OPAS aponta queda na expectativa de vida nas Américas
Cai em 2,9 anos expectativa de vida nas Américas • Fundamentalismo antivacinas mata uma criança por dia • Mais um passo para a vacina contra zika • Também a Indonésia lança imunizante contra covid • Novo estudo sobre impactos do aquecimento na vida marinha •
Publicado 29/09/2022 às 11:40 - Atualizado 29/09/2022 às 15:56
A médica Carissa Etienne encerrou seu mandato de 10 anos à frente da Organização Pan-Americana de Saúde com a apresentação do Relatório Quinquenal da Gestão 2018-22, que marcou a 30ª Conferência Sanitária Pan-Americana, realizada em Washington. O documento aponta: caiu em 2,9 anos na expectativa de vida na população das Américas. Na América do Norte, a redução foi menor, de 1,8 ano, ainda que tenha concentrado 55% dos casos. Os três subcontinentes que conformam a região totalizaram 177 milhões de infecções e 2,8 milhões de mortes em números oficiais e também registraram retrocessos no combate a outras doenças. O relatório ainda revelou impressionantes 2,4 milhões de infecções e 13 mil mortes de profissionais de saúde por conta do coronavírus.
Organização relata impactos da covid e avanços em saúde…
O relatório destaca impactos e retrocessos socioeconômicos causados pela pandemia de covid-19 — mas também relata experiências positivas na produção de mecanismos de solidariedade social através das políticas em saúde. O relatório, que pode ser lido em inglês aqui, também apresenta programas de desenvolvimento de equipamentos de saúde em países da América Central e Caribe e o esforço em combater doenças como malária, tracoma, filariose linfática, chagas, entre outras.
Fiocruz aponta resultados dramáticos do negacionismo vacinal
A campanha antivacinas continua a produzir efeitos devastadores. Segundo dados do ministério da Saúde, menos de 3% dos menores de 5 anos se vacinaram contra a covid. E o efeito é imediato: mais de 5 mil crianças foram internadas no primeiro semestre deste ano. Só entre 14 de agosto e 10 de setembro, foram 678 internações, segundo o Portal da Fiocruz. Recentemente, o ministério liberou a vacinação para bebês de seis meses a dois anos. De toda forma, a falta de ímpeto do governo em incentivar a vacinação e o conspiracionismo fundamentalista — neste caso em escala global — já produzem estragos que em alguns casos serão irreversíveis: cerca de 2000 crianças morreram de covid no Brasil.
A cada dia, uma criança morre desnecessariamente por covid
E a cobertura vacinal de diversas outras doenças tem caído vertiginosamente, de acordo com os próprios dados oficiais. “A cada dia que passamos sem vacinas aplicadas nessa faixa etária, mais de uma criança morre por Covid-19 no Brasil”, afirma Cristiano Boccolini, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz.
Imunizante contra zika vírus avança
Pesquisadores divulgaram, na revista Microbiology Spectrum, vinculada à American Society for Microbiology (Sociedade Americana de Microbiologia), dados iniciais de pesquisa de uma nova vacina desenvolvida para combater o zika vírus, infecção causada pelo Aedes Aegypti que tem como pior sequela a hidrocefalia em fetos. Como mostra matéria da Folha, eles desenvolveram um imunizante com combinações reduzidas de carga celular do próprio zika, o que gerava condições para uma produção eficaz de anticorpos. O estudo se fez com camundongos, inclusive gestantes, e flagrou resultados favoráveis ao grupo de roedores vacinados, com proteção ao feto garantida. No Brasil, já há mais pessoas infectadas em 2022 do que nos anos anteriores. São praticamente 10.000 casos, ainda sem mortes. Mais um resultado direto da redução dos orçamentos em saúde pública e das equipes de atenção primária.
Indonésia desenvolve, com êxito, vacina contra covid
A Bio Farma, empresa estatal do país do sudeste asiático, em parceria com a Escola Bayley de Medicina da Universidade de Houston, conseguiu aprovar a Indovac, vacina anticovid desenvolvida para maiores de 18 anos. O laboratório entregará 20 milhões de doses ainda neste ano e outras 100 milhões até 2024. O imunizante também obterá o Certificado Halal, que se refere à liberação de produtos alimentícios, cosméticos ou farmacêuticos sem uso de componentes que firam os dogmas do Islã, haja vista que a Indonésia é o maior país de maioria islâmica do mundo. Honesti Basyir, executivo da estatal, destacou “a diminuição da dependência externa” no país que teve o maior índice de transmissão do vírus em 2021. A Indovac teve 80% da pesquisa para seu desenvolvimento realizada dentro do país, conforme informa a Reuters.
Pesquisadores estudam efeitos do aquecimento global na vida marinha
Um vídeo divulgado pela Fapesp apresenta resultados parciais de pesquisas — que contaram com participação de brasileiros — sobre os efeitos do aumento da temperatura das águas oceânicas em diferentes espécies marinhas. Na Universidade de Bremen (ALE), o biólogo Rodrigo da Costa Portilho-Ramos examinou amostras de corais de variados locais do planeta e constatou que a alteração da temperatura das águas e das correntes marítimas pode diminuir a carga de nutrientes que chega a esses organismos invertebrados, incapazes de se locomover. Outro biólogo, Guilherme Ortigara Longo, da UFRN, estuda as consequências do aquecimento das águas para os peixes de águas rasas, isto é, que vivem mais perto da superfície marinha. Ele constata duas coisas: o aquecimento provoca aumento do apetite e os força a se deslocarem para águas mais frias. Isso os faz encontrar espécies desacostumadas a lidarem com eles, novos predadores da região, o que altera o equilíbrio dos ecossistemas. O vídeo frisa que ainda faltam respostas sobre o que acontecerá com as espécies que vivem nas águas das regiões mais próximas da linha equatorial.
