Em Havana joga-se o futuro da Colômbia

Governo e guerrilhas parecem aceitar, finalmente, a paz. Reivindicada há muito pela sociedade, ela precisa assegurar terra aos camponeses

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Por Héctor Alonso Moreno, em Caja de Herramientas | Tradução: Daniela Frabasile

Desde que o presidente da Colômbia, José Antonio Santos, anunciou as negociações de paz com as FARC, manifestou-se uma opinião favorável a uma saída do conflito armado através de negociações. O presidente afirmou que as portas para negociar a paz não estavam fechadas, condicionando qualquer aproximação com as FARC à entrega de todos os reféns sequestrados e ao abandono dos atos terroristas. Nesse sentido, o governo vem fazendo declarações positivas frente à possibilidade de uma saída negociada. São expressões que podem significar a construção de um cenário favorável de paz. O presidente Santos já havia manifestado, no início de seu mandato, que “a porta do diálogo não está trancada. Espero, durante meu governo, plantar as bases de uma verdadeira reconciliação entre os colombianos… Aos grupos armados ilegais que invocam razões políticas e hoje falam outra vez em diálogo e negociação, digo que meu governo estará aberto a qualquer conversação que busque acabar com a violência, e à construção de uma sociedade mais próspera, igual e justa”.

O que Santos apresentou na televisão, ao confirmar as reuniões pela paz em Havana, são os postulados básicos do governo para começar as negociações. De sua parte, a guerrilha vem estabelecendo seus pontos de vista através de comunicados, e também é favorável ao processo. Assim manifestou o recém-eleito Comandante das FARC, Alfonso Cano, em uma longa entrevista publicada ao jornal espanhol Publico. O comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Alfonso Cano, disse então que com o esforço de “setores progressistas e democráticos” seria possível “iniciar conversações diretas, com horizontes certos” para a paz na Colômbia, “com qualquer governo”. Posição mantida, após a morte de Cano, por seu sucessor, Rodrigo Londoño, ou “Timochenko”.  De tal forma que essas movimentações são favoráveis e os meios de comunicação devem contribuir para formar uma massa crítica a favor do processo, pois seu papel é fundamental nessas ocasiões.

As guerrilhas parecem ter entendido que a guerra deixou de ser a opção para chegar ao poder na Colômbia. Timoleón Jiménez, comandante das FARC e outro sucessor de Alfonso Cano, afirmou que “nunca (…) enquanto organização político-militar estabelecemos que  nosso objetivo fosse tomar o poder depois de derrotar o Exército colombiano em uma guerra de posições”. Além disso, em um comunicado em que confirmaram a liberação dos últimos soldados e policiais em seu poder e anunciaram a suspensão do sequestro extorsivo, as FARC afirmaram: “por nossa parte, consideramos que não cabe mais a possibilidade de começar conversações… É hora de o regime pensar seriamente em uma saída diferente, que comece pelo menos com um acordo de regularização da confrontação e de libertação de prisioneiros políticos”.

Por outro lado, as pesquisas de opinião sobre o conflito político armado sugerem apoio à negociação. É o que revela uma das últimas pesquisas, de abril de 2012, realizada pela Ipsos Napoleón Franco, instituição registrada pelo Conselho Nacional Eleitoral. Perguntou-se aos colombianos sobre a atitude que deve ser tomada pelo governo em relação às FARC, após a liberação dos últimos dez oficiais que estavam em seu poder. “53% responderam que se deve buscar diálogos e negociar a paz com a guerrilha, enquanto 36% acreditam que o governo deve combater a guerrilha militarmente, até que ela se acabe completamente. Em novembro de 2011, essas mesmas opções obtiveram 47% e 48% de apoios, respectivamente”. Na mesma linha, o Centro Nacional de Consultoria (CNC) realizou uma pesquisa divulgada em agosto de 2012, na qual 74,2% dos entrevistados apoiam um diálogo entre as partes.

Igualmente, a Fundação Ideias para a Paz realizou um estudo entre janeiro e março de 2012 consultando mais de trinta líderes de empresas no país e cerca de dez executivos de multinacionais sobre as possibilidades de uma negociação com as guerrilhas. Esses líderes expressaram seu apoio total às conversações e o apoio a um cessar fogo. De modo interessante o estudo também mostra que os empresários manifestaram sua disposição de aprovar um imposto especial, com a finalidade de contribuir economicamente com as políticas de consolidação da paz na Colômbia.

Em conclusão, pode-se afirmar que vários fatores ajudam a gerar expectativas sobre o processo de paz. A mudança de tom no discurso presidencial, que deixou de lado a estigmatização dos oponentes e dos defensores da solução negociada e dos direitos humanos; o reconhecimento  – mesmo que parcial – das vítimas e da dívida social com os camponeses, traduzido na adoção da chamada Lei de Vítimas e Restituição das Terras; a persistente atividade de diferentes setores sociais em busca de alternativas para fechar o capítulo da guerra civil por meio de negociação política; as declarações dos comandantes da guerrilha sobre sua disposição nos diálogos de paz e a mudança na relação de forças a favor do Estado, e as supostas reuniões entre as partes em Havana, demonstram isso.

 

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