de surdez. O Essure é implantado nas trompas de Falópio e vendido pela empresa como método “definitivo” de contracepção.

TOMARA QUE DURE

A revista Época passou recentemente por uma reformulação editorial e operacional. A primeira, em parte, é fruto do trabalho da jornalista Daniela Pinheiro, que fez carreira na Piauí e, agora, se tornou a primeira mulher a comandar a redação do semanário. A segunda se deve à integração e resulta que repórteres de outros veículos da editora Globo emplaquem reportagens na revista. Na quarta edição depois da reestreia, a Época traz duas boas matérias relacionadas à saúde.

A primeira, com mais fôlego, aborda o trabalho do pesquisador brasileiro Carlos Nobre, da USP. Ele é o pai do conceito de alimentos ultraprocessados, que influencia pesquisas em todo o mundo e, no Brasil, orientou a elaboração do Guia Alimentar do Ministério da Saúde. O conceito, batizado de Nova, também irrita – e muito – a indústria de alimentos. Os conflitos de interesse entre empresas e consultores destas que combatem as ideais de Nobre em periódicos científicos e congressos são o fio condutor do texto.

A segunda, mais enxuta, é na verdade uma matéria política. Ficamos sabendo que, aos 77 anos, Michel Temer recentemente implantou um aparelho auditivo. Desde o fim do ano passado, ele já foi submetido a uma angioplastia, a duas cirurgias na próstata e teve que ser socorrido por conta de uma infecção urinária. “Temer, o presidente mais impopular da história, afirmou nesta semana não ser improvável que dispute a reeleição. O marqueteiro – cujo nome cai como uma luva nesta reportagem – Elsinho Mouco já havia lançado o balão de ensaio do Temer candidato em fevereiro. (…) A candidatura à reeleição só pode ser opção se o presidente der ouvidos a Mouco”, escreveu Plínio Fraga.

CERRADO, ENFIM, SOB HOLOFOTES

O bioma brasileiro mais destruído pelo avanço da fronteira agrícola ganhou, enfim, o tratamento jornalístico que merece. O El País publicou uma reportagem especial que denuncia que a savana que detém a maior biodiversidade do mundo já teve 50% de sua área total degradada. O repórter Tom Avendaño e o fotógrafo Felipe Fittipaldi viajaram para cidades-ícone do agronegócio, como Balsas (MA), e municípios pouco conhecidos do Piauí e do Tocantins para mostrar a resistência de agricultores, indígenas e povos tradicionais frente à destruição cada vez mais rápida da vegetação, que seca cachoeiras e rios, cerca áreas de uso comum e fere de morte seus modos de vida. Tudo isso está ligado, claro, à saúde. São as monoculturas de commodities que puxam o uso de agrotóxicos no país para o primeiro lugar na escala mundial. Isso contamina lençóis freáticos. E a derrubada da vegetação nativa afeta o equilíbrio hídrico do país – já que o cerrado é considerado a grande caixa d´água do Brasil. A ofensiva do agronegócio sobre esses territórios deixa, por fim, um rastro de sangue. Assassinatos de lideranças que denunciam grilagem de terras, ameaças, expulsão das casas. São muitas histórias e vale a pena conferir.

DEMOGRAFIA MÉDICA

Foi divulgada a quarta edição da pesquisa Demografia Médica. Coordenado por Mário Scheffer, da USP (primeiro entrevistado do Outra Saúde), o estudo traz muitas informações sobre a categoria profissional. A matéria de hoje do Estadão aborda um dos achados: no Brasil, 22,9 mil vagas de residência estão ociosas, o que corresponde a 40% do total. Em parte, explica Scheffer, o problema se deve ao descompasso entre autorização para abertura de vagas e existência de recursos para efetivamente financiá-las. Também entram na lista a falta de qualidade que gera evasão – o abandono quase dobra do 1º ano para o 2º ano da residência (5.933 vagas não ocupadas contra 10.529). E, embora tenha aumentado quase 40% entre 2016 e 2017, o número de vagas ainda está abaixo da demanda, defende Scheffer. Isso porque o número de vagas ocupadas é menor do que o número de médicos que entram no mercado de trabalho. “Mesmo se considerarmos que parte dos profissionais não tem interesse na residência, há um passivo, um grupo formado em anos anteriores interessado em fazer e que não tiveram até agora oportunidade”, diz o pesquisador.

NOVOS NÚMEROS

O relatório anual da Associação de Alzheimer dos Estados Unidos foi divulgado no fim de semana. Segundo a entidade, hoje 5,7 milhões de pessoas são vítimas da doença degenerativa no país. Os custos com tratamentos relacionados às demências foram estimados em US$ 277 bilhões neste ano – número que, se estima, deve saltar para nada menos do que US$ 1,1 trilhão (!) em 2050. A Associação projeta que, neste ano, 14 milhões de pessoas terão a doença. E defende melhoras no diagnóstico. Enquanto o número de mortes relacionadas a doenças cardíacas diminuiu 11% entre 2000 e 2015, a mortalidade do Alzheimer subiu 123% no período. Ainda segundo o relatório, nos Estados Unidos, um a cada três idosos morre devido às demências, que matam mais do que câncer de mama e próstata juntos.

É SUS

A história mostra o potencial de um sistema público e integral de saúde. Aos dois anos, Jéssica Tunguica recebeu diagnóstico, cirurgia e reabilitação pelo SUS. A menina nasceu sem parte da perna esquerda e foi abandona no lixo em seu país natal, Angola. Adotada pela policial Elisa, recebeu por lá orientação de que só poderia testar uma prótese aos seis anos de idade. Aí entra o SUS: a mãe de Jéssica se mudou para o Brasil após consulta com especialista que garantiu que a menina deveria fazer a cirurgia o quanto antes. A espera durou pouco mais de um ano: hoje, Jéssica pula e corre com a prótese feita sob medida e é acompanhada pela equipe do Hospital da Criança e Maternidade e do Instituto Lucy Montoro em São José do Rio Preto (SP). A família pretende voltar para Angola no fim do ano.

AINDA O NHS

A indefinição sobre a posição do governo britânico em relação ao financiamento do National Health System continua. No domingo, o secretário de Saúde do Reino Unido, Jeremy Hunt, foi a um programa de TV e negou especulações da imprensa, que noticiou no mesmo dia que o NHS receberia quatro bilhões de libras a mais por ano – e que esse anúncio seria feito no aniversário de 70 anos do sistema, comemorado em 5 de julho. Segundo Hunt, será necessário aumentar os impostos para expandir o financiamento do NHS. Ele também afirmou que nos últimos 20 anos, o modo como o NHS foi financiado é “louco” e “faminto” – embora nem ele, nem a reportagem do Guardian deixem claro porquê. E defendeu um plano de financiamento que abarque um período de dez anos, argumentando que, assim, o governo pode ter mais poder de barganha para negociar com o setor privado melhores preços nos medicamentos, por exemplo.

Sua mensagem principal, contudo, é bem conhecida de nós, brasileiros, e tem a ver com a ênfase no gerencialismo. “Tem muitas coisas que você pode fazer para fundamentalmente melhorar a eficiência do sistema. O que o público precisa saber é que, sim, eu entendo o argumento de que o NHS precisa de mais dinheiro; eu gostaria de ver mais recursos entrando no sistema – mas eu preciso saber que cada centavo está sendo gasto sabiamente”, declarou. Em julho, o governo vai rever seu orçamento para os próximos três anos. A conferir se o NHS vai ganhar um merecido presente de aniversário do gabinete da conservadora Theresa May.

POLÍTICAS PÚBLICAS E SOLIDÃO

A Holanda acaba de destinar mais de R$ 100 milhões para monitorar a solidão da sua população idosa. A crise econômica gerou por lá o fechamento de quartos em residências oficiais. Embora a causa tenha sido a austeridade, a ideia era boa: fazer com que aposentados sem problemas motores ou demência passassem a ser cuidados na comunidade, por família, vizinhança ou voluntários. O novo modelo de assistência, porém, encontrou dificuldades nas prefeituras. E, com a medida, o Ministério da Saúde admite que cuidar dos idosos em casa “é uma tarefa comum”. O principal problema é a solidão. O país estima que 50% dos holandeses com mais de 75 anos se sentem solitários e que a partir dos 85, o número chega a 60%, num total de 700 mil pessoas.

IDOSOS E HIV

Em 10 anos, o número de idosos com HIV no Brasil cresceu 103%, segundo dados do Ministério da Saúde, relata o Correio Braziliense. Em 2016 foram registrados 2.217 casos; em 2015, o número foi de 1.125. A falta de políticas públicas, o tabu que envolve a vida sexual de pessoas acima de 60 anos e o comércio de medicamentos para disfunção erétil são apontados como fatores que explicam o aumento.

CONTROVÉRSIA

Um seminário promovido pelo Conass, entidade que representa os secretários estaduais de saúde, mereceu críticas em vários grupos de discussão que agregam militantes do SUS. É que ‘O futuro dos sistemas universais de saúde’ será debatido apenas por homens. Tanto no dia 24 de abril, com mesa composta por convidados internacionais, quanto no dia 25, com palestrantes nacionais, não há uma única pesquisadora mulher. São 10 homens. Ninguém contesta a qualidade dos nomes. Mas em tempos de feminismo, esse tipo de opção não escapa mais incólume.

PERDAS NO CONTROLE SOCIAL

A secretária-executiva do Conselho Nacional de Saúde, Neide Rodrigues, faleceu no sábado (24) devido a uma parada cardíaca. A morte aconteceu dois dias depois do falecimento de seu antecessor no cargo, João Palma. Neide tinha 55 anos e deixou três filhos. João, aos 62 anos, deixou dois filhos.

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