Amamentação: Brasil quer mais regulação para fórmulas

• Brasil defende amamentação na OMS • Alzheimer e racismo • A doença pode ser transmitida entre humanos? • SUS digital exibirá nome social de transexuais • São Paulo sem cirurgia de prótese para as trans • Infecções agravam leishmaniose •

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O Brasil lidera uma iniciativa na Organização Mundial da Saúde (OMS) contra o marketing digital agressivo da indústria de alimentação infantil, informa matéria no site da Abrasco. Um relatório da OMS destaca que a falta de fiscalização e as estratégias comerciais digitais enganosas dessas empresas podem disseminar desinformação e prejudicar a saúde infantil ao desestimular a amamentação. O país propôs uma resolução para ser apreciada na Assembleia Mundial da Saúde, agendada para maio, que visa transformar o guia de controle de regulamentação do marketing digital de substitutos do leite materno, de 2023, em uma política pública vinculativa (e não sugestiva, como acontece hoje) para os países membros. O relatório da OMS destaca que a indústria se utiliza das redes sociais para disseminar práticas enganosas e reforçar mitos sobre a amamentação, impactando negativamente a confiança das mulheres. A aprovação da resolução, defendida pelo Brasil, é crucial para proteger a saúde pública, prevenindo o desmame precoce e o consumo de alimentos ultraprocessados por crianças.

Alzheimer: um medicamento que exclui negros?

O recente avanço do medicamento Leqembi, que demonstrou ser eficaz na desaceleração do Alzheimer, traz esperanças mas também controvérsias. Isso porque há dúvidas em relação à sua eficácia em pessoas negras: os estudos para verificar o quanto seu efeito é positivo foram feitos essencialmente com brancos, informa uma reportagem do Washington Post. A falta de representatividade é evidente: apenas 2,6% dos participantes a nível global eram negros. Na amostra estadunidense, essa população verificada representava apenas 4,5% nos EUA – eles são 13% daquela população. Há um motivo claro para a preocupação com a sub-representação de pessoas negras, e se refere a algo que a ciência ainda não conseguiu explicar. É que os níveis de amiloide, uma substância relacionada ao Alzheimer e na qual atua o Leqembi, eram mais baixos em pacientes negros em comparação com pacientes brancos. O amiloide é uma proteína que, em excesso, pode formar placas no cérebro, contribuindo para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Ainda não se sabe por que seus níveis não aumentam em pessoas negras, já que o cérebro humano não se difere de acordo com a cor da pele. Pesquisadores estão tentando entender se essas diferenças se dão devido a fatores genéticos, condições de saúde subjacentes, exposição ao racismo, ou outros elementos que podem influenciar a presença e acumulação de amiloide no cérebro.

A demência transmitida, em casos raros

Um outro estudo, noticiado pelo Guardian, aborda o Alzheimer. Ele sugere que a doença pode ser transmitida entre humanos em casos raros de acidentes médicos, nos quais algumas pessoas que receberam hormônio do crescimento humano de doadores falecidos desenvolveram a doença. A contaminação desses hormônios com proteínas que desencadeiam a doença é considerada a causa, ocorrendo em casos raros e específicos de inoculação acidental de tecido humano. A pesquisa indica que pode haver similaridades entre o Alzheimer e doenças priônicas, como a doença de Creutzfeldt-Jakob. Os especialistas destacam com firmeza que o Alzheimer não é transmitido por atividades cotidianas, como acontece com os vírus – apenas em casos extremamente raros. O estudo analisou ocorrências entre 1959 e 1985, quando alguns pacientes receberam hormônio do crescimento humano contaminado, e destaca a relevância histórica desses casos para a compreensão da doença.

Nome social de pessoas trans no Meu SUS Digital

O Ministério da Saúde anunciou uma atualização no aplicativo Meu SUS Digital para que mostre o nome social de pessoas trans como nome principal. Trata-se de uma medida que faz parte do conjunto de mudanças que o Ministério da Saúde busca promover para garantir o acesso à saúde dessa população. A novidade, revelada pela ministra Nísia Trindade em homenagem aos 20 anos da Visibilidade Trans, estende-se também ao Prontuário Eletrônico do Cidadão, acessado por usuários, gestores e profissionais da saúde. Nísia destacou a importância de ouvir as vozes das pessoas trans e enfatizou que a iniciativa é parte de um processo contínuo de melhoria. Futuramente, a exibição do nome social será expandida para certificados de vacinação e a Carteira de Vacinação Digital. A atualização reflete a busca por inclusão e respeito, promovendo a integralidade no acesso à saúde para a população trans. “A ministra sempre reitera que essa é uma das grandes prioridades de sua gestão, a equidade de gênero e a valorização das pessoas trabalhadoras em sua diversidade”, garantiu Alícia Krüger, assessora de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Ministério, em entrevista ao Outra Saúde.

São Paulo deixou de fazer cirurgia de redesignação sexual

O estado de São Paulo não faz cirurgias de prótese mamária de silicone para pessoas transexuais desde 2019, e cita a paralisação de procedimentos eletivos devido à pandemia de coronavírus como motivo para essa interrupção. A Secretaria estadual de Saúde afirma que há discussões em andamento para retomar o serviço, mas ainda não há previsão. Também alega que está priorizando as cirurgias eletivas mais urgentes, na tentativa de zerar a fila de procedimentos. Dados do Ministério da Saúde revelam que, entre 2014 e 2019, São Paulo foi o segundo estado que mais realizou o procedimento, com o total de 19 cirurgias. Segundo levantamento da Folha, apenas 8 das 27 unidades da Federação realizam cirurgias de redesignação sexual pelo SUS – o procedimento faz parte do chamado processo transexualizador, disponível no SUS.

A leishmaniose agravada

Pesquisas brasileiras sugerem que infecções simultâneas por vírus e bactérias podem agravar as lesões causadas pela leishmaniose cutânea, uma doença parasitária transmitida por mosquitos flebotomíneos. Segundo matéria da revista Pesquisa Fapesp, estudos indicam que a presença desses patógenos aumenta a inflamação provocada pelo parasita, dificultando o controle pelo sistema imunológico. Em casos não tratados, as lesões podem resultar em desfiguração. A imunologista Camila Farias Amorim destaca que a resposta inflamatória exacerbada das células imunes dos pacientes contribui para a ulceração da pele. A presença da bactéria Staphylococcus aureus nas lesões também foi observada, retardando ainda mais o processo de cura. Além disso, estudos apontam a influência de um vírus em simbiose com o parasita na gravidade da doença cutânea. “Existem drogas aprovadas nos Estados Unidos que bloqueiam a ação da IL-1β em doenças autoinflamatórias, como alguns tipos de artrite e gota. Poderíamos testá-las em pacientes, além de adotar terapias antibacterianas ao lado do tratamento antiparasitário”, defende Amorim. A leishmaniose é considerada uma doença negligenciada – em geral, não lucrativa o suficiente para que a indústria farmacêutica se interesse em buscar tratamentos.

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